18/04/2025 - 21:27
Padre Nazareno Lanciotti é proclamado beato por Papa Francisco após 23 anos de seu assassinato
Missionário atuou no Mato Grosso e foi morto após denunciar crimes como tráfico e exploração de menores
Por Anna Virginia Balloussier
Reprodução
O padre Nazareno Lanciotti foi proclamado beato pelo Papa Francisco, conforme os preceitos da Igreja Católica. A beatificação, oficializada nesta segunda-feira (14), é o passo anterior à canonização — quando alguém é reconhecido como santo.
Lanciotti foi assassinado em 2001, aos 61 anos, no Mato Grosso. Conforme noticiado pela Folha à época, ele levou um tiro no pescoço dentro da paróquia, cerca de uma hora após celebrar uma missa. Dois homens encapuzados teriam conduzido a ação, segundo informações da polícia. O padre chegou a ser transferido para São Paulo, onde ficou hospitalizado por mais de uma semana, mas não resistiu aos ferimentos.
Nascido na Itália, Lanciotti chegou ao Brasil no início dos anos 1970. Atuou principalmente em Jauru (MT), onde seu nome hoje batiza uma avenida. Fundador da Paróquia Nossa Senhora do Pilar, criou 57 comunidades eclesiais, além de escolas e centros comunitários de saúde. Seu trabalho pastoral também incluiu denúncias contundentes contra o tráfico de drogas, a exploração de menores e esquemas de prostituição na região.
Segundo a Arquidiocese de Cuiabá, ao confrontar “interesses escusos”, o padre tornou-se alvo de perseguições e intimidações. Sua atuação firme e corajosa é considerada um dos principais motivos de seu assassinato, cuja investigação, até hoje, permanece inconclusiva.
“Ele é um padre bastante conhecido no campo da Igreja Católica, fez várias atividades no Mato Grosso”, afirma o antropólogo Rodrigo Toniol, da UFRJ. Para ele, o caso de Lanciotti tem semelhanças com o da irmã Dorothy Stang, assassinada em 2005 após denunciar crimes ambientais e fundiários no Brasil rural.
A beatificação de Lanciotti, segundo Toniol, evidencia “a capilaridade da Igreja Católica”, ainda muito presente em regiões do interior sul-americano. Ele acrescenta que o reconhecimento feito pelo Papa Francisco “é também um aceno político”.
No mesmo dia, o Papa também reconheceu as “virtudes heroicas” do arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852–1926), responsável pela igreja Sagrada Família, em Barcelona. Este é o primeiro estágio do processo de canonização, anterior à beatificação.