Jornal Oeste

A proposta de criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Feminicídio na Assembleia Legislativa de Mato Grosso naufragou após manobra política entre Executivo e Legislativo. O requerimento chegou a reunir 13 assinaturas, mas seis deputados governistas recuaram após articulação direta do Palácio Paiaguás. No lugar, foi costurada a instalação de uma comissão especial, considerada pelo deputado Fábio Garcia (União) “o instrumento legislativo adequado” para tratar do tema.

Mais incisivo, o governador em exercício Otaviano Pivetta (Republicanos) não escondeu a estratégia: “Toda CPI atrapalha trabalhos. Para nós que temos a intenção de produzir resultado, queremos o mínimo de paz para poder trabalhar”, disse, afirmando ainda que o governo é “intransigente” com a violência doméstica. A fala, no entanto, contrasta com a escalada dos crimes: entre janeiro e agosto de 2025, já são 31 mulheres assassinadas em Mato Grosso, segundo a Secretaria de Segurança Pública.

O Observatório Caliandra, do Ministério Público, aponta um cenário ainda mais grave: 35 feminicídios no mesmo período, sendo que cinco das vítimas tinham medida protetiva em vigor. O caso mais recente, em Sinop, escancarou o drama — a fonoaudióloga Ana Paula Abreu Carneiro, de 33 anos, foi morta com 18 facadas pelo companheiro. Diante das mortes que seguem aumentando, críticas crescem sobre a decisão de blindar o governo de uma CPI que poderia aprofundar as responsabilidades do Estado no enfrentamento ao feminicídio.