Artigos / Airton Reis

30/08/2014 - 07:58

Bolero republicano

Raiz espanhola. Berço cubano. Balada do povo latino americano. Canção romântica do povo mexicano. Ritmo lento e cadenciado. “Bésame mucho”, interpretado por mais de um músico consagrado. Irmão do fado português. Bolero da vez. Bolero na voz de soprano em mais de uma apresentação. Bolero republicano em bis e refrão.

        Altemar Dutra e Nana Caymi. Pedro Vargas, Consuelo Velásquez e Luís Miguel. “Vereda Tropical”, na voz de
Ney Matogrosso. Influência no mambo, na salsa e no chá-chá-chá. Trompa, trombone e trompete. Piano e violão. Bombardino e bombardão. Tuba, clarim, corneta e pistão. Bolero para mais de uma ocasião.  Bolero quase samba canção. Bolero quase valsa. Bolero quase polca paraguaia. Bolero quase vanerão. Bolero quase xote. Bolero litoral. Bolero sertão.
       
 Bolero quase quadrilha de São João. Bolero dose de quentão. Bolero balão fumegante. Bolero postulante. Bolero eleitorado errante. Bolero ficha limpa. Bolero voto duvidoso. Bolero urna disputada. Bolero eleição acirrada. Bolero popularizado. Bolero de colarinho engomado. Bolero do morro dito pacificado. Bolero da saúde pública em agonia. Bolero da cidadania ignorada. Bolero da fome dita equacionada. Bolero do monte em energia explorada. Bolero da rodovia privatizada. Bolero da pátria amada em musical execução.
       
 Bolero da infância marginalizada. Bolero da maconha legalizada. Bolero da carteira assinada. Bolero da mulher espancada. Bolero da igualdade distanciada. Bolero do estudante baleado. Bolero do infante abandonado. Bolero da democracia obtusa em cantos mil. Bolero da pátria mãe nem sempre gentil. Bolero do Brasil eleitoral. Bolero do país continental. Bolero da corrupção institucional. Bolero dos dividendos do pré sal sem a garantida destinação.
        
Tocadas, tocas e tocaias ensaiadas. Toques e repicadas. Saias floridas. Anáguas engomadas. Terno de linho branco. Desencanto político. Destempero governamental. Dívidas em lastro federal. Classe social em ascensão. Bolsa família de geração em geração. Trabalho, emprego e renda: Bolero da escravidão. Bugalho, alho e contenda: Bolero da exclusão.

        Lágrimas de Evita sem Perón. Páginas de ribaltas e de bueiros. Tempestades depois dos nevoeiros. Brasileiras e brasileiros, distintos e distanciados. Brasileiras e brasileiros oriundos de Estados federados. Brasileiras e brasileiros, analfabetos e alfabetizados. Trocos e trocados. Taperas e palácios edificados. Trancas e tramelas. Mansões e favelas. Troncos das mesmas mazelas secularizadas em mais de uma região. Bolero da emergencial renovação. Bolero republicano em página de opinião. Bolero com fome e com sede de liberdade de expressão.

       Continuaremos cantar o mesmo bolero como a cigarra com o seu violão ou voaremos como a dona baratinha isenta de qualquer dedetização? Ainda é Inverno. Depois da Primavera, o Verão. Enquanto isso, que ouçamos o bolero republicano antes de qualquer confirmação.
Airton Reis

por Airton Reis

É poeta em Mato Grosso
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