Notícias / Politica

26/03/2025 - 21:27

Ex-presidente e aliados se tornam réus por crimes contra a democracia

Supremo aceita denúncia contra Bolsonaro e sete aliados por tentativa de golpe

Por Agência Brasil

Brenno Carvalho - Agência O Globo

Brenno Carvalho - Agência O Globo

Pela primeira vez na história, um ex-presidente eleito foi colocado no banco dos réus por crimes contra a ordem democrática estabelecida pela Constituição de 1988. Os crimes estão previstos nos artigos 359-L (golpe de Estado) e 359-M (abolição do Estado Democrático de Direito) do Código Penal brasileiro.
 
"Não há então dúvidas de que a procuradoria apontou elementos mais do que suficientes, razoáveis, de materialidade e autoria para o recebimento da denúncia contra Jair Messias Bolsonaro", afirmou o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), referindo-se à acusação apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
 
O relator votou para que Bolsonaro também responda, na condição de réu, pelos crimes de organização criminosa armada, dano qualificado pelo emprego de violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas ultrapassam 30 anos de prisão.
 
Os ministros Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma do STF, seguiram o relator. O colegiado, composto por cinco dos 11 ministros do Supremo, também decidiu, por unanimidade, tornar réus sete aliados de Bolsonaro pelos mesmos crimes.
 
A Primeira Turma considerou haver indícios suficientes de que os crimes ocorreram (materialidade) e foram praticados pelos denunciados (autoria), justificando a abertura da ação penal. Os oito acusados fazem parte do chamado "núcleo crucial" do golpe, dentro do grupo de 34 denunciados.

São eles:
  • Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
  • Walter Braga Netto, general do Exército, ex-ministro e ex-candidato a vice-presidente;
  • General Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
  • Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal;
  • Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
  • Paulo Sérgio Nogueira, general do Exército e ex-ministro da Defesa;
  • Mauro Cid, delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
 
No primeiro dia de julgamento, as defesas dos acusados negaram a autoria dos crimes e alegaram dificuldades no acesso aos materiais da denúncia, o que, segundo eles, teria prejudicado a ampla defesa. O advogado Celso Vilardi, que representa Bolsonaro, afirmou: "Esperamos que tenhamos a partir de agora uma plenitude de defesa, o que não tivemos até agora".
 
Gonet, por sua vez, reiterou que os atos golpistas foram planejados ao longo de anos, iniciando-se em 2021 com ataques ao sistema eleitoral e culminando nos atos violentos de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília.
 
Com a aceitação da denúncia, os oito acusados passam a responder formalmente à ação penal no STF. A fase seguinte permitirá que as defesas apresentem testemunhas e novas provas. Após a instrução processual, o julgamento será marcado, e os ministros decidirão se os réus serão condenados ou absolvidos. Não há previsão para a conclusão do julgamento, e os acusados responderão em liberdade até o trânsito em julgado.
 
Durante os votos, os ministros ressaltaram a gravidade dos atos de 8 de janeiro. Cármen Lúcia destacou que "um golpe não se faz em um dia" e que a investigação deve analisar os eventos que antecederam os ataques. Já Zanin afirmou que os documentos e depoimentos coletados indicam a participação dos acusados nos atos golpistas.
 
A PGR sustenta que Bolsonaro tinha conhecimento do plano intitulado "Punhal Verde Amarelo", que incluía ações para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. O ex-presidente também teria ciência da chamada "minuta do golpe", documento que detalhava medidas para interromper a transição de poder.
 
Moraes afirmou não haver dúvidas sobre o envolvimento de Bolsonaro. "Não há dúvida que o denunciado Jair Messias Bolsonaro conhecia, manuseava e discutiu sobre a minuta de golpe", destacou o ministro.
 
Durante o julgamento, Moraes utilizou vídeos e tabelas para rebater as defesas, apresentando provas documentais coletadas pela Polícia Federal. Ele destacou que o julgamento não condena os acusados, mas abre a ação penal para análise detalhada das acusações.
 
Na terça-feira (25.3), Bolsonaro compareceu de surpresa ao STF para acompanhar a sessão. No dia seguinte, assistiu à votação no gabinete de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro. Os ministros rejeitaram pedidos das defesas para anular a delação premiada de Mauro Cid e questionamentos sobre a imparcialidade dos julgadores.

Comentários

inserir comentário
2 comentários

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Jornal Oeste. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Jornal Oeste poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

  • por Luiz , em 27.03.2025 às 10:00

    Um crime que só existe na cabeça dos acusadores, o golpe que não aconteceu, aliás o mesmo que acusa se diz vítima, investiga, julga e condena. Fato, o ex presidente autoriza a passagem de comando ao próximo presidente um mês antes da posse, e oito dias depois quer dar um golpe de Estado? Sem apoio das forças armadas, sem armas, não sei aonde viram "organização criminosa armada" e o Bolsonaro fora do país. Usaram bem a criatividade como pediu moraes, absurdo atrás de absurdo! Aí eu pergunto, teve mensalão, petrolão, máfia dos correios, triplex, sítio de Atibaia, lista de propinas da Odebrecht, propinas da Friboi etc, etc, etc...? Qualquer pessoa inteligente sem viés político sabe que não teve golpe, como já vimos vários especialistas na área apontando erros grosseiros no processo, inclusive ex ministro do STF, ameaça ao delator depois de onze depoimentos diferentes. Enfim vamos ver até onde vai esse teatro.

  • por Juca pantaneiro , em 26.03.2025 às 22:47

    Alguém tinha dúvida. Assim como Sérgio Moro fez com Lula estão fazendo com o Bozo. Não estou escrevendo que ambos são inocentes. Longe disso , mas a presa sempre vai deixar rastro pra ser anulado no futuro. Faz um teatro desse , gasta milhões em diárias e em breve nada tem validade. Collor de melo também já viveu essa mesma trajetória.

 
Sitevip Internet