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06/03/2021 - 09:04 | Atualizado em 06/03/2021 - 09:11

Em Cáceres, pai contesta versão de boletim e diz que filho morreu alvo de disparos de PM. Veja o vídeo

O pai de Luiz André Moraes Silva, jovem de 19 anos que foi morto em suposto confronto com policiais militares do Grupo de Apoio (GAp) de Cáceres (a 225 km de Cuiabá), contesta a versão apresentada pelos agentes envolvidos no homicídio do filho.

Ele assistiu os agentes disparando contra a vítima e alega que Luiz não estava com drogas, nem que estava com arma de brinquedo, além de denunciar possível perseguição.

O irmão da vítima, uma criança de quatro anos, presenciou a suposta abordagem truculenta e o início dos disparos.

De acordo com o boletim de ocorrência registrada pela Polícia Militar, Luiz foi abordado para verificação de suposta venda de drogas, na noite de 19 de novembro do ano passado, no bairro Cidade Alta, no município.

Ele tentou fugir por um local descrito como ermo, sem iluminação e cheio de mato.

Durante a fuga, ele jogou a mochila com várias porções de drogas. O jovem foi morto depois de supostamente apontar uma arma de brinquedo para os agentes do GAp.

Para o pai, um vídeo da câmera de segurança questiona a versão apresentada pelo policial. É possível ver que o agente conversa com o pai e o filho, a fuga de Luiz André, o primeiro disparo e, no final, a criança correndo atrás para saber da situação. Em uma rede social, ele publicou que ele estava com medo de ser preso novamente, já que o filho tem passagens pela polícia.
 
A reportagem do  teve acesso ao depoimento apresentada pelo pai na Polícia Civil.

Segundo o pai, o policial já abordou Luiz André afirmando que iria matá-lo. O pai da vítima estava assistindo TV com o filho de quatro anos, e Luiz estava sentado na calçada conversando com a namorada pelo WhatsApp. Ele viu uma luz de moto chegando e acreditou que fosse o sobrinho, mas ouviu alguém ameaçando o filho. “Vou te matar, vou te matar agora”, relata o pai em depoimento.

Em seguida, o filho gritou pelo pai. Ele correu para frente e se deparou com um policial em uma moto. O militar segurava Luiz pela camiseta e apontava uma arma na cabeça. Ao ver o pai, o policial deu um passo para trás e segurou arma de fogo com as duas mãos e mandou Luiz colocar as mãos na cabeça e virar de costas. Luiz não queria, mas o pai pediu que ele atendesse a ordem.

Arma na cabeça

O policial pediu que Luiz André levantasse a camiseta e virar de costas. O pai alega que o filho não tinha nada com ele. O policial puxou a vítima pela camiseta e colocou a arma de fogo na cabeça e passou a dizer que queria a droga. “Eu quero a droga, eu vou te matar”.

Relato de pai sobre suposta ameaça de PM
 
Neste momento, o pai colocou o filho de quatro anos para dentro de casa, pois ele estava presenciando toda a cena. Depois disso, ele interveio na ação do policial e conseguiu soltar a mão do militar do seu filho, que correu para trás do pai.

O policial chamou então o pai pelo nome e começou a dizer que o filho é ladrão, traficante e seqüestrador. A declaração deixou o pai surpreso, pois não o conhecia. Enquanto isso, o filho disse que não fez nada e que o militar ia prendê-lo.

Luiz abriu o portão e o policial acreditou que ele iria fugir. O pai não soube o que aconteceu depois porque a arma de fogo fez um barulho. Apenas que o filho parou, voltou andando em sua direção e começou a correr, passou reto pelo pai e virou a rua na esquina. O policial começou a persegui-lo e desferiu o primeiro disparo ainda na rua lateral.

O policial efetuou mais quatros disparos. No quinto, o filho gritou de dor bem alto. Acredita que este tenha sido o disparo que atingiu seu filho, sendo que não sabe se foi de frente ou pelas costas. O pai viu o policial efetuar o sexto disparo, que errou o alvo e o seu filho veio a cair no chão em uma rua lateral da praça do bairro.

O pai teve que voltar por que o filho de quatro anos estava assistindo tudo aquilo e era necessário retirá-lo do local. Ele cita a participação de um segundo policial que pediu para Luiz parar que, depois de caído, passou a chutá-lo. Em menos de um minuto, o CBM apareceu e encaminhou a vítima para o Hospital Regional de Cáceres, que morreu na unidade.

Polícia Civil investiga

Após o conflito de versões, o delegado Wilson Souza Santos instaurou um inquérito para investigar o caso ainda em novembro do ano passado. Pediu imagens de câmeras de monitoramento, a arma do policial usada para atirar e intimou quatro pessoas. O caso ainda segue sob investigação.

Outro lado

Por meio de nota, a Corregedoria Geral da Polícia Militar informa que, assim como em outras situações envolvendo policiais militares no exercício ou não das funções, instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstâncias da ocorrência e conduta dos policiais. O IPM encontra-se na fase de instrução processual.

Veja momento em que PM atira na vítima Imprimir