Quando o pai de Penny Ashford foi diagnosticado com Alzheimer em estágio inicial, aos 62 anos, ela sabia que um dia a doença poderia ameaçar sua própria memória. Na casa dos 50, Ashford começou a notar dificuldades em se expressar, perdendo palavras durante conversas cotidianas — um sinal que a levou ao desespero.
“Eu não conseguia contar uma história. Não conseguia expressar minhas palavras”, contou Ashford, hoje com 61 anos. “Lembro-me de estar sentada em um jantar uma vez, e não conseguia completar meus pensamentos. Foi um momento inacreditável”.
“Voltei para casa chorando e disse ao meu marido: ‘Há algo errado comigo. Não consigo falar’”, relembrou. “Eu estava petrificada”.
Mas essa história ganhou um novo rumo. Após adotar um estilo de vida saudável e participar de um estudo inovador, os sintomas de Ashford melhoraram drasticamente. Seus exames de biomarcadores cerebrais revelaram quedas expressivas nos níveis de proteínas associadas ao Alzheimer, como a amiloide, a tau e indicadores de neuroinflamação.
Ashford integra o estudo
BioRAND (Estudo de Biorepositório para Doenças Neurodegenerativas), que está revolucionando a forma de diagnosticar e acompanhar a demência por meio de exames de sangue, uma alternativa menos invasiva que as tradicionais punções lombares e exames cerebrais de alto custo.
Exames de sangue: o “colesterol do cérebro”
Apresentados recentemente na reunião da Academia Americana de Neurologia em San Diego, os dados preliminares do BioRAND envolvem 54 participantes em análise ativa e 17 no grupo controle. A pesquisa é conduzida por especialistas em cinco centros nos Estados Unidos e Canadá, sob liderança dos neurologistas Kellyann Niotis e Richard Isaacson.
Segundo Niotis, “o campo está principalmente usando vários biomarcadores para determinar se você tem demência ou não. Ninguém está realmente olhando para as mudanças nesses biomarcadores como uma forma de acompanhar o progresso na jornada de uma pessoa para melhorar seu cérebro”.
A proposta é tornar esses exames tão comuns quanto os testes de colesterol, ajudando na prevenção precoce e acessível. Isaacson afirma: “Nosso objetivo final é oferecer um painel de sangue a preço de custo para ajudar a democratizar o acesso e ampliar a capacidade das pessoas de receberem cuidados”.
O que esses exames realmente mostram
Os testes atuais medem níveis de amiloide e tau — proteínas centrais no desenvolvimento do Alzheimer. A proteína tau fosforilada (especialmente o p-tau217 e p-tau181) é um forte indicativo da presença precoce da doença. Além disso, marcadores como a GFAP (proteína glial fibrilar ácida) e a NfL (cadeia leve de neurofilamento) apontam inflamação e degeneração cerebral.
Testes combinados podem alcançar precisão de até 90% na identificação do Alzheimer em seus estágios iniciais, antes mesmo que os sintomas clínicos se manifestem com força.
Estilo de vida como ferramenta de reversão
No estudo, os 54 participantes receberam recomendações personalizadas de saúde, focadas em melhorar a função cerebral. As orientações abrangiam alimentação balanceada, controle da pressão arterial, rotina de exercícios, higiene do sono, redução do estresse, e ajuste de déficits hormonais e nutricionais.
Aqueles que seguiram pelo menos 60% dessas mudanças mostraram melhora nos biomarcadores cerebrais — e, consequentemente, na cognição.
Ashford, por exemplo, abandonou os doces, aderiu à dieta mediterrânea baseada em vegetais, iniciou um rigoroso programa de atividades físicas e passou a tomar suplementos sob supervisão médica.
“Recebi a palestra da minha vida”, disse ela. “Eles me disseram: ‘Sua janela está se fechando, seus marcadores estão muito ruins. Ou você faz isso, ou acabou’”.
Resultados transformadores
Os números falam por si:
- O p-tau 217 de Ashford caiu 43%
- O p-tau 181 teve uma queda de 75%
- A GFAP foi reduzida em 66%
- A NfL, em 84%
“Essas são mudanças realmente impressionantes nesses marcadores de saúde neuronal”, disse Niotis. “E a melhor parte é que realmente acompanharam seus sintomas clínicos. Seus problemas de recuperação de palavras melhoraram, e ela se sentiu muito melhor”.
Esperança para o futuro
Ashford não foi a única a apresentar melhorias. A maior parte dos participantes com alto engajamento no plano personalizado mostrou progresso, reforçando a eficácia das intervenções não medicamentosas.
“Perdi a conta de quantas pessoas mostraram marcadores sanguíneos de doença cerebral tendendo para a direção certa”, disse Isaacson. “As histórias dos pacientes, as melhorias clínicas e os resultados dos testes falam por si”.
Apesar do entusiasmo, ele alerta que ainda há muito a ser feito antes que esses testes se tornem rotina médica. Transparência sobre limitações e variações entre plataformas é essencial. Mas Ashford se considera grata por ter acesso a essas ferramentas.
“Estou tão orgulhosa de mim mesma. E cada sucesso que tenho me capacita a fazer mais, continuar e não desistir”, concluiu emocionada.
“Olho para trás e penso no meu pai. Ele não tinha nenhuma dessas opções. Eu vi meu pai se deteriorar, e agradeço a Deus, sou tão sortuda. Somos tão sortudos”.