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27/02/2010 - 00:00

Temporada de pesca começa com cheia no rio Paraguai

Clarice Navarro Diório Para o turismo de pesca, a cheia do rio Paraguai é um ponto positivo, apesar de ainda significar uma preocupação para a cidade de Cáceres, como alertam os bombeiros. A avaliação é do secretário de Turismo e Meio Ambiente do município, Luiz Mário Ambrósio Curvo. Segundo ele, o rio fica mais seguro para as embarcações, há uma maior proteção aos cardumes, que se espalham pelas baías – que, assim como as lagoas, ficam interligadas com o rio. “É claro que esse enfoque é para o setor de turismo. Entendemos que a cheia, que causou uma enchente provocou estragos nas estradas e na cidade e ocasionou problemas a muitas famílias. Mas para a pesca, o rio cheio é bom”. Ontem, o comandante do Corpo de Bombeiros em Cáceres, major Ramão Barbosa, afirmou que a situação do rio ainda preocupa. O nível continua em média vinte centímetros acima da cota de alerta, que é de 5,40 metros. Apesar das chuvas na região terem cessado nos últimos dias, elas continuam caindo em outras regiões, o que mantém a cheia. Segundo ele, há previsão de chuvas no decorrer de março e início de abril para a região. “Estamos alerta e monitorando a situação, especialmente em relação a moradores ribeirinhos”. Há uma semana, a prefeitura decretou estado de emergência no município e um primeiro levantamento aponta que serão necessários R$ 20 milhões para reparar os estragos. Ontem à noite a prefeitura deu início a um evento que prossegue até amanhã, marcando o início da temporada de pesca. O período de piracema acaba no domingo e os pescadores, tanto amadores como profissionais, estão ansiosos para voltar ao rio. É tempo de pescar pacu, dizem eles. Uma das espécies mais conhecidas dos rios pantaneiros, o pacu realmente é fisgado com mais facilidade na época da cheia. O biólogo da Universidade do Estado de Mato Grosso, Claumir Muniz, explica que a cheia é um fenômeno que ajuda a ictiofauna, pois possibilita mais alimentos aos peixes. “Já começaram a cair cajás das árvores, e o pacu come as frutas. Por outro lado, peixes de couro como o pintado se espalham mais e ficam mais ariscos”. A abertura da pesca deve levar dezenas de pescadores profissionais ao rio já na segunda-feira. Nesta sexta-feira, as lojas que comercializam artigos para pesca registraram uma procura maior. A Colônia de Pescadores Z-2, de Cáceres, tem um cadastro de cerca de 500 pescadores profissionais. Muitos trabalham durante a temporada nas embarcações de turismo, mas grande parte deles deve reiniciar a atividade da pesca. As embarcações turísticas, de acordo com informações de Cairo Bernardino, presidente da Associação Ambiental, Empresarial e Turística de Cáceres, estão com pacotes fechados até o mês de junho. “É muito grande a procura por parte dos turistas e praticamente não há mais vagas. Muitos já se preparam para participar do FIP”, afirma. O Festival Internacional de Pesca de Cáceres, o FIP, chega este ano à sua 30ª edição e pela primeira vez será realizado no final de abril, e não em setembro, época que o nível do rio é muito baixo. Piracema acaba com R$ 1,1 mi em multas A piracema termina neste domingo em Mato Grosso sem nenhuma expectativa de prorrogação. Com isso, a pesca volta a ser permitida quatro meses depois em todos os rios federais, estaduais e municipais do Estado. Até o início desta semana, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) e a Polícia Militar aprenderam 7,7 toneladas de pescados e aplicaram R$ 1,1 milhão em multas. As ações de repressão à pesca predatória contabilizam ainda a apreensão de 591 redes, mais de 300 anzóis de galho, centenas de molinetes e outros apetrechos de uso proibido. Nos últimos quatro anos, de 2005 a dezembro de 2009, a Sema registrou a apreensão de 66 toneladas de peixes das diversas espécies (pacu, piau, dourado, pintado...) capturados nos rios e lagos mato-grossenses com uso de apetrechos proibidos ou em período de defeso. Além disso, aplicou R$ 6,2 milhões em multas, recolheu 10 mil anzóis de galhos e pouco mais de 2 mil redes usadas ilegalmente para pescar. Em março deste ano, a Sema conclui o primeiro monitoramento continuado da vida e reprodução dos peixes das bacias de Mato Grosso. Ao contrário dos anos anteriores, quando se fazia apenas o acompanhamento da desova na época da piracema, agora o governo do Estado poderá dispor de dados significativos, entre os quais as espécies que desovam primeiro e os alimentos mais habituais e abundantes disponíveis para os peixes. A coordenadora de Fauna e Recursos Pesqueiros da Sema, Neusa Arenhart, explicou que as pesquisas estão acontecendo em duas bacias: Amazônica e do rio Paraguai. Na primeira, as coletas de espécies para as análises são feitas no rio Teles Pires, no município de Sinop (500 quilômetros de Cuiabá). Na bacia do Paraguai, conforme Neusa, acompanham os peixes do rio Paraguai em pontos abaixo do município de Cáceres. Nessa região, disse a coordenadora, observam espécies similares as que existem no rio Cuiabá, como pacu, dourado e cachara. Neusa Arenhart disse que não há avaliação preliminar dos dados levantados na pesquisa, mas ela adiantou que estão comprovados, por exemplo, que os peixes sem couro são os que desovam primeiro. O pacu, por exemplo, no mês de novembro apresenta ova maturada, pronta para concluir o ciclo reprodutivo, o que acontece logo no começo de dezembro. Já os peixes de couro, entre os quais a cachara, são os últimos a desovarem, entre janeiro e fevereiro. Esses dados, completou a pesquisadora, mostram que a reprodução dos peixes não varia muito do período estabelecido para a piracema. Neusa destacou que a pesquisa vem sendo feita pela Sema em parceria com pesquisadores da Universidade Estadual (Unemat) e de outras instituições acadêmicas, além da participação de mestrando e doutorandos. (Alecy Alves) Imprimir