30/03/2024 - 09:00
GOLPE DE 64: Exército monitorava Jango em Cáceres, para prendê-lo, relata pracinha
Por João Arruda/Jornal Cacerense
Jornal Cacerense
Neste domingo (31.03) o Golpe Militar de 1964, completará 60 anos quando o então presidente João Belchior Marques Goulart, foi deposto do cargo por militares das Forças Armadas do país.
Jango, como era tratado assumiu o cargo após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, ele ocupava a vice presidência da República.
Ao assumir Goulart estreitou laços com União Soviética ( atual Rússia), o quê contrariou os militares.
João Goulart, natural de São Borja, no estado do Rio Grande do Sul, era proprietário de duas fazendas em Cáceres, cidade onde visitava com frequência.
No ano de 1963, em duas ocasiões uma tropa do 2° Batalhão de Fronteira, fez incursões para efetuar a prisão de Jango, em ambas, conseguiram aprisionar o piloto, co-piloto e o mecânico da aeronave, um jatinho para 14 passageiros e à tripulação. Noutra apreensão ocorreu num campo de pouso de uma fazenda onde atualmente se situa o bairro do Junco, nesta somente o piloto foi detido passou um dia na prisão do Batalhão de Fronteira, sendo liberado.
Essas revelações feita à reportagem pelo ex pracinha do 2° Batalhão de Fronteira, Benedito de Moraes que ingressou no EB em Cáceres, no dia 13 de maio de 1962, sendo licenciado em 07 de agosto de 1963.
O ex soldado Moraes, apelidado de " Dito Pinto" em sua terra natal Poconé, relatou ter tomado parte das duas manobras cuja missão era prender o presidente João Goulart, porém não obtiveram êxito. Uma em abril de 1963 e à derradeira em julho desse mesmo ano.
Ao completar sua temporada que se encerraria em maio de 63, o comandante coronel Aldo de Souza Pinto, determinou que os 40 recrutas de um total de 250 , ficassem até segunda ordem.
Nessa determinação Benedito de Moraes e seu homônimo Benedito Paes de Arruda, foram os poconeanos escolhido para estender o tempo do Serviço Militar Obrigatório, por dois meses e 22 dias no quartel.
Aos 81 anos recém completados Dito Pinto, confessa que ele e seus camaradas recrutas não faziam a menor ideia da ebulição da política brasileira na ocasião. " Para nós jovens, era tudo farra, ficaríamos afamados se prendessemos o Jango", relata.
Ao deixar a caserna Benedito regressa a Poconé , na condição de reservista de primeira categoria, cidade onde permanece até os dias atuais, tendo exercido três mandatos eletivos de vereador pelo município e ocupou importantes funções na administração municipal da Cidade Rosa.
Na atualidade é mestre da cultura pantaneira, ativista do folclore com destacada atuação em todo Pantanal de Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul.
GOULART EM CÁCERES
Quando João Goulart , adquiriu junto ao pecuarista Vitório da Silva Lara ( já falecido) a Fazenda Uberaba, situada à margem direita da Baía Uberaba, na linha divisória com a Bolívia, a população civil de Cáceres, festejou à aquisição das terras.
Então criou se um movimento entre os fazendeiros para que as crianças do sexo masculino que nascessem (isso facultativamente) se chamassem João Goulart, uma maneira de demonstrar gratidão ao presidente Jango. Um dos exemplos é João Goulart de Souza, hoje com 61 anos, residente no bairro Maracanzinho, de acordo ele, seu padrinho e patrão do seu pai o pecuarista Benedito Profeta do Amaral, sugeriu e sua família acatou. Em Cáceres, há inúmeros registros de homens nascidos no início da década de 60 que foram registrados apenas com o apelido de Goulart, Jango. Como os gêmeos do Bairro Cavalhada Jango Benedito e Jango Francisco.
As visitas de Jango em Cáceres eram uma euforia, seu cunhado Paulo Fontelli, que administrava as fazendas no Pantanal, trouxe do Sul um gaiteiro chamado de " Nhô Chico " para animar as rodadas de chimarrão e de tereré na cidade.
Mas nem tudo era festa, já entabulando o pré golpe, os militares espionavam as pegadas de Goulart.
O vereador à época Walter Fidelis (PTB), apresentou à Câmara Municipal de Cáceres, uma indicação na qual propunha o título de Cidadão Cacerense para João Goulart em reconhecimento aos investimentos na Princesinha do Paraguai, de ampla composição conservadora à proposta foi derrotada por ampla maioria.
Fidelis, era paulista de Ibitinga, morou em Santos atuando como radialista, em 1954 veio para Mato Grosso com levas de migrantes que povoaram o Oeste do estado, ele com seus pais e tios estabeleceram na região do Panorama e Nova Canaã, hoje município de Lambari do Oeste.
Casou se com a cacerense Mary Cardoso Leal, tendo dois filhos cujos nomes homenageiam os dois avós Nestor e Geraldo , materno e paterno respectivamente.
Recém casado, foi eleito vereador por Cáceres e, mesmo jovem, com 26 anos, foi o candidato que recebeu mais votos. No início de abril de 1964, Walter Fidelis, ao chegar a Cáceres, vindo de Corumbá, pela companhia aérea Cruzeiro do Sul, aos pés da aeronave, foi recepcionado por uma patrulha do Exército, que o levou, compulsoriamente, ao quartel e lá, foi recebido pelo comandante do Batalhão de Fronteira, Austregésilo Homem de Mello, este também casado com uma cacerense, onde Fidelis foi aconselhado a renunciar seu mandato e mudar de cidade o mais rápido possível, sob pena de ser preso e perder direitos políticos . Sem vislumbrar alternativas à contra gosto o casal, terminou seu mandato em 1966 e ainda foi presidente do Rotary Club, vindo, depois, diante do fechamento do regime político, deixou Cáceres, fixando residência na capital paulista.
Em São Paulo, por ser muito amigo da família Vanini, esteve com as filhas do senhor José Vanini, entre elas, a Jane. Lá se dedica aos estudos formando advogado e, com a abertura política, no início dos anos 80, pode regressar a Mato Grosso, atuando na política onde se elegeu deputado estadual (1983/1986), foi Secretário Estadual de Trabalho e Desenvolvimento Social (1987/1988) e prefeito de Cáceres (1989/1992). Fidelis, falecido em agosto de 2016, com 80 anos, tem um Residencial que leva seu nome.
Para se ter uma idéia do rigor imposto pelo Regime Militar em Cáceres, ao pé da Ponte Marechal Rondon, lado esquerdo da margem do Rio Paraguai, a 80 quilômetros da dívisa com o território boliviano, o EB ergueu uma tranca com soldados armados e quem fissesse uso das duas rodovias federais BRs 070 e 174, tinham que obrigatoriamente se submeter à revistas minuciosas como se estivessem saindo do país. Na abertura democrática em 1985, a tranca foi removida em definitivo .
Comentários
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por Dias, em 01.04.2024 às 10:51
Essa tranca os bolivianos fazem até hoje. No Brasil entra e sai a hora que quiser sem nenhuma fiscalização.
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por Elismar, em 30.03.2024 às 21:31
Cáceres tem história, tradição e cultura própria de exploração, quem veio pra cá veio pra explorar, enriquecer e depois foram morar em Cuiabá e em outros lugares com os bolsos cheios de dinheiro, não se preocuparam em desenvolver a cidade, e hoje todos nós pagamos a conta e ainda admiramos muitos desses descendentes de exploradores.