06/06/2025 - 22:25 | Atualizado em 06/06/2025 - 22:46
Justiça barra “aumento escondido” de R$ 4,4 mil para vereadores de Mirassol
A Justiça deu um basta no que muitos moradores de Mirassol d'Oeste (MT) chamaram de “vergonha com dinheiro público”. O juiz Juliano Hermont Hermes da Silva, da 2ª Vara da cidade, suspendeu a criação de uma “verba indenizatória” de R$ 4.450 por mês para cada um dos 11 vereadores. A decisão foi tomada depois de uma ação popular movida por dois cidadãos, Thiago Tenório Almeida e Amanda Gonçalves da Silva Palermo.
A tal verba, que foi aprovada pelos próprios vereadores e sancionada pelo prefeito Hector Alvares (União) no fim de maio, foi criada com a desculpa de cobrir gastos com atividades externas dos parlamentares. Mas, na prática, a Justiça entendeu que se tratava de um aumento salarial disfarçado — algo proibido por lei.
Na decisão, o juiz apontou que a nova lei apresentava vários sinais de irregularidade. Um deles era ligar o valor da verba ao reajuste dos salários dos servidores da Câmara, o que só se aplica a vencimentos, e não a reembolsos. Outro problema é que o pagamento estaria ligado à presença dos vereadores nas sessões, reforçando ainda mais o caráter de salário, e não de ressarcimento por despesas comprovadas.
Outro ponto grave citado na decisão foi o acúmulo de vantagens. Mesmo recebendo a verba mensal, a lei ainda permitia que os vereadores tivessem as passagens pagas quando viajassem para fora do Estado, o que foi visto como um gasto duplicado.
O juiz também destacou a falta de planejamento financeiro. Pela Lei de Responsabilidade Fiscal, toda despesa nova e contínua precisa ter estimativa de impacto no orçamento, além de comprovar que cabe nas metas fiscais. Nada disso foi feito.
Segundo dados do Portal da Transparência, a Câmara gastava em média R$ 70 mil por ano com diárias. Já a nova verba, se fosse mantida, custaria mais de R$ 587 mil por ano, ou mais de R$ 2,3 milhões até o fim do mandato — quase oito vezes mais do que o gasto atual.
O juiz então determinou, em caráter liminar (urgente), a suspensão imediata dos pagamentos, protegendo o dinheiro público até o fim do processo. A decisão foi vista como um duro golpe contra práticas que escondem aumentos salariais com nome bonito e reforça o poder do povo na hora de cobrar os políticos.
Protestos e revolta da população
A aprovação da “verba indenizatória” gerou revolta. A sessão, realizada no dia 12 de maio, foi marcada por gritos de “vergonha” e vaias da população que lotou a Câmara para protestar.
Veja quem votou a favor da verba:
Adriano Tete (PL)
Elias Lopes (MDB)
Elton César Marques (PRD)
Euclides Paixão (PRD)
Joselias Galdino (União)
Luciana Schiavo (Republicanos)
Pedro Henrique Gomes (PL)
Reginaldo de Souza (PP)
Robson Chagas (PP)
Se absteve (não votou nem contra, nem a favor):
Pedacinho (União)
Hoje, cada vereador recebe R$ 7.445,83 de salário, e o presidente da Câmara recebe R$ 9.818,46. Com a verba de R$ 4.450, os salários na prática subiriam bastante, mesmo sem o nome “aumento” na proposta.
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