Jornal Oeste

Uma nova organização criminosa que surgiu em Mato Grosso com apoio de facção paulista foi desarticulada nesta quinta-feira (3) pela Polícia Civil, durante a Operação Yang. O grupo era formado por dissidentes e ex-integrantes expulsos de uma facção dominante no estado. O objetivo inicial era claro: eliminar os antigos aliados e tomar o controle de regiões estratégicas, como o município de Sorriso.
Segundo o delegado Antenor Pimentel Marcondes, os criminosos “desistentes” ou “expulsos” viam-se em uma encruzilhada: fugir do estado ou criar um novo grupo para se fortalecer. “Eles montaram uma facção de desistentes e, em algum momento, foram abraçados pela facção paulista. O objetivo era eliminar rivais e expandir território”, afirmou.
A atuação violenta resultou em aumento significativo de homicídios na região, conforme apontou a investigação conduzida pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) e Delegacia de Sorriso.
Estrutura hierárquica e códigos internos
O grupo funcionava com hierarquia rígida e tarefas bem definidas. Os membros utilizavam cargos como “Geral do Estado”, “Coringa Geral”, “Hórus”, “Missionário” e “Disciplina”, entre outros. Uma espécie de planilha interna chamada “Tabuleiro de Numerada” reunia nomes, vulgos, funções e aplicativos usados, permitindo controle total das operações e dos membros da organização.
A facção também se estruturava com estatutos, símbolos próprios e cartilhas com códigos de conduta e linguagem cifrada. A padronização tinha como finalidade fortalecer a coesão interna, expandir sua influência e confrontar facções rivais – principalmente aquela desarticulada em 2023 na Operação Recovery.
Práticas criminosas e rituais de violência
As conversas entre os integrantes revelaram práticas bárbaras, como planejamento de execuções, sequestros, tráfico de drogas e exibição de armamento. Havia também a difusão de vídeos de cadáveres de rivais como forma de intimidação e fortalecimento interno.
Além da atuação armada, o grupo também discutia proteção de familiares, disseminava ordens e planejava retaliações de forma coordenada, com forte comprometimento ideológico e operacional.
Prisões em oito estados
A Operação Yang resultou na prisão de 21 pessoas, em oito municípios brasileiros: Nova Canaã do Norte (MT), Cáceres (MT), Várzea Grande (MT), Santa Inês (MA), Belém (PA), São José dos Pinhais (PR), Osasco (SP) e São Paulo (SP).
As investigações continuam para identificar e responsabilizar outros envolvidos. A Polícia Civil reforça que o enfrentamento às facções criminosas exige cooperação entre estados e operações coordenadas com inteligência e firmeza.