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04/10/2019 - 12:58

Especial: Vila-Maria do Paraguai faz 241 anos domingo

A Origem do Pantanal vem do período terciário


A origem do Pantanal não é, como se pensava, resultado da separação do oceano há milhões de anos. Todos os geólogos concordam que não há ali indícios da presença do mar, e um dos que melhor conhecem a região, Fernando Flavio Marques de Almeida, diz que ele representa uma área que se abateu por falhamentos de blocos durante o período Terciário. Animais que estão presentes no mar também existem no pantanal, formando o que se pode chamar de mar interior. A área alagada do pantanal se deve a lentidão de drenagem das águas que fluem lentamente, pela região do médio Paraguai, num local chamado de Fecho dos Morros do Sul.

Atraído pela existência de pedras e metais preciosos (que eram usados por indígenas, que já povoavam a região, como adornos), entre eles o ouro, o português Aleixo Garcia, em 1524, acabou sendo o primeiro a visitar o território, e alcançou o rio Paraguai através do rio Miranda, atingindo a região onde hoje está a cidade de Corumbá. Nos anos de 1537 e 1538, o espanhol Juan Ayolas e seu acompanhante Domingos Martínez de Irala seguiram pelo rio Paraguai e denominaram Puerto de los Reyes à lagoa Gayva.

Por volta de 1542-1543, Álvaro Nunes Cabeza de Vaca (espanhol e aventureiro) também passou por aqui para seguir para o Peru. Entre 1878 e 1930, a cidade de Corumbá/MS (situada dentro do Pantanal) tornou-se o principal eixo comercial e fluvial no Mato Grosso (antes da divisão dos estados, ocorrida em 1977). Depois acabou perdendo sua importância para as cidades de Cuiabá e Campo Grande, iniciando assim um período de decadência econômica.  O incentivo dado pelos governos a partir da década de 1960 para desenvolver a região Centro-Oeste, onde se localiza Mato Grosso, através da implantação de projetos agropecuários, trouxe muitas alterações nos ambientes do cerrado, ameaçando a sua biodiversidade.

Preocupada com a conservação do Pantanal, a Embrapa instalou, em 1975, em Corumbá, uma unidade de pesquisa para a região, com o objetivo de adaptar, desenvolver e transferir tecnologias para o uso sustentado dos seus recursos naturais. As pesquisas se iniciaram com a pecuária bovina, principal atividade econômica, e hoje, além da pecuária, abrange as mais diversas áreas, como recursos vegetais, pesqueiros, faunísticos, hídricos, climatologia, solos, avaliação dos impactos causados pelas atividades humanas e sócio-economia. Nos últimos anos houve investimentos maciços no setor do ecoturismo, com diversas pousadas pantaneiras praticando esta modalidade de turismo sustentável. E hoje o maior pecuária, agricultura entre outros estão em Mato Grosso. ***___ Rodrigo Lobato.

 
 
Rio Paraguai em Cáceres: uso e ocupação no entorno
 

 O rio Paraguai na região de Cáceres-MT é caracterizado por um segmento em que o canal e a planície fluvial estão bem definidos, sendo o principal canal de escoamento do Pantanal. Sua nascente principal encontra-se nas bordas do Planalto dos Parecis, na cota altimétrica de 480 m, no município de Diamantino.

Percorre a depressão do rio Paraguai com altitudes, que variam de 98 a 280m. Documentos etnográficos sobre a região mostram que a navegação do rio Paraguai iniciou com o uso de pequenas canoas feitas de troncos de árvores e movidas a remo, utilizadas pelos índios para se locomoverem para outros locais.


O desenvolvimento da navegação ocorreu a partir do século XVI, no momento em que os europeus iniciaram a colonização na América, época em que expedições espanholas navegaram com embarcações maiores pelo rio Paraguai. No século XVIII, o rio Paraguai era usado para o transporte de produtos necessários ao abastecimento das fazendas e do núcleo urbano (Cáceres), também para o escoamento da produção das fazendas ribeirinhas (carne bovina) e do ouro proveniente da capital do Estado, Vila Bela da Santíssima Trindade.A ocupação da planície iniciou-se no século XVIII, com o surgimento do povoado de Cáceres, em 1772, à margem esquerda do rio Paraguai. Atualmente, no perímetro urbano de Cáceres, as margens encontram-se totalmente ocupadas por ruas, residências, áreas e recreação, comércio, indústrias, ancoradouros e a área portuária.

Na última década, ocorreu um crescimento expressivo da navegação, principalmente pelo uso de barcos de pequeno e médio porte, bem como a navegação com grandes embarcações e comboios de chatas para transporte de grãos. Sendo assim, o presente estudo objetivou descrever o uso e ocupação da margem esquerda do rio Paraguai, compreendida entre a confluência da baía do Malheiros com o rio Paraguai e a ponte Marechal Rondon na cidade de Cáceres. ***___Ademir Barbosa.
 
Um monumento documento
 

Para alguns o Marco de Jauru é “produto” do passado, portanto, de relevância considerável, tendo em vista a importância na memória coletiva local.

Neste sentido, o Marco de Jauru se torna instrumento de veneração, não é questionado pelo grupo social que o celebra, que o imputa significados diversos.

Só a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usálo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa.

Assim, não se trata de pensar o Marco de Jauru enquanto monumento, mas, enquanto documento. Situá-lo em seu contexto histórico, percebê-lo enquanto um artefato de poder capaz de inferir sentidos ao seu próprio tempo histórico.

Nesse sentido, enquadremo-lo em seu devido tempo, ao nos reportar às atividades de demarcação do Tratado de Madri na América do Sul que tiveram relativo atraso, devido à morte do rei D. João V, em 31 de julho de 1750, adiando o início dos trabalhos para o ano seguinte.

Duas comissões demarcatórias foram constituídas por profissionais nomeados pelas respectivas Coroas.

A comissão da parte sul teve como comissários principais, do lado português, o governador do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade (Conde de Bobadela), do lado espanhol, o Marquês de Val Lírios.

Também foram nomeados José Custódio de Sá e Faria, representante da Coroa portuguesa, e D. Manuel Antonio de Flores, do lado espanhol, como comissários responsáveis para estabelecer os marcos fronteiriços até a foz do rio Jauru, na capitania do Mato Grosso.

Os trabalhos da Partida Sul tiveram início em 1752, mas sofreram interrupções, devido à eclosão do levante guaranítico ocorrido entre 1754 e 1756. Somente em dezembro de 1759, as Coroas de Portugal e da Espanha consideraram os trabalhos concluídos.

Com a eclosão da Guerra dos Sete Anos (1756-1763), todo o trabalho feito por essa comissão foi considerado nulo, devido ao distrato do Tratado de Madri e assinatura de um novo acordo entre as duas Coroas, o Tratado de El Pardo, em 1761.
 

As comissões, formadas por portugueses e espanhóis, visavam, além de promover a fixação de limites de suas possessões na América do Sul, auferir o maior número de informações sobre povoados, localização de rios e as potencialidades econômicas das áreas a serem demarcadas.

As relações entre portugueses e espanhóis ficaram menos tensas, após a assinatura do Tratado de Ildefonso, em 1º de outubro de 1777. Com esse novo acordo, Portugal teve que abrir mão, definitivamente, da Colônia do Sacramento e do território dos Sete Povos das Missões. Conseguiu assegurar, no entanto, a posse da capitania do Rio Grande de São Pedro e a Ilha de Santa Catarina.

Na capitania geral do Cuiabá e Mato Grosso, as terras ocupadas pelos lusobrasileiros, desde meados do século XVIII, foram definitivamente garantidas, conforme o que tinha sido estabelecido no Tratado de Madri, cerca de vinte e sete anos antes.

Vila Maria do Paraguai surge, neste contexto, da expansão político-territorial e defesa de fronteiras com os domínios espanhóis.

Havia a preocupação por parte da Coroa portuguesa não somente em criar novas povoações, mas a de civilizar os seus habitantes.

Conclui-se, até o momento, que o Registro de Jauru, por exemplo, serviu em alguns momentos de porta de entrada para que os portugueses e os espanhóis promovessem o contrabando oficial – patrocinado pela Coroa.
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