Imprimir

Imprimir Artigo

08/03/2021 - 10:52 | Atualizado em 08/03/2021 - 10:58

Apaixonada pela profissão, motorista de caminhão de lixo se diz poderosa

Nesta segunda (8), se comemora o Dia Internacional da Mulher. Apesar do significado da data ter se transformado ao longo dos anos, ela foi criada com o intuito de ser uma manifestação pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. Nesse sentido, a profissional assegura: “tudo o que eles fazem, a gente faz também”.
 
Todos os dias ela sai da garagem às 6h na companhia de três garis. Todos homens. Juntos, eles são responsáveis por coletar o lixo dos bairros CPA 1, CPA 2, Morada do Ouro, Centro América e, em dias alternados, Tijucal. Para Jocilene, ser motorista de caminhão era um sonho de criança.

“Eu trabalhava como secretária, mas eu sempre tive vontade de ser motorista de caminhão, porque meu pai era motorista e chegava a ficar 40 dias fora. Nas minhas férias, ele me levava para viajar com ele e às vezes ele me deixava dirigir. Então eu cresci apaixonada pela profissão e era um objetivo que eu tinha”, contou.

Quando Jocilene completou 26 anos, foi o seu pai quem arranjou seu primeiro serviço como motorista. Ela era responsável, na época, por transportar parte de casas pré-fabricadas. Mesmo com a rotina puxada, se sentia satisfeita por ser remunerada para fazer o que gosta. 

A primeira vez em que dirigiu a trabalho, em suas palavras, foi um “sonho”. Desde então, nunca deixou de ser. Tanto que Jocilene jamais pensou em abandonar a profissão. Sua meta é continuar trabalhando até a aposentadoria. De segunda até sábado, ela acorda às 4h. Então, resolve parte das pendências domésticas, brinca com os seus cachorros e se arruma para o trabalho.
Rodinei Crescêncio

Motorista de caminhão de lixo Jocilene Alves se emociona ao contar ao Rdnews que se inspira no pai, que morreu há 8 meses, para exercer a profissão
 
Quando chega no estacionamento da empresa, na saída para Chapada dos Guimarães, tem o rosto pintado com batom, rímel, base e sombra. Conforme contou para a reportagem, a maquiagem precisa estar sempre em dia. Então, pega a chave do caminhão, faz a vistoria e espera os companheiros de trabalho, que chegam um pouco mais tarde.

“Eu não acho que a rotina seja puxada para mim. Eu acho que é mais puxada para os garis, que têm que correr e mexer com peso. Mas eu preciso estar sempre atenta. Desde a hora em que a gente sai até a hora em que a gente volta, não dá para prestar atenção em outra coisa. Porque dos dois lados tem gari, então tem que ver os dois retrovisores. Se deixar de prestar atenção um pouquinho, já perde”, disse.

Preconceito 

Seja com comentários maldosos ou olhares de desaprovação, Jocilene sofre preconceito todos os dias por ser mulher. Motoristas homens, em geral, tendem a subestimar sua capacidade no volante e duvidar de sua habilidade para conduzir o veículo pesado.

“Se tem dois carros, por exemplo, eles acham que eu não vou conseguir passar entre eles. Às vezes falam alguma coisa, às vezes vão lá para olhar e ver se realmente não bateu. Como se eu não tivesse a capacidade de passar entre os carros. Direto acontece isso. Pelo menos uma vez por dia. Eu não esquento, nem ligo para isso”, diz.

Jornada múltipla
 
Todos os dias, a motorista roda mais de 100 quilômetros a bordo de seu caminhão. Por volta das 13h, depois de descarregar o lixo no aterro da cidade e almoçar, ela entrega o veículo na garagem para o próximo motorista. Então, volta para a casa, nas proximidades do bairro Osmar Cabral, e assume seu outro papel. Jocilene vira dona de casa.

É da mulher a responsabilidade de limpar a casa, assear os móveis e lavar as roupas enquanto o marido trabalha. Essa, de acordo com ela, é a função que mais lhe deixa cansada. Por volta das 18h, começa a desacelerar para dormir por volta das 19h30. No dia seguinte, tudo se repete a partir das 4h.

“No futuro eu ainda me imagino trabalhando como motorista. Eu nunca pensei em sair da profissão e ir para um outro ramo. Nunca passou pela minha cabeça. Minha filha faz zootecnia na UFMT e diz para eu estudar, mas eu quero mesmo é dirigir”, finalizou.
 
Imprimir