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28/11/2020 - 08:58

Quem não der resultado em 6 meses será demitido, diz prefeita eleita sobre staff

Mulher nordestina, a vice-prefeita de Cáceres Eliene Liberato (PSB) fez história nas eleições municipais 2020.

Quando chegou ao município para visitar parentes, aos 18 anos de idade, se encantou com o lugar e fincou raízes.

Na época, nem poderia imaginar que se tornaria a primeira mulher eleita prefeita nos 242 anos de emancipação da “Princesinha do Pantanal” - com 15.881 votos (38,16% dos válidos).

Além de construir uma carreira profissional na educação e construir família, Eliene se destacou em Cáceres pelos trabalhos sociais que a levaram para a vida política, ocupando secretarias e, desde 2013, o cargo de vice-prefeita.

Após não receber o apoio do prefeito Francis Maris (PSDB) para sucessão na Prefeitura, a professora decidiu traçar seu próprio caminho, reunindo coligação com 13 siglas (Republicanos, PP, PDT, MDB, PSL, Podemos, Cidadania, Avante, Pros, PSB, PV, PSD, Solidariedade).

Já pensando na montagem do seu secretariado, a eleita ressalta o desejo de montar um staff mais técnico do que político. Concorda em aceitar indicações partidárias, mas ressalta que o nome indicado precisa ter capacidade de gestão e terá apenas seis meses para apresentar trabalho; caso contrário será demitido. Em entrevista especial ao , Eliene falou da sua trajetória política, campanha e do que pretende fazer em áreas importantes, como Saúde, Covid-19 e Educação.


Leia e assista os principais trechos da entrevista feita por videochamada:

A senhora está há quase oito anos no cargo de vice e se lançou a prefeita como oposição ao prefeito Francis Maris (PSDB). Como se descolar da imagem da atual gestão, já que a senhora participa do governo?
 
Uma situação que não foi fácil. Em abril tive uma conversa com o prefeito (que já havia demonstrado intenção de projetar um ou outro secretário e não demonstrava empatia maior em me apoiar) e ele me disse que iria apoiar quem estivesse bem nas pesquisas. Já sabia que estava bem avaliada. Ele chegou a dizer que iria me apoiar. Eu fui bem sincera ao dizer que gostaria de ser a sucessora e que esperava o apoio dele, até pelo trabalho que realizamos. O grupo do prefeito tentou me convencer por outro nome, que projetaríamos para avaliar a aceitação em pesquisa e eu não aceitei. Senti que estavam fazendo pressão para eu desistir ou ser anulada. Fui construir minha candidatura, já que até junho achava que teria o apoio. Quando vi que não teria, conversei com partidos de oposição e 13 siglas me apoiaram. Queria um projeto que me representasse e que tivesse condições de ser a Eliene.
 
Rodinei Crescêncio
Eliene Liberado
A prefeita eleita Eliene Liberato em entrevista por videochamada com o jornalista Airton Marques, quando falou sobre campanha histórica
 
Acredita que o fato do prefeito não ter te apoiado tenha sido melhor para sua candidatura?

Fiquei oito anos na prefeitura e posso dizer que ele foi um excelente gestor, mas não tem habilidade política. A pessoa com essa habilidade ao lado dele era eu. Foi uma parceria que deu certo. Quando ele ficou ao lado de um grupo sem respaldo político e nem habilidade, não tinha mais como sobreviver. Mas, se eu estivesse ao lado do prefeito, eu teria costurado da mesma forma um grande arco de alianças com também grande chance de ser eleita. Foram oito anos juntos, mas acabou. Nós rompemos, mas não somos inimigos. No dia 16 (após a eleição) disse: desmontem os palanques e agora eu serei prefeita dos 98 mil habitantes de Cáceres. Se ele tivesse aceitado a forma com que gostaria de levar o processo, teria dado certo. A gestão é bem avaliada, mas a população rejeita a pessoa. Se eu estivesse com ele, eu saberia como trabalhar e ter a população com a gente. Agora é outra forma de gestão, que será pautada pelo diálogo. O que é bom será mantido.
 
Cáceres foi um dos municípios em que a situação da pandemia foi mais alarmante. Francis chegou a decretar lockdown no período mais crítico. Como a senhora avalia as medidas adotadas nesse ano e o que pretende fazer quando assumir a prefeitura?

A Saúde é um ponto muito importante e será prioridade na minha gestão. A população me cobrou muito a melhoria dessa área, já que ainda estamos na pandemia. Iremos traçar alguns planos já no período de transição, já conversei com meu vice que é médico. Algumas ações imediatas serão para reestruturar nossas unidades de saúde e atendimento de especialidades, já que nesse período de pandemia, a prioridade foi a Covid-19, o deixou muitos usuários (que precisam de atendimento médico para outras doenças) na fila de espera para a realização de exames. Sugeri a realização de mutirões. É a Saúde que iremos focar no início da gestão. Em relação a Covid, vou continuar as ações que foram feitas até então.

As aulas de 2020 tiveram prejuízos com a pandemia. Os professores interinos chegaram a ter uma ameaça de corte dos salários. Como ficará a situação da educação em 2021?

A Educação é a base de toda a sociedade e foi muito prejudicada nesse período de pandemia. Sei a necessidade que temos de reestruturação, para inserir nossas unidades escolares no século XXI. Ainda estamos num processo distante do mundo virtual. Por isso, não estávamos preparados (para as aulas foram da sala de aula). Houve a necessidade desse modelo híbrido de aula (presencial e remoto), mas nós não estávamos preparados. Os professores não estavam capacitados, assim como os espaços físicos. É uma situação que precisamos mudar. O primeiro passo é definirmos como vamos atender esses alunos, já que até agora não tiveram um atendimento de qualidade. Não acho justo fazer com que o profissional da educação pague essa conta. Não deu para suprir o ano letivo, mas foi o que conseguimos fazer com a estrutura que temos. Precisamos traçar um plano, reestruturar nossas unidades, chamar as universidades, capacitar nossos profissionais e trazer a comunidade escolar.

Esses contratados continuarão recebendo?

Não temos professores efetivos para atender todas as unidades. São 38 escolas, sendo 14 na zona rural, com grandes distâncias (há aluno que fica 4 horas no trajeto até a escola). Onde for preciso, nós iremos manter os contratados, mas cada ano letivo que acaba, o contrato é encerrado e se não for mais necessário, não temos como contratar. E temos que remunerar. Mesmo que o profissional esteja em casa, ele está preparando aula.
 
A senhora terá apoio da maioria dos 15 vereadores eleitos nesse ano. Oito garantiram cadeira pela coligação que a apoiou, o que representa 53%. E tem 13 partidos aliados. Como a senhora pretende trabalhar com essa base aliada forte e montar o staff?

Temos a maioria na Câmara, mas quero manter um diálogo de respeito e harmonia com todos os vereadores, já que teremos projetos importantes para o município. Sobre o staff, sempre deixei claro que o perfil será de pessoas técnicas e competentes. Lógico que vou ouvir a sugestão dos partidos, porém passa pelo meu crivo. A gestão é diferente do processo político. Preciso colocar as pessoas certas no lugar certo. Minha política será de resultados. A partir do momento que fizer o convite, independente de indicação, darei prazo de seis meses para ter resultados. Se não der, tenho a liberdade de trocar. Muitas vezes disseram que eu não darei conta e que não sou capaz, mas, a partir do momento que assumi o compromisso, é meu CPF e história que estará em jogo. Não posso me aventurar ou me colocar em situações que me comprometam. Não posso errar. Vou procurar ter uma equidade entre homens e mulheres, mas não tenho problema em ter homens no governo. Esse equilíbrio é importante. Pretendo não definir o comando das 15 secretarias de imediato, vou escolher no máximo oito.
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