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02/05/2020 - 07:43

Relato de enfermeira do São Luiz: 'A gente trabalha com medo; o hospital não dá segurança; não sabemos quem será o próximo'

'A gente trabalha com medo. O hospital não nos dá segurança. Não sabemos quem será o próximo'. Essa é a síntese de um relato desesperado de uma enfermeira que trabalha no Hospital São Luiz, depois da constatação de que três servidores da unidade foram infectados pelo coronavirus.

Existem confirmados, em Cáceres, de acordo com a Secretaria de Saúde sete casos. E, pelo menos, dois pacientes que receberam tratamento no hospital foram a óbito.

Sem se identificar para evitar 'perseguição' a profissional diz que só ainda não pediu demissão para não 'jogar fora' quase 10 de serviço.

'Eu não posso pedir demissão e jogar fora quase 10 anos de serviço. Mas, é muito difícil trabalhar numa situação como essa. Os equipamentos de proteção quase não existem. Faltam, capote, máscaras e luvas', afirma assinalando que, somente nos últimos dias, o hospital começou fornecer máscaras artesanais, mas, segundo ela, não é de boa qualidade.

'Elas não encaixam no rosto das pessoas'.

Diz que, outros não denunciam porque são ameaçados de demissão.

A denunciante revela ainda que, a maioria dos profissionais, está preocupada e temerosa porque não está preparada para trabalhar no tratamento do coronavirus tendo em vista que a doença e nova e, não receberam nenhum tipo de capacitação.

'Não nos deram nenhuma capacitação. Orientam para que a gente procure se informar na internet', diz afirmando que o técnico em segurança do trabalho da unidade até já se demitiu por não concordar com as irregularidades.

O relato preocupante da enfermeira reforça outras denuncias contra o hospital. Recentemente, um servidor afirmou que, não existe sequer, um médico técnico responsável pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para onde são levados os pacientes em estado grave de doenças.

Pelas normas técnicas, é obrigatoriedade da unidade hospitalar contar com um técnico especializado para dirigir as UTIs. Nesta semana, se tornou público, o registro de uma ocorrência policial registrada por um técnico de enfermagem, contra o hospital e contra o gerente de enfermagem. Ele relatou a polícia ter sido obrigado a trabalhar na UTI, mesmo sem experiência e sendo hipertenso, ou seja, de grupo de risco para coronavirus. O fato teria ocorrido no dia 20 de abril, depois da morte da jovem Juliana Matsushita, no dia 23 de abril.

'Já estávamos desfalcado com apenas três técnicos e uma enfermeira; onde nenhum dos técnicos quis ir para a UTI, devido o desfalque do setor e a inexperiência para a Unidade de Terapia Intensiva, mesmo assim fizeram um sorteio para que um fosse, sendo que caiu meu nome'.

Diante da recusa, conforme a ocorrência, ele foi chamado na sala do gerente de enfermagem que indignado o ameaçou dizendo que descontaria no plantão, além do 13º salário e férias.

O gerente ainda disse que faria uma denúncia no Conselho de Ética de Enfermagem e o mandou para casa.

Assim como os demais, o enfermeiro assegurou que o hospital não está fornecendo equipamentos de segurança para os profissionais da linha de frente no combate ao coronavírus.

Apesar da unanimidade das denuncias, o hospital nega.

Em uma Nota distribuída à imprensa na quinta-feira (30/4), a assessoria de comunicação da unidade diz que recebeu com surpresa a informação.
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