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13/10/2019 - 10:34

Em entrevista, Secretário Allan Kardec fala dos projetos para Esporte e Cultura, Arena Pantanal e do posicionamento do PDT para 2020

O secretário de Estado de Cultura, Esporte e Lazer Allan Kardec trabalha com a expectativa de que, a partir do próximo ano, a pasta que ele comanda desde o início da gestão Mauro Mendes (DEM) possa priorizar eventos permanentes de Cultura em detrimento de festas ou festivais realizados nos municípios, por exemplo.
 
“Você pode perguntar: secretário, você é contra investir em aniversário de cidade, festa de peão de boiadeiro e etc? Obviamente que não. Até porque acredito que isso gera também emprego e renda. Gera lotação dos hotéis, circula o dinheiro dentro dos municípios. O que a gente precisa é planejar isso melhor. Com cachês para artistas locais e incentivar esse consumo aqui dentro”, ponderou ele, em entrevista ao MidiaNews.
  
Segundo Kardec, um dos principais “entraves” para essa mudança de hábito são as emendas impositivas às quais os deputados estaduais têm direito e que não cabe ao governo vetá-las. 
  
De todo modo, ele cita que a secretaria está apresentando aos parlamentares os programas permanentes de Cultura que o Estado os tem como prioridade.
  
“Acredito que ano que vem as emendas ainda vão ser pagas a alguns eventos, até porque existem alguns consagrados como a Festança em Vila Bela; a Festa dos Mascarados, em Poconé; Festival do Pastel, em Jangada, que é mundialmente famoso. Mas a ideia é que a gente diminua o número de recursos investidos em eventos e passamos a investir em programas permanentes”, disse.
  
Ainda durante a entrevista, o secretário tratou de assuntos envolvendo o Esporte, como o episódio recente em que a CBF vetou a realização de partidas na Arena Pantanal e ainda fez uma defesa pela conclusão do Centro de Treinamento (COT) do Pari, que o governador Mauro Mendes classificou como uma obra sem funcionalidade.
  
Por fim, o secretário – que também comanda o PDT em Mato Grosso – falou do projeto da sigla em concorrer o Alencastro na eleição de 2020 e disse que, para ele, o atual prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) deve largar na frente no processo do ano que em, mas terminará derrotado no segundo turno.
 
Veja os principais trechos da entrevista:
 
MidiaNews –  A pasta de Cultura sempre foi muito criticada por pessoas que alegam que ela beneficiaria sempre os mesmos produtores, os mesmos “grupinhos”. Por que isso ocorre em Mato Grosso?
 
Allan Kardec – Estudioso da Cultura que sou, sempre fiz essas mesmas críticas. Quando a gente vem para gestão, a gente começa a perceber porque isso ocorre. Falta formação, na minha opinião, para a questão de ampliar o número de produtores culturais, de institutos e instituições, para que eles possam captar os recursos e prestar contas devidamente.
 
Acho que alguns produtores se especializaram nisso. Fazem um trabalho de captação, montam bons projetos, fazem um trabalho de captação direta das emendas, então eles conseguem ter sequências exitosas de programas e projetos.
 
Nessa identificação, nós conseguimos fazer uma intervenção importante. Esse ano nós já temos na rua e agora vamos fazer a entrega dos pontos de cultura. Nós premiamos 30 pontos de cultura e colocamos como ponto de referência a interiorização das ações da secretaria. Sessenta por cento desses pontos de cultura estão no interior do Estado.
 
Outro programa é o de interiorização da Cultura através do fortalecimento do CPF da Cultura, já trabalhado em outras gestões e que agora estamos ampliando. O CPF é o Conselho Municipal de Cultura, o Plano Municipal de Cultura. E depois manda para Câmara para criar o Fundo Municipal de Cultura. Os municípios que já têm o CPF instalado vão poder receber recursos direto da nossa secretaria. E mais, acaba fomentando o seu produtor cultural.
 
MidiaNews – Pensando nisso que o senhor falou sobre os artistas e todo esse processo de captação de recursos, é possível dizer que ainda há um amodorismo no Estado?
 
Allan Kardec – Sim. Existe ainda. Precisamos avançar nisso. Temos aqui a Superintendência de Políticas Culturais, a Superintendência da Economia Criativa e temos um Escritório de Gerenciamento de Projetos aqui dentro da secretaria trabalhando isso. Fazendo formação para produtores culturais também. Muita gente reclama – e eu entendo isso – mas vem com um ofício solicitando patrocínio para um evento, uma atividade cultural. E o que nós precisamos aqui é de projeto. Precisa ter um projeto viável, que vai demonstrar a capacidade de realização desse evento cultural e também prevendo a prestação de contas para nós e para a sociedade.
 
MidiaNews – Outra crítica feita ao setor cultural é o excesso de recursos destinados a festas que, muitas vezes, pagam caches altíssimos para artistas já consagrados, por exemplo, em detrimento do talento regional. Não dá pra controlar estes gastos?
 
Allan Kardec – De fato ocorreu e muito, principalmente ajudas em aniversários de cidades. Muito dinheiro indo para aniversário e festa, festa de peão de boiadeiro, enfim... E a gente tem que entender duas situações. Esse ano, por exemplo, tivemos uma determinação do governador e não investimos em nenhum Carnaval, praticamente nada em aniversário de cidade e festa. Foi um ano de recuperação.
 
Aí você pergunta: secretário, você é contra investir em aniversário de cidade? Obviamente que não. Até porque acredito que isso gera também emprego e renda. Gera lotação dos hotéis, circula o dinheiro dentro dos municípios. A gente precisa planejar isso melhor. Com cachês para artistas locais e incentivar esse consumo aqui dentro. Como está sendo feito ainda e é difícil de limitar? As emendas impositivas. É difícil um deputado não brigar para pagar a emenda dele e, como a emenda é impositiva, é difícil para nós da secretaria falarmos “não, deputado, não pode colocar dinheiro nessa festa”.
 
Mas fizemos a sensibilização, até porque venho da Assembleia Legislativa. Montamos um portfólio de projetos e programas que nós já temos e estamos passando agora, tanto para Câmara Federal, Senado e Assembleia, quais os projetos que gostaríamos que fossem priorizados. Principalmente os programas permanentes de Cultura, que são aquelas atividades que têm todos os dias em determinado município.
 
Acredito que ano que vem as emendas ainda vão ser pagas a alguns eventos, até porque existem alguns consagrados como a Festança em Vila Bela – uma atividade centenária; a Festa dos Mascarados, em Poconé; Festival do Pastel, em Jangada, mundialmente famoso. Então, tem questões que vão permanecer com elas na pauta, mas ideia é que a gente diminua o número de recursos investidos em eventos e passamos a investir em programas permanentes.
 
MidiaNews – Nesse aspecto das emendas impositivas, até avaliando a experiência do senhor na Assembleia, acredita que vocês encontrarão resistência por parte dos deputados? Vai ser difícil essa tentativa de direcionar essas emendas?
 
Allan Kardec – Acho que menos resistência do que a gente esperava. Houve uma renovação na Assembleia Legislativa. Alguns deputados novatos já vêm com essa concepção. Posso citar o próprio deputado Faissal Calil, que entrou com uma pauta criticando as emendas e acho até que ele errou na comunicação quando falou que tem que acabar com emenda na Cultura.
 
Já na condição de secretário de Cultura fui contra isso, mas entendi o recado do deputado Faissal. Ele citava, por exemplo, estarmos investindo R$ 800 mil em festival de pesca quando, em contrapartida, falta dinheiro para outras áreas.
 
Mas tem que lembrar que temos garantidos em Constituição os recursos para a Cultura. E outro ponto: a Secretaria de Cultura, no Fundo Estadual de Cultura, tem R$ 35 milhões. Uma Secretaria de Educação tem R$ 3 bilhões. De Segurança a mesma coisa. Aqui [na Cultura] estamos falando de R$ 35 milhões. Se dividirmos isso pelo número de pessoas do Estado, dá R$ 10 pra cada de investimento na Cultura. 
 
Mas entendemos o recado. Por isso colocamos dois portfólios prioritários para nós, tanto do Esporte e Lazer quanto da Cultura. Estamos apresentando agora e a gente espera que no ano que vem possamos ampliar o investimento em programas.
 
MidiaNews – Ainda tratando dos projetos culturais, há de fato muitos casos de superfaturamento? Como isso está sendo fiscalizado?
 
Allan Kardec – Esse ano fizemos uma inovação com nossos convênios. Nós trabalhamos tanto nossos técnicos fiscais, como as prefeituras e o Ministério Público local. Todos nossos atos de convênio agora têm tri-participação. Acho que isso melhora essa situação, nessas denúncias que já houve de superfaturamento nos convênios que já passaram por aqui.
 
MidiaNews – Em maio, a Secretaria notificou produtores culturais a devolverem R$ 840 mil aos cofres públicos em razão de problemas nas prestações de contas. Esse montante já foi devolvido?
 
Allan Kardec – Fizemos uma força-tarefa aqui em todos os processos que estavam caducando e que não conseguíamos notificar os produtores. A grande maioria deles realizou os eventos, mas não teve prestação de contas. Registro fotográfico, notas em jornais, registros audiovisuais do evento, nota fiscal de pagamento de cachê... Então, fizemos um trabalho com a Controladoria Geral do Estado e encaminhamos tudo isso à Secretaria de Fazenda e à Procuradoria Geral do Estado.
 
Vamos a partir do final do ano ou começo de 2020, instituir uma comissão de recuperação de ativos. Aqueles [produtores] que não vieram serão notificados, vamos atrás, o CPF ficará negativado.

Notificamos e muitos produtores procuraram a secretaria e estão tentando fazer um encontro de contas, reapresentando projeto. A gente não fez um trabalho punitivo simplesmente, mas precisava. Agora, num segundo momento, vamos a partir do final do ano ou começo de 2020, instituir uma comissão de recuperação de ativos. Aqueles que não vieram serão notificados, vamos atrás, o CPF ficará negativado. Trabalho da nossa equipe com a Sefaz, para que a gente possa reaver o dinheiro ao erário.
 
MidiaNews – Há um levantamento do quanto a Pasta tem a receber em razão de irregularidades na prestação de contas de projetos culturais?
 
Allan Kardec – Aquele número que nós passamos aumentou um pouco, deve estar em média entre R$ 900 mil e R$ 1 milhão, mas alguns produtores já procuraram. E aí, esgotando o prazo, vamos buscar recuperar esse dinheiro de alguma maneira. Seja uma nova apresentação cultural, uma atividade na sociedade. E naqueles que não conseguirem de fato nada, precisaremos atuar para que o erário não fique com prejuízo. 
 
MidiaNews – Recentemente a CBF adiou jogos na Arena Pantanal, em razão das péssimas condições do gramado. O senhor acredita que a imagem do Estado ficou arranhada com esse episódio? 
 
Allan Kardec – Esse episódio ajudou a acelerar o processo que era evidentemente necessário, que era a troca parcial do gramado. Recebemos a Arena Pantanal em janeiro com sua condição muito ruim de funcionamento e operação. Vou nem tratar da questão externa. Não tínhamos alvará de funcionamento de nenhum dos setores, nem alvará sanitário, enfim, estava praticamente fechada. Hoje temos um cenário diferente.
 
Mas falando especificamente do gramado. O gramado em alta qualidade precisa fazer, ao menos uma vez ao ano, um processo de descompactação. Processo que faz uma ranhura no gramado, colocando a raiz um pouco mais solta para que receba nutrientes. Desde que a Arena foi inaugurada, esse trabalho nunca foi feito. No processo de plantio da grama da Arena e as manutenções que houve lá, veio uma grama invasora. A CBF disse que precisava tratar dessa grama invasora. Veio um técnico especialista junto com a Federação Mato-grossense de Futebol e fez dois trabalhos – que foi essa descompactação e depois um tratamento em cima dessa grama invasora. Nesse tratamento da grama, já teríamos que ter feito ali a substituição. Preferiu bater um veneno e adubar a grama natural para que ela naturalmente tomasse conta dali. Mas não deu tempo. Aconteceu que ficou exposto no setor norte o ataque e ficou muito marcado.
 
Penso que a CBF falhou conosco no sentido de anunciar sem ter consultado previamente a nossa gestão, sem ter colocado uma posição para nós. Eles só anunciaram que iriam substituir uma partida. E que a gente tinha 48 horas para falar quando iríamos trocar o gramado. Um procedimento de quase R$ 200 mil não sai do dia para noite.
 
Mas não contestamos a CBF, poderíamos ter contestado inclusive no STJD, dizendo que não fomos notificados, tampouco o Cuiabá e a FMF. Não nos foi dado um prazo. Ela preferiu adiar a partida. Mas conversamos com o governador e era uma ação que já precisava fazer. Enfim, hoje temos um trabalho já feito.
 
MidiaNews – Então, na avaliação do senhor houve certo excesso ou falha por parte da CBF?

Allan Kardec – Acho que deveríamos ter recebido notificação, que fosse uma multa. Mas, no final deu tudo certo. Agora, uma coisa que quero deixar registrado: se acompanharmos o futebol da série A, vamos perceber com clareza estádio da série A com piores condições que a Arena Pantanal. Mas não vamos ficar lamentando isso não. Absorvemos isso, o Governo do Estado nos autorizou, fizemos uma ação rápida e hoje a grama da Arena Pantanal já está em processo de recuperação da troca. Teve jogo no outro dia. Usamos uma técnica bem avançada e acredito que vamos passar o final do ano com um dos melhores gramados do País.
 
MidiaNews – A propósito, como estão os custos de manutenção da Arena? Ela ainda é muito onerosa ao Estado?
 
Allan Kardec – O maior custo da Arena Pantanal é a energia elétrica contratada. Temos uma demanda contratada que veio desde a época da Copa do Mundo e que ainda não conseguimos melhorar esse contrato. Temos aí de R$ 260 mil a R$ 280 mil de energia todo mês. Para um custo médio de R$ 400 mil ao mês. Então, tirando energia, o custo de operação da Arena é R$ 150 mil mais ou menos ao mês. Não é custo tão alto assim. Obviamente que ainda não temos condições de arrecadar todo esse dinheiro com a ocupação de nossos espaços, mas parte dele já conseguimos ter retorno.
 
Esse ano tivemos muita demanda para ocupação da parte externa, do próprio gramado. Temos aí parte da bilheteria, parte do bar, eles pagam o contrato de locação. O Cuiabá conseguiu colocar alguns bons públicos esse ano nos jogos da série B. Então nossa expectativa é que consigamos melhorar essa questão do custo da energia – temos um projeto rodando de usina fotovoltaica para a Arena produzir, se não toda sua demanda, ao menos metade com energia solar, o que barateia muito o custo. E está em processo a melhoria do ambiente para que possamos terceirizar o restaurante da área externa, lanchonete, bares, nossos espaços de camarote. Então, nossa expectativa é terminar o ano e a Arena ter uma operação muito melhor, funcionando os quatro setores, telão, som, iluminação e atrair investidores.
 
Temos aí de R$ 260 mil a R$ 280 mil de energia todo mês. Pra um custo médio de R$ 400 mil/mês. Então, tirando energia, o custo de operação da Arena é R$ 150 mil mais ou menos ao mês. Não é custo tão alto assim
O governador Mauro Mendes pediu para que a gente segurasse qualquer processo de terceirização da própria Arena, para que pudéssemos em dois anos entregar a ele um relatório de funcionamento.

MidiaNews – Parte da população acredita que a Arena se tornou um fardo ao Governo do Estado, em razão especialmente desses custos para manutenção. O senhor tem essa mesma visão ou acredita que a Arena pode se tornar viável? Se sim, em quanto tempo?
 
Allan Kardec – Quando começamos a pensar em Copa do Mundo, eu ainda estava na Câmara Municipal na condição de vereador. Fui um dos que critiquei os altos investimentos que foram feitos por conta da Copa. Mas vejo hoje isso já consolidado: empréstimo que a sociedade paga de mais de R$ 600 milhões, a Arena Pantanal é uma realidade, ficou nos últimos anos, infelizmente, numa condição ruim, mas começamos um processo de recuperação. Tanto da parte de utilização, como da parte negocial.
 
Minha expectativa e missão aqui na Secretaria é que nesses dois anos a gente a entregue com condição de se tornar viável, barateando o seu custeio e tendo mais utilização por parte da população. Não dá para pensar na Arena exclusivamente com futebol. Por isso temos projetos para lá já em andamento, com atividades de lazer e atividades físicas no entorno, utilização da piscina olímpica... Estamos construindo áreas para o vôlei de praia, skate, playground, para utilizar o espaço como um grande parque. Então, ela vai se tornar viável. Na minha opinião, o Cuiabá se mantendo na série B do Brasileirão, ano que vem devemos diminuir mais o custo e melhorar o engajamento financeiro de recuperação da Arena. E, nesses dois anos, a gente precisa entregar ao Governo e à sociedade um relatório. E aí, tenho certeza que ao final desses dois anos, irão aparecer mais interessados em ter a Arena como parceira.
 
MidiaNews – Recentemente, o governador Mauro Mendes realizou uma visita a algumas obras paradas na Capital e fez uma crítica ao COT (Centro de Treinamento Oficial) do Pari, em Várzea Grande. Ele disse que a obra não tem funcionalidade e sinalizou que não deve concluí-la. Ao menos foi essa a impressão que ele passou. O senhor tem esse mesmo entendimento?  
 
Allan Kardec – Antes disso, queria falar um pouco do COT da UFMT, que estamos com 90% do cronograma físico para entrega. Já estamos utilizando a pista, é uma das melhores pistas de atletismo do Brasil, material sintético, toda raiada. Estamos eufóricos com a condição que demos ao atletismo de Mato Grosso. Essa é a modalidade esportiva olímpica que mais nos dá resultados com menos investimentos. Então, o COT da UFMT já é uma realidade e estamos em processo de recuperação de seu gramado e entrega da parte física, que são as arquibancadas, auditórios... A gente espera que no começo do ano ele seja entregue 100%.
 
O que o governador falou e a gente precisa entender é que hoje, na ordem do dia, o COT do Pari não se tornou a prioridade. Tendo hospital fechado, com muitas escolas para serem reformadas. Então, o COT não passa a ser prioridade 01 do governador. Mas é uma das prioridades dessa Secretaria e nós temos o papel de estar sempre cobrando alternativas.
 
Já temos algumas. Uma delas é com o [time de futebol americano] Cuiabá Arsenal. Eles mostraram interesse e agora é hora de sentarmos com a Secretaria de Infraestrutura e ver o que precisa de investimento mínimo para tocar o COT. Vamos sentar com o Cuiabá Arsenal, com a Prefeitura de Várzea Grande, que também demonstrou interesse. A gente pode conversar tanto com a iniciativa privada, quanto com o Município. 

POLÍTICA
 
MidiaNews – O senhor é filiado ao PDT – inclusive comanda o partido aqui no Estado. A sigla já tem feito algumas reuniões, o ex-juiz federal Julier Sebastião sinalizou que pode concorrer à Prefeitura de Cuiabá no próximo ano. Outro nome citado é o do maestro Fabrício Carvalho, que preside o PDT na Capital. O senhor tem acompanhado essas reuniões? Defende algum desses nomes para uma disputa?
  
Allan Kardec – Estou participando efetivamente de algumas reuniões. Dia 26 de outubro está confirmada nossa convenção estadual, com a presença do presidente nacional do partido, Carlos Lupi. Estamos organizando uma chapa de consenso do PDT, uma reestruturação do PDT em Mato Grosso, um PDT mais progressista, mais no campo popular. Que é essa sua origem.
  
Nossa expectativa é que a gente se organize para ter candidatura própria na maioria dos municípios. Em Cuiabá, a candidatura é inevitável. Tem uma determinação do Encontro Nacional do PDT de que todas as capitais tenham candidatura própria.
  
Nossa expectativa é que a gente se organize para ter candidatura própria na maioria dos municípios. Em Cuiabá, a candidatura é inevitável. Tem uma determinação da nacional. 

Cuiabá já fez sua tarefa de casa, fez sua convenção municipal. O maestro Fabricio Carvalho é o presidente, com uma chapa fantástica de intelectuais e lideranças comunitárias. Ele também é pré-candidato. O Julier também é pré-candidato, mas quem vai definir isso é o diretório de Cuiabá. Julier teve oportunidade na eleição passada, está colocando novamente o nome dele. O Fabrício também colocou o nome, está andando. Acredito que vamos ter uma boa disputa em Cuiabá. E agora com a chapa pura [para vereadores], acredito que vai fortalecer os partidos.
 
MidiaNews – Estão articulando também nomes para disputar a Câmara de Cuiabá?
 
Allan Kardec – Temos pré-candidatos já preparados. Destaco o vereador Lilo Pinheiro, que veio para o partido, trouxe mais 10 a 12 pré-candidatos. Temos a Jusci Ribeiro, que foi suplente de deputada federal, tem engajamento fantástico na política, principalmente na questão do empoderamento da mulher na política. Nome forte também. Então, acredito que a gente deva conseguir duas a três vagas. Esse é o planejamento para Cuiabá.
 
MidiaNews – Ainda sobre a disputa pela Prefeitura, o senhor tem maior simpatia por algum desses dois nomes [Julier e Fabrício]?
 
Allan Kardec – Apoio a disputa interna, a discussão. E aí é o engajamento de quem tem vontade de ser candidato. Quem trouxe gente pra dentro do partido, quem filiou pessoas, quem está dando formação, quem está a fim de verdade.
 
O que não dá é para ser candidato ungido, isso não vai existir. Não existe candidato de gabinete, não existe candidato de escritório. Candidato é dentro das comunidades, no povo. Então, aquele que tiver uma performance melhor, leva. Acredito no consenso, inclusive. Tanto o maestro como o ex-juiz são pessoas inteligentes o suficiente para conseguir articular um nome de consenso dentro do PDT.
 
MidiaNews – De alguma forma, essa declaração do senhor – de que não existe candidato de escritório – é uma crítica ao Julier? O senhor acha que ele está querendo ser candidato dele próprio? Impor?
 
Allan Kardec – (Risos) Não é crítica, não. É um sinal para que a gente saia dos nossos gabinetes. Sei que temos o trabalho, temos que respeitar. Eu, particularmente, faço política depois do expediente, aos finais de semana e nas redes sociais, mas o PDT é um partido trabalhista, um partido do povo. Precisa ir pra rua, conquistar pessoas, dialogar, falar sobre política.
 
O Julier tem feito isso, o Fabrício também e quem tiver melhor performance nesse sentido, a direção municipal vai conduzi-lo para pré-candidatura e depois para a candidatura. A direção estadual vai apenas homologar aquilo que os municípios trouxerem. A ideia é construir uma chapa que tenha responsabilidade com o partido no Município. Não dá para você dar carteirada no Município do interior. Por isso é importante o fortalecimento da base no Município.
 
MidiaNews – Sobre a gestão do prefeito Emanuel Pinheiro, que avaliação o senhor faz?
 
Allan Kardec – Acredito que houve avanço sim. Em dois ou três pontos tem avançado. Acho que um bom avanço é a Educação municipal, que já vinha numa pegada boa – e a gente tem que ser honesto. A Educação desde o Roberto França vem se organizando. O Emanuel pegou essa tocada, não mexeu muito na questão pedagógica. Conseguiu recursos para melhorias – que o grande gargalo ainda é a infraestrutura. Não conseguiu inaugurar muitas creches, mas avançou, não ficou estagnado. Então, acho que a Educação pontua bem.

Outro ponto é o cuidado da cidade. O Roberto Stopa – que vem do Governo Mauro Mendes – há muito tempo está fazendo um bom trabalho de paisagismo... A gente vê no trabalho dele uma entrega interessante para Cuiabá. Os parques são uma realidade. Eu que sou da área do lazer tenho certeza que isso tem feito diferença, com esforço da Secretaria de Obras na questão do asfalto. Então, esses pontos vejo que o Emanuel foi bem. 
 
MidiaNews – E os negativos?
 
Allan Kardec – Tem pontos que pioraram e muito. A gestão do trânsito em Cuiabá piorou demais. Se fizermos uma análise, não aumentou o número da frota. Acho que esse é um ponto que o Emanuel está sofrendo muito. Essa história dos semáforos inteligentes, de inteligente não têm nada – parece que é pouca coisa, mas atrapalha muito a vida do cuiabano. Fora isso, ainda existe a licitação do transporte público, que até hoje não avançou, o que, na minha visão, é algo inadmissível. Empresas que estão aí faturando há anos e a licitação não desemperra.

A gestão do trânsito em Cuiabá piorou demais. Se fizermos uma análise, não aumentou o número da frota. Acho que esse é um ponto que o Emanuel está sofrendo muito. Essa história dos semáforos inteligentes, de inteligente não tem nada

A Saúde não precisa nem falar. Teve o esforço da inauguração do Pronto-Socorro, mas muita guerra lá dentro, problemas com a equipe que estava lá dentro. Denúncias de corrupção, Operação Sangria, ainda com o povo sofrendo. Vejo que faltou investimento na Saúde básica. E, em minha opinião, esse é o principal papel da gestão municipal. A gente quer entregar a terciária – que é urgência e emergência – mas o papel do Município é com a saúde básica, com o PSF [Programa Saúde da Família]. Crítica que eu fazia na época do Wilson Santos, do Mauro Mendes. Temos que ter equipes pra cuidar da saúde, mas estamos indo atrás da doença. É uma lógica invertida.

E, aproveito para fazer uma crítica ao Stopa, que acredito ser um dos melhores secretários: temos que implantar o programa de coleta seletiva do lixo. Cuiabá é uma cidade com pouca gente, não tem porque não termos implantada a coleta seletiva. Até porque crescemos mais verticalmente e é muito mais fácil fazer coleta em prédios. E isso precisa avançar.
 
Por fim, acho que posso citar a iluminação pública. Pagamos taxa de iluminação pública, mas alguns bairros ainda sofrem muito com iluminação precária. Precisamos acelerar esses pontos. Com certeza serão pontos que estarão em discussão no plano de governo do PDT para o ano que vem.
 
MidiaNews – Ainda tratando de um eventual projeto de reeleição do Emanuel, até que ponto o episódio do paletó irá influenciar o processo eleitoral?
 
Allan Kardec – Vai atrapalhar muito o Emanuel. No Brasil - em Cuiabá não é diferente - há um cenário conservador, que é difícil estar discutindo a pauta que não é também relacionada à corrupção.

Emanuel por estar fazendo um trabalho de razoável a bom, em alguns pontos bom, deve sair no primeiro turno na frente. Tem a máquina, sabe trabalhar e mostrou isso na eleição de seu filho, o deputado federal. 

Emanuelzinho, que diga-se de passagem está fazendo um bom trabalho na Câmara. É um jovem, a gente tem que apostar na juventude. Não podemos fazer assepsia de família. Assim como a Janaina Riva está demonstrando o trabalho dela na Assembleia Legislativa.
  
Mas a questão do Emanuel. Vejo que ele deve sair favorito na frente. Mas no segundo turno, vai ter um pouco de dificuldade. Porque no primeiro turno das eleições você fala de si, de suas propostas, você mostra o que faz e o que pretende fazer. No segundo turno, você tem que falar do outro. E aí quem tiver no segundo turno vai ter o que falar do Emanuel. O episódio do paletó ainda não foi explicado, tem CPI reaberta na Câmara. Acho que a tarefa do Emanuel vai ser se livrar dessa questão.
  
A gestão ele vai, obviamente, pontuar bem no que conseguiu avançar. A oposição ou os que estão com projeto diferente do dele vão demonstrar pontos em que não houve avanço. Mas na hora que chegar no campo de combate à corrupção, vai pegar pesado. Acredito que no segundo turno ele tenha muita dificuldade e deve perder a eleição.
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