O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que cães de suporte emocional não têm o mesmo direito dos cães-guia de permanecer com seus tutores na cabine de aviões, tanto em voos nacionais quanto internacionais. A decisão gerou discussão, já que, para muitos especialistas, esses animais não são apenas uma companhia, mas uma parte fundamental no tratamento emocional e psicológico de quem sofre com transtornos mentais.
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O cão de suporte emocional é um animal que oferece apoio, conforto e segurança emocional para pessoas com desordens mentais e psíquicas, como ansiedade, depressão, pânico e transtorno do estresse pós-traumático”, afirma a psicóloga Leticia Oliveira. Segundo ela, o vínculo constante com o animal ajuda a pessoa a manter o equilíbrio emocional no dia a dia.
Essa indicação normalmente ocorre quando os tratamentos tradicionais, como medicação e psicoterapia, não estão dando os resultados esperados. “
Quando percebemos que a pessoa tem uma necessidade de vínculo e insegurança persistente, e os tratamentos já em andamento não estão surtindo o efeito desejado, podemos considerar o cão como parte do cuidado”, completa Letícia.
O contato com o animal gera impactos positivos no corpo e na mente. “
Interagir com um cão pode aumentar os níveis de ocitocina, chamado comumente por ‘hormônio do amor’, e reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse”, explica o psicólogo e neurocientista Julio Peres.
Ele cita o caso de um paciente de 30 anos com depressão severa, que se recusava a sair de casa. “
Depois que adotou um cão, ele começou a caminhar com o animal e, com o apoio da psicoterapia, voltou aos poucos a ter outros comportamentos saudáveis”.
Além do apoio emocional, o ato de cuidar do animal também ajuda na saúde mental. “
A gente foca, se preocupa, se responsabiliza. Isso tira o foco de outras questões que nos deixam ansiosos. E, claro, o carinho e a sensação de pertencimento ajudam na autorregulação emocional”, diz Letícia.
Julio reforça que a presença do animal também pode ajudar quem tem dificuldade de socialização. “
Cuidar é prover e receber afeto. Um cão amigo amará seu dono incondicionalmente, e isso faz uma imensa diferença na recuperação emocional”.
Acompanhamento é essencial
Mesmo com todos os benefícios, os profissionais alertam: o cão de suporte emocional não substitui o tratamento médico. A psicóloga Alessandra Demite, professora da Universidade São Judas, destaca que é preciso acompanhamento contínuo para avaliar se o animal está realmente ajudando.
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Fazemos sessões semanais ou quinzenais para analisar o impacto do cão nos sintomas. Se não houver melhora, podemos repensar a indicação ou incluir outras formas de terapia”, explica Alessandra.
Ela aponta que os principais efeitos observados em pacientes com apoio de cães de suporte emocional são:
- Redução da ansiedade
- Melhora do humor
- Aumento da socialização
- Mais estabilidade emocional
- Maior autoconfiança
Mas nem todos respondem da mesma forma. “
Alguns pacientes podem se sentir sobrecarregados com os cuidados exigidos por um animal. Os resultados dependem muito do vínculo criado com o cão e do suporte da família e da equipe terapêutica”, completa a especialista.