A seca do Rio Paraguai, em Cáceres, no Pantanal mato-grossense, tem causado impactos no turismo local, estendendo o período de suspensão das operações dos barcos-hotéis. Em anos anteriores, essa interrupção durava cerca de um mês; no entanto, em 2024, já chega a três meses, afetando a economia da região.
Segundo o capitão-tenente Magno Luis de Moura, comandante da Agência Fluvial de Cáceres, a situação tem tornado a navegação ainda mais difícil, especialmente para as grandes embarcações turísticas que já não conseguem mais atracar no Porto de Cáceres devido à falta de profundidade do rio – que sedia o maior festival de pesca esportiva do Brasil e a maior prova de pesca de água doce do mundo.
O comandante informou que a régua de medição do rio em Cáceres registra atualmente apenas 35 centímetros, uma das medidas mais baixas já registradas. “Essa medida é uma das mais baixas da história. No mesmo período do ano passado, o rio estava com mais de 70 centímetros no mesmo trecho” destacou. A seca tem provocado a formação de bancos de areia em trechos antes navegáveis, tornando a navegação cada vez mais perigosa e desafiadora. “Os condutores não conseguem mais navegar em locais onde antes se navegava com tranquilidade,” afirmou.
Devido a essa situação, a Marinha do Brasil tem emitido recomendações importantes para os condutores de embarcações na região. A principal orientação é navegar com velocidade reduzida para evitar acidentes causados pelos bancos de areia. Além disso, os condutores devem utilizar cartas náuticas atualizadas e ficar atentos ao balizamento estabelecido nas margens do rio. Para as embarcações menores, o uso de coletes salva-vidas é obrigatório, como ressaltou o comandante: “Todos devem estar portando o colete de salva-vidas”.
O empresário do ramo do turismo, Cleres Tubino, confirmou as dificuldades enfrentadas devido à seca, mas ressaltou que o setor tem conseguido se adaptar. “O ciclo de seca severo igual o que nós estamos passando nos obriga a tomar opções e atitudes para poder resolver o problema e poder trabalhar”, explicou.
Segundo ele, as embarcações passaram a operar a partir de uma localidade chamada Santo Antônio das Lendas ou Fazenda Morrinhos, cerca de 80 quilômetros de Cáceres. “Deixamos de navegar na parte mais rasa do rio, que é um trecho de uns 100 km de Cáceres, e estamos embarcando os clientes a uma distância que a gente vai por terra,” afirmou Cleres, acrescentando que essa mudança, embora tenha aumentado os custos operacionais, permitiu que as atividades turísticas continuassem.
Devido a essa situação, a Marinha do Brasil tem emitido recomendações importantes para os condutores de embarcações na região — Foto: Esdras Crepaldi
Tubino destacou que essa não é a primeira vez que o setor precisa se ajustar às condições do rio. “Estamos há quase 10 anos tendo que em algum momento embarcar nesse local, porque essa seca é característica também desse nível de água do tramo norte do Rio Paraguai, que é uma área mais rasa por ser uma área mais de cabeceira.”
Ele explicou que o trecho entre o Porto Morrinhos e Cáceres apresenta pontos rasos, conhecidos como travessios, que impedem a passagem de embarcações de maior porte, especialmente durante períodos de seca severa. “Ano passado nós ficamos operando na fazenda por menos de 30 dias, e este ano já estamos lá há três meses,” afirmou.
Apesar dos desafios, o empresário afirmou que a operação turística tem continuado, ainda que em condições mais difíceis. “Hoje, praticamente, não tem nenhuma embarcação saindo do Porto de Cáceres mais. As maiores, se não me falha a memória, já tem em torno de dois meses que não estão conseguindo navegar por aqui.”
A principal orientação é navegar com velocidade reduzida para evitar acidentes causados pelos bancos de areia — Foto: Esdras Crepaldi
Ele também destacou que, mesmo com o impacto da seca, as pousadas e hotéis à beira do rio têm mantido uma taxa de ocupação alta. “Elas estão bem, com taxa de ocupação bem alta. Apesar dos pesares, a gente tem conseguido trabalhar.”
Cleres Tubino ressaltou que, apesar da seca, o turismo de pesca esportiva continua atraindo visitantes. “Nossa empresa opera com três barcos, e na região onde estamos praticamente todos os barcos estão fazendo embarques e desembarques a semana inteira.” Ele também mencionou que a lei estadual que protege o peixe contribui para um turismo mais sustentável. “As pessoas só podem usufruir da gastronomia local, não retiram mais o pescado do rio, e isso tem sido feito apesar dessa condição,” disse.
A seca do Rio Paraguai não só afeta a navegação e o turismo em Cáceres, mas também traz impactos econômicos.