Imprimir

Imprimir Artigo

20/11/2016 - 11:43

'Os negros do setor público estão na PM, matando outros negros', acusa Conselheiro do TCE

Ele nasceu pobre na comunidade de Pavão-Pavãozinho, uma das regiões mais violentas do Rio de Janeiro. Foi entregador de jornais e fez bicos para bancar os estudos.
 
Poderia ter se resignado com o que o destino reserva à maioria dos negros pobres brasileiros. Mas uma crença inabalável na educação, herdada de seu pai – um homem que conseguiu se formar aos 55 anos -, levou-o ao banco de uma universidade federal. De lá para excelentes cargos no funcionalismo público. Hoje ele é conselheiro substituto do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT), um dos postos mais cobiçados do serviço público brasileiro.
 
Moisés Maciel, de 47 anos, sabe que é uma exceção. Embora não tenha se beneficiado de políticas de cotas raciais, as defende por entender que são mecanismos de integração dos negros numa sociedade historicamente excludente.
 
Na semana em que se celebra, no Brasil, o Dia da Consciência Negra, o MidiaNews entrevistou o conselheiro em seu gabinete. Ele falou de discriminação, aceitação, cotas e superação. E defendeu políticas de inclusão para modificar o destino de milhões de negros no Brasil.
 
Confira os principais trechos da entrevista:
 
MidiaNews – O senhor já sofreu algum preconceito por ser negro e fazer parte da elite do serviço público no Brasil?
 
Moisés Maciel – Preconceito eu não digo que tenha sofrido. Eu penso que a nossa sociedade, em regra, não é preconceituosa. Ela é diferente das demais que são preconceituosas. Porque quando a gente faz uns parâmetros com outros países em que existe realmente a realidade do preconceito, nós vemos que, no Brasil, é uma questão de diferença. É uma questão de você parar numa esquina de uma cidade, por exemplo, e enxergar onde estão os negros dessa sociedade.
 
Uma vez eu fiz esse exercício. Parei na esquina de uma unidade de Justiça - onde eu trabalhava na área da segurança - e ali vi onde estavam os negros. Eu estava tomando conta do trânsito como guarda judiciário. Outro negro estava recolhendo o lixo. Outro era policial. Outro era motorista. Outro era vendedor ambulante. Não entrou no Tibunal nenhum magistrado negro durante aquela minha observação. Então os lugares que os negros ocupam na sociedade são esses ainda. A posição de conselheiro do TCE ou de magistrado é uma posição que, em regra, não é onde um negro está na nossa sociedade.
 
Marcus Mesquita/MidiaNews
Moisés Maciel  161116
"Eu penso que a cota não é a saída, é um paliativo. Porque a saída seria fortalecer o ensino básico"
 
E eu dou um exemplo: outro dia estava em Brasília em um evento com meus colegas de outros tribunais, que me conhecem. E naquele lugar algumas pessoas que não me conheciam sempre me abrodavam com a seguinte frase: "por favor, onde é o banheiro"; "onde é a saída"; "por favor, você poderia chamar o meu motorista".
 
Não é uma questão de preconceito ou descriminalização; é uma questão de posicionamento [do negro na sociedade].
 
A questão do preconceito existe, principalmente no setor privado. Eu já sofri nesse setor. É só a gente exergar, por exemplo, quando vai no shopping center. Quantos vendedores negros vão te atender?
 
Eu faço um exercício. Hoje estou com 47 anos e posso garantir que nunca fui atendido por um médico negro ou um dentista negro. São lugares que os negros não ocupam no Brasil, apesar de sermos mais de 50% da população. Para o Brasil virar a página, essa inclusão precisa acontecer.
 
MidiaNews – O senhor acredita que as cotas são uma boa saída?
 
Moisés Maciel – Talvez, nesse momento, as cotas sejam necessárias. Eu penso que a cota hoje não é a saída, é um paliativo. Porque a saída seria fortalecer o ensino básico.
 
Eu tive um professor na minha casa que era o meu pai. Foi ele quem me ensinou o verbo, a tabuada, todo ensino básico. Foi ele que nos deu a base, ele era o nosso professor. Todos os sábados - apesar de ter três empregos - ele chegava e estudava conosco. Nós somos em oito filhos. Quem quis estudar, estudou. Minhas irmãs todas estudaram em universidades federais.
 
Uma delas estudou na PUC [Pontifícia Universidade Católica] do Rio de Janeiro, por causa da "Pastoral do Negro". Diz a lenda que chegou um reitor novo da Itália naquela época. E ele não se apresentou de imediato como reitor. Ficou circulando pelo campus. Depois que se apresentou, ele se reuniu e fez duas perguntas para os professores e gestores da universidade. A primeira foi: cadê os alunos negros daqui? A segunda foi: cadê os professores negros daqui? Nós não estamos no Brasil?!
 
Marcus Mesquita/MidiaNews
Moisés Maciel  161116
"Se você olhar para a sociedade, ela não está igualitária. O poder público precisa de alguma forma incluir essas pessoas negras"
 
O Brasil tem esse déficit que precisa ser corrigido. A diferença da Suécia para o Brasil é que lá eles têm uma sociedade igualitária, todos têm oportunidade. Então, quando o Brasil conseguir incluir aqueles negros que estão sendo mortos pela polícia - ou pelos próprios irmãos na comunidade -, aí sim o Brasil vai ter dado um grande passo em relação aos índices de desenvolvimento humano.
 
MidiaNews – O senhor acha que as cotas precisam ser raciais ou bastam ser sociais?
 
Moisés Maciel – No caso do Brasil, quando a gente olha para quem ocupa a base da pirâmide vê quem está lá. Basta ler um jornal. Se a notícia está falando de uma tragédia perto de um córrego, você vai ver que a população atingida é negra. Se tem gente sendo presa por crimes de sangue, eles são negros. Cadê os negros do mensalão? Não tem negros. Cadê os negros do “Petrolão”? Não tem negros lá também. Tinha que haver cota de corrupção para negros também (risos).
 
Porque é exatamente isso que está acontecendo. Se você olhar para a sociedade, vai ver que ela não está igualitária. O poder público precisa de alguma forma incluir essas pessoas.
 
Quando a gente fala de corrupção, para mim a maior corrupção que já houve foi a escravidão. Ela é muito maior do que o “Petrolão”. Foram vários e vários anos de escravidão. E essas palavras não são minhas, são do [procurador geral da República] Rodrigo Janot, em um simpósio ítalo-brasileiro de combate à corrupção. Ele falou para uma plateia seleta de vários promotores, juízes, conselheiros, magistrados, jornalistas italianos... Ele falou que a maior corrupção que já ocorreu no Brasil foi a escravidão. Foi a primeira vez que eu ouvi isso. Então, se nós considerarmos que toda essa população sofreu uma violência - e ainda sofre -, como sociedade, nós temos que ter mecanismos para incluir e para atrair esse jovem negro. E dizer para ele que ele é importante.
 
MidiaNews - As cotas devem ser permanentes?
 
Moisés Maciel - Toda política precisa de uma porta de entrada e uma porta de saída. Não adianta ser para sempre. Até porque, se uma pessoa entra por cota, pode se sentir diminuída, achando que só entrou por causa da cota e que não foi pelo seu próprio mérito.
 
Marcus Mesquita/MidiaNews
Moisés Maciel  161116
A maior corrupção que já houve foi a escravidão. Muito maior do que o “Petrolão”
 
Nós vimos a política do [ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso, que criou o Bolsa Família e outras pessoas se assenhorearam dessa política pública. Também precisa de entrada e saída. Essa foi uma política pública que favoreceu muito a população negra.
 
MidiaNews - E fora das políticas públicas, qual é a saída?
 
Moisés Maciel - A única saída é a Educação, essa sim resolve. Nós precisamos formar empreendedores. Porque, em regra, o empreendedor não tem cheiro, não tem cor. Ele tem que ter fé porque o capitalismo é uma obra de fé. Em que você trabalha porque você acredita que no final do mês vão te pagar. Você vende porque acredita que vai receber e você compra porque acredita que vai pagar. Você move a economia com a produção. Então eu penso que a educação e empreendedorismo sejam a saída para a criação de uma classe média brasileira - que inclua os negros e os atuais pobres. Isso nada mais é do que dar a oportunidade para as pessoas, mas ensinando-as através da educação.
 
MidiaNews – O que o senhor acha da proposta de cotas também em concursos públicos?
 
Moisés Maciel – Eu gostaria de tirar um retrato das carreiras públicas: em algumas carreiras, se você não trabalhar com este processo de inclusão, você não terá essas pessoas [negros] lá. Essas pessoas sempre vão ficar fora. Não é questão de favorecer "A" ou "B". Trata-se de um olhar para a sociedade. Você precisa mesclar e oportunizar.
 
O que atrai hoje a população negra é o futebol. Eles também se veem muito nos grupos de pagode, na televisão ou na música. A religião também atrai - hoje temos muitos negros religiosos. Mas no setor público não há. Onde vemos negros no setor público? Na PM matando outros negros. E a polícia é uma necessidade que a sociedade têm. Porque ela se coloca sempre entre aqueles que têm os bens e os que não têm. Nós precisamos avançar para além disso, ir para outros setores. A visibilidade do negro é muito difícil.
 
O Brasil precisa se enxergar como Brasil. Não é um problema do negro. É um problema da sociedade brasileira, porque ela só vai se desenvolver no dia em que ela incluir o negro no mercado de consumo. O dia que ela promover a ascensão da comunidade negra. Aí sim, nós vamos avançar.
 
MidiaNews – Dentro desse contexto, o senhor acha que uma data como o dia 20 de novembro ajuda na conscientização?
 
Moisés Maciel – O Brasil é um país negro que precisa ter orgulho da sua negritude e orgulho da sua consciência negra. Porque muitas pessoas que andam pelas nossas ruas hoje - que nós consideramos brancas -, se elas fossem aos Estados Unidos seriam consideradas negras. Porque elas têm uma ascendência negra. E muitas pessoas que andam pelas ruas do Brasil que têm a pele negra possuem ascendência branca.
 
Precisamos saber que os negros e os brancos do Brasil são irmãos e precisam se desenvolver juntos. A gente não pode excluir ninguém pela cor da sua pele. Ou pelo seu biotipo. Precisamos incluir a todos.
 
Marcus Mesquita/MidiaNews
Moisés Maciel  161116
"Precisamos saber que os negros e os brancos do Brasil são irmãos e precisam se desenvolver juntos"
 
MidiaNews – O senhor não acha que as políticas raciais podem, de certa forma, dividir o País, no sentido de que a população branca se sinta discriminada. Por correr o risco de perder uma vaga de trabalho em razão da cor de sua pele? Não corremos esse risco?
 
Moisés Maciel – Isso é um risco que a gente precisa considerar e medir. Porém nós temos que observar também que essa população negra, que vem sendo massacrada ao longo de vários séculos, precisa ser incluída por algum período de tempo – e a lei de cotas no Brasil é válida por dez anos, o que já está acabando.
 
Já que o mercado não dá chance para a inclusão, o poder público tem que intervir. Porque só se faz uma política pública quando o mercado não consegue absorver essas pessoas. Essas pessoas precisam disso porque, senão, vão continuar se perpetuando na miséria.
 
Por que o lugar do negro é na favela, em cima do morro, "tomando" tiro da polícia? Eu me lembro que, quando era adolescente, me sentia um perseguido pela polícia. Eu estava passando na rua e era: “Mão na cabeça"; "vai morrer”. Só porque era negro.
 
Infelizmente a maioria dos negros está na marginalidade. Por isso eles precisam ser inseridos na sociedade. E, pra isso acontecer, é preciso de políticas públicas, mesmo que tardias. Precisamos sair desse estado de invisibilidade. Porque essa invisibilidade disfarça e mitiga o sofrimento de toda a a população numerosa, que só é importante na época de votar.
 
Mas vamos fazer um “raio-x”: Quantos negros nós temos no Congresso? Quantos deputados estaduais negros nós temos? A população negra não se sente como os afro-americanos, que se organizaram. A população negra é dispersa no meio da sociedade.
 
MidiaNews – O senhor é um conselheiro substituto do Tribunal de Contas do Estado. Já foi discriminado por algum gestor fiscalizado?
 
Marcus Mesquita/MidiaNews
Moisés Maciel  161116
"Eu lembro que quando era adolescente me sentia um perseguido pela polícia
 
 Moisés Maciel – Não. Nunca percebi.
 
MidiaNews – O senhor falou de quando a polícia o abordava na adolescência. Foi isso que o fez ter consciência de que era a educação que mudaria sua vida?
 
Moisés Maciel – Essa questão da educação veio de berço. Porque o meu pai acreditava na educação. Então ele exigia de todos nós que estudássemos. E essa questão da polícia, que abordava jovens negros, meu pai também nos preparou para isso. Lembro que quando tinha sete anos, eu estava no banheiro e meu pai bateu na porta. Então falei: “Tem gente”. E ele bateu de novo. E novamente, falei: “Tem gente”. E ele insistia e eu respondia a mesma coisa. Quando eu saí do banho, ele me chamou pra conversar e disse: “Você sabe porque papai estava batendo na porta?” Falei "não. Aí ele disse: “Você se prepare porque, no Brasil, negro ainda não é gente. Você é um negro. E para você ocupar um lugar de destaque, terá que saber duas vezes mais que as outras pessoas. Então vá estudar”.
 
Nós tivemos uma formação familiar muito forte, que nos preparou para enfrentar o mundo real. E tudo isso meu pai me falava porque já teve que enfrentar muito preconceito. Eu enfrentei muito menos que ele. E penso que meu filho vai enfrentar muito menos que eu. Porque o Brasil já está muito avançado nessa questão e precisa continuar. Por isso é importante a data do dia 20 de novembro para debater a consciência negra.
 
MidiaNews –  A presença de pessoas em cargos de destaque, como o ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, por exemplo, ajuda nessa conscientização?
 
Moisés Maciel – Ajuda porque o negro precisa se ver. É muito importante quando você consegue se espelhar em alguém. Temos que pensar: "em quem eu me espelho? Em qual líder vou me espelhar?" Nós precisamos sempre de um ícone e o Joaquim Barbosa, enquanto esteve no Supremo, foi um orgulho para toda comunidade negra.

Nos Estados Unidos, onde apenas 11% da população é negra, em todos os segmentos é colocado um ícone negro para as pessoas poderem se ver. Isso atrai a população para que ela saia da marginalidade. A marginalidade é muito cômoda, ela oferece uma acomodação incrível. “Eu não tenho chance mesmo, então vou ficar por aqui. Vou estudar pra quê?”. Os jovens de hoje em dia [negros e pobres] não sabem para que estão indo à escola. Porque eles não têm em quem se espelhar – os grandes empresários não são negros.  Isso precisa ser resgatado. E colocar dentro dessa sociedade marginalizada que elas podem acreditar no capitalismo e crescer através disso.
 
O Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas] precisa conversar com esse povo nas escolas e incentivar. É isso que as comunidades católicas e evangélicas também precisam fazer. O capitalismo se alimenta de um sonho de uma sociedade melhor. O Brasil precisa de cada um dos brasileiros, seja branco, negro, ou mestiço, porque a sociedade só vai se desenvolver com a inclusão de todos.
 
MidiaNews – Conte um pouco de sua história antes da vida pública.
 
Marcus Mesquita/MidiaNews
Moisés Maciel  161116
"Eu nasci no Rio de Janeiro. Meu avô era um colono filho de escravos"
 
Moisés Maciel – Eu nasci no Rio de Janeiro. Meu avô era um colono filho de escravos. Então ele ainda pegou a época escravidão. A minha avó já era filha bastarda da colonização italiana. Porque no Brasil, quando houve a abolição da escravatura, não existia uma classe média. Então quando vieram os imigrantes, eles eram muito pobres e ficaram bem próximos aos ex-escravos. E acabaram, de alguma forma, tendo contato.
 
Eu nasci numa comunidade na zona sul do Rio de Janeiro. Era uma comunidade pobre até porque a maioria dos negros cariocas é de comunidade.
 
Eu era da comunidade de Pavão-Pavãozinho, que volta em meia está no noticiário com muita morte e violência. A grande vantagem de viver ali naquela comunidade é que nós estávamos a poucos metros da Avenida Atlântica. A poucos metros das melhores escolas públicas da Zona Sul do Rio, a poucos metros da UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], onde estudei e ia a pé.
 
MidiaNews – Onde o senhor estudou nos primeiros anos de aprendizado?
 
Moisés Maciel – Estudei em escola pública. Lembro-me que estávamos passando por uma crise e eu não tinha como comprar os livros. Uma vez foi feito um teste de nivelamento e eu me destaquei. E ganhei todos os livros. Aquilo pra mim foi uma grande conquista, uma das primeiras de que me recordo.
 
Aí comecei a trabalhar. Havia uma pessoa que me ajudou muito. Eu falava para ela que não precisava me pagar, que era só pagar os meus livros. E assim eu fui até completar 14 anos.
 
Depois, trabalhei no Globo, entregando jornal pelas madrugadas. E isso foi muito importante pra mim porque todos os dias eu lia o jornal antes de entregá-lo. E depois, quando terminava a entrega, eu lia o Jornal do Brasil [concorrente de O Globo e que deixou de circular]. Com 14 anos eu já estava muito bem informado. E tinha um sonho de ser jornalista porque aquilo para mim era fascinante. Eu me lembro que começava a procurar erros de português no jornal depois que lia toda a notícia.
 
MidiaNews – E o ensino superior?
 
Moisés Maciel – Em 1991, fiz vestibular e passei na UFRJ para Ciências Contábeis, o que foi muito bom. Lembro-me que eu tinha um professor que nos jogou uma praga dizendo que nós viveríamos de contabilidade pública. Curioso que hoje eu respiro contabilidade pública e estou no Tribunal de Contas.
 
Foi só quando eu estava na faculdade que percebi que o mercado de trabalho era fechado para os alunos negros. Lembro de uma vez que eu era o melhor da sala e fui fazer o programa de trainee num banco. Os diretores estrangeiros me aprovaram e fui ovacionado pelo meu desempenho. Aí o último teste seria com um gerente brasileiro, que por um acaso, para os estrangeiros, era considerado um negro, mas para os brasileiros era branco. E ele falou assim pra mim: “Você acha que vai entrar aqui por cima de mim? Eu estou aqui há tanto tempo. Ralei muito. E você acha que eu vou deixar neguinho entrar aqui e passar por cima de mim. Você não vai entrar aqui, você está fora. Não vou te dar carta branca”.
 
E eu perguntei por quê? Ele disse que não tinha muita explicação, que ali não era lugar de gente da minha laia. “Volta lá pra sua comunidade”, ele disse. Eu fiquei muito triste com aquilo. Como meu pai já me dizia para eu tentar a carreira publica, comecei a pensar nisso, porque até então eu detestava o setor público.
 
Então fiz meu primeiro concurso para o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Fiz para treinar, mas acabei passando para técnico judiciário.
 
Aí comecei a ver a diferença. Porque eu era estagiário e ganhava um salário mínimo. De uma hora para outra, comecei a ganhar uma remuneração de 10 salários mínimos. Aí, pensei: tô rico (risos)!
 
MidiaNews - O senhor atuou no Espírito Santo antes de vir para Mato Grosso, não é mesmo?
 
Moisés Maciel – Em 1996, fiz o concurso de contador judicial no Tribunal de Justiça do Espírito Santo. Havia uma vaga e passei. Ali começou minha jornada naquele Estado, onde eu trabalhei por 13 anos. Em todo esse tempo, continuei estudando para concurso.
 
Sempre tive mania de corrigir textos. Quando uma colega me pediu pra corrigir a monografia dela sobre controle externo, eu me apaixonei pelo assunto. Então direcionei meus estudos para essa área e passei em alguns concursos para conselheiro substituto. Passei em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, e não deu pra classificar. Então passei em Mato Grosso em 2008. Tomei posse em 2011. Imprimir