A Justiça deu um basta no que muitos moradores de Mirassol d'Oeste (MT) chamaram de “vergonha com dinheiro público”. O juiz
Juliano Hermont Hermes da Silva, da 2ª Vara da cidade,
suspendeu a criação de uma “verba indenizatória” de R$ 4.450 por mês para cada um dos 11 vereadores. A decisão foi tomada depois de
uma ação popular movida por dois cidadãos, Thiago Tenório Almeida e Amanda Gonçalves da Silva Palermo.
A tal verba, que foi aprovada pelos próprios vereadores e sancionada pelo prefeito Hector Alvares (União) no fim de maio,
foi criada com a desculpa de cobrir gastos com atividades externas dos parlamentares. Mas, na prática, a Justiça entendeu que se tratava de
um aumento salarial disfarçado — algo proibido por lei.
Na decisão, o juiz apontou que
a nova lei apresentava vários sinais de irregularidade. Um deles era
ligar o valor da verba ao reajuste dos salários dos servidores da Câmara, o que só se aplica a vencimentos, e não a reembolsos. Outro problema é que o pagamento estaria ligado à presença dos vereadores nas sessões, reforçando ainda mais o caráter de salário, e não de ressarcimento por despesas comprovadas.
Outro ponto grave citado na decisão foi o
acúmulo de vantagens. Mesmo recebendo a verba mensal, a lei ainda permitia que os vereadores
tivessem as passagens pagas quando viajassem para fora do Estado, o que foi visto como um
gasto duplicado.
O juiz também destacou a
falta de planejamento financeiro. Pela
Lei de Responsabilidade Fiscal, toda despesa nova e contínua precisa ter
estimativa de impacto no orçamento, além de comprovar que cabe nas metas fiscais. Nada disso foi feito.
Segundo dados do Portal da Transparência,
a Câmara gastava em média R$ 70 mil por ano com diárias. Já a nova verba, se fosse mantida,
custaria mais de R$ 587 mil por ano, ou
mais de R$ 2,3 milhões até o fim do mandato — quase oito vezes mais do que o gasto atual.
O juiz então determinou, em caráter liminar (urgente), a suspensão imediata dos pagamentos, protegendo o dinheiro público até o fim do processo. A decisão
foi vista como um duro golpe contra práticas que escondem aumentos salariais com nome bonito e
reforça o poder do povo na hora de cobrar os políticos.
Protestos e revolta da população
A aprovação da “verba indenizatória” gerou revolta. A sessão, realizada no dia 12 de maio,
foi marcada por gritos de “vergonha” e vaias da população que lotou a Câmara para protestar.
Veja quem votou a favor da verba:
- Adriano Tete (PL)
- Elias Lopes (MDB)
- Elton César Marques (PRD)
- Euclides Paixão (PRD)
- Joselias Galdino (União)
- Luciana Schiavo (Republicanos)
- Pedro Henrique Gomes (PL)
- Reginaldo de Souza (PP)
- Robson Chagas (PP)
Se absteve (não votou nem contra, nem a favor):
Hoje,
cada vereador recebe R$ 7.445,83 de salário, e o presidente da Câmara recebe R$ 9.818,46.
Com a verba de R$ 4.450, os salários na prática subiriam bastante, mesmo sem o nome “aumento” na proposta.