Enquanto a Constituição assegura o acesso à educação como um direito fundamental, nas estradas de terra de Cáceres esse direito se esfarela entre buracos, atrasos e ônibus sucateados. O transporte escolar rural, que deveria garantir o acesso digno às escolas, tornou-se um pesadelo diário para centenas de estudantes e suas famílias.
Pane mecânica, atraso de horas, veículos sem cintos, bancos soltos, vazamentos de chuva e rotas intransitáveis compõem o retrato de um sistema falido — invisibilizado pela gestão pública e denunciado pela população, especialmente das regiões mais afastadas.
🚍 Denúncias do campo: crianças em casa quase às 22h
Em abril de 2024, mães do Distrito de Vila Aparecida denunciaram um cenário alarmante: alunos chegando em casa às 22h, após o ônibus escolar apresentar falhas e ficar parado por horas na zona rural. “Meus filhos vão pra escola com medo. Eu nunca sei se vão conseguir voltar no mesmo dia”, relatou uma moradora à imprensa local.
Relatos se multiplicam: embreagens quebradas, pneus carecas, goteiras durante o período chuvoso e ausência de cintos de segurança tornam cada viagem um risco — e cada aula, uma incerteza.
⚙️ Veículos sobrecarregados, manutenção insuficiente
O município opera aproximadamente 75 rotas com 80 veículos, muitos deles circulando em regiões de difícil acesso. Apesar de promessas de manutenção constante, os problemas persistem, e o número de reclamações só cresce.
A população cobra transparência: não há divulgação pública sobre os contratos com oficinas, peças trocadas, nem dados de quilometragem rodada ou controle de tacógrafos. A sensação de abandono se alastra, enquanto o silêncio do Executivo alimenta a indignação.
📑 Câmara exige ação: mais ônibus, mais controle
Entre dezembro de 2024 e o primeiro semestre de 2025, a Câmara Municipal intensificou as cobranças. Requerimentos e indicações aprovados exigem:
- Ampliação da frota nas rotas rurais.
- Relatórios de manutenção por veículo.
- Informações completas sobre contratos com oficinas mecânicas.
Segundo os vereadores, o transporte escolar está sendo tratado com negligência. Os repasses do FNDE não estão sendo acompanhados com o rigor necessário, e a falta de planejamento compromete diretamente o calendário escolar.
“Tem criança perdendo o ano letivo por falta de transporte. Isso é uma violação grave do direito à educação. Não podemos aceitar que isso continue invisível”, alertou um parlamentar durante sessão ordinária.
📉 Impacto direto na aprendizagem: evasão e medo
Especialistas apontam que a precariedade do transporte aumenta os índices de evasão, especialmente no Ensino Fundamental II. Entre meninas e estudantes com deficiência, o efeito é ainda mais cruel, criando barreiras invisíveis mas concretas para o acesso à escola.
Além disso, a insegurança é real e presente: ônibus superlotados, sem equipamentos básicos de segurança, circulam em estradas de chão, estreitas, mal sinalizadas e praticamente sem fiscalização.
📢 O que falta? Prioridade, fiscalização e respeito
O transporte escolar rural de Cáceres exige investimentos urgentes, uma gestão verdadeiramente comprometida e fiscalização cidadã. A Câmara iniciou um passo importante ao cobrar explicações, mas o Executivo ainda não apresentou os dados exigidos.
Associações de pais, conselhos escolares e a própria comunidade devem pressionar por soluções. Porque o direito à educação não começa na sala de aula, mas no trajeto até ela. E, em Cáceres, esse trajeto está virando uma armadilha.