Notícias / Saúde
19/05/2025 - 21:49 | Atualizado em 19/05/2025 - 22:52
Exame com rastreamento ocular promete revolucionar diagnóstico precoce do autismo
Tecnologia criada com participação de neurocientista brasileiro detecta sinais de TEA em apenas 15 minutos e já é usada em centros especializados nos EUA
Reprodução
Um novo exame aprovado nos Estados Unidos está transformando o diagnóstico precoce do transtorno do espectro autista (TEA) em bebês. Utilizando tecnologia de rastreamento ocular, o procedimento detecta sinais do espectro em crianças a partir de 1 ano e 4 meses até os 2 anos e meio — com resultados prontos em apenas 15 minutos.
Desenvolvido com a participação do neurocientista brasileiro Ami Klin, diretor do principal centro de tratamento de autismo dos EUA, em Atlanta, o exame funciona de forma simples: a criança assiste a 14 vídeos curtos enquanto câmeras monitoram o movimento dos olhos. O sistema identifica padrões típicos e atípicos de atenção, fornecendo uma análise em tempo real.
“Crianças neurotípicas prestam atenção nas expressões emocionais. Já as com autismo estão observando, por exemplo, a portinha do carrinho abrir e fechar”, explica Klin.
A inovação chega para reduzir drasticamente o tempo de diagnóstico, que atualmente pode levar de dois a três anos nos Estados Unidos — um atraso que, segundo especialistas, compromete o início de intervenções fundamentais. “Quando o diagnóstico vem tarde, o que se trata são as consequências do autismo sem intervenção, como atrasos na linguagem e no desenvolvimento intelectual”, alerta Klin.
Aprovado pelo FDA (agência reguladora americana) em agosto de 2023, o exame já está disponível em 47 centros especializados nos EUA e atende cerca de 5.800 crianças por ano. Para ampliar o alcance, duas vans foram transformadas em clínicas móveis, levando o teste a comunidades distantes ou carentes.
O custo da tecnologia gira em torno de US$ 7 mil por equipamento, com cada exame custando US$ 225. Em alguns estados, como a Geórgia, já há planos de saúde que cobrem o procedimento. A chegada ao Brasil ainda depende da aprovação da Anvisa e outros órgãos reguladores.
Caso real: um novo olhar para o futuro
Antes mesmo da aprovação do novo exame, a pequena Linqay, hoje com seis anos, recebeu o diagnóstico tradicional aos dois. A espera pelo resultado levou três meses — um período difícil para sua mãe, Tiffany Glenn.
“Fiquei ansiosa e até um pouco deprimida. Como mãe, pensei que algo poderia ser minha culpa. Mas depois aprendi mais sobre o autismo e entendi que não era por aí”, relata.
Atualmente, Linqay faz terapia ocupacional, fonoaudiologia e participa de um programa intensivo de desenvolvimento. Ela refaz o exame com rastreamento ocular todos os meses, como forma de acompanhar seu progresso.
“O futuro da minha filha vai ser brilhante. Ela tem uma personalidade incrível. Já penso em faculdade, casamento, tudo aquilo que um dia duvidei. Hoje, sou muito grata”, diz Tiffany, emocionada.
Autismo não é uma doença, diz especialista
Para Ami Klin, é fundamental desconstruir estigmas. “O autismo não é uma doença, é uma variação genética — uma forma diferente de estar no mundo. Assim como há pessoas com diferentes cores de cabelo, há diferentes formas de perceber e reagir ao mundo”.
A nova tecnologia representa não apenas um avanço técnico, mas um passo importante rumo a diagnósticos mais rápidos, tratamentos mais eficazes e maior inclusão para crianças com TEA.