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12/06/2010 - 00:00

Gefron não tem estrutura para enfrentar traficantes

Por Jornal Oeste

Fernando Duarte A GAZETA Policiais do Grupo Especial de Segurança de Fronteira de Mato Grosso (Gefron) enfrentam, além dos traficantes, uma infraestrutura limitada e precária. Chegavam a ter que pedir ajuda a fazendeiros e são, constantemente, "testados" pelos traficantes que usam iscas, com pequenas porções de drogas, para tirar os policiais do caminho para porções maiores entrarem. A audácia dos infratores também é grande. Até uma estrada que foi implodida pela Polícia Federal no ano passado já foi consertada pelos traficantes e voltou a ser rota. Os carros da Polícia são poucos e o efetivo mínimo para cobrir 751 km de fronteira seca com a Bolívia. Os problemas estão nos postos de vistoria instalados perto de San Mathias, na Bolívia. Com isso, os caminhos ficam fáceis para entrada principalmente de pasta-base de cocaína no Brasil. Esta realidade foi conhecida de perto ontem pelos membros do Ministério Público, Judiciário, governo do Estado, Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e Comando Geral de Polícia Militar na base do Gefron em Porto Esperidião que participaram do segundo dia do "2º Encontro de Fronteira", que trata da problemática do tráfico de drogas na região. O coordenador do Gefron, tenente-coronel Antônio Mario Ibanez da Silva Filho, confirma que os policiais utilizavam do auxílio de vizinhos fazendeiros para fazer as refeições e tomar banho. Segundo ele, a situação melhorou depois que um poço foi perfurado e um trailer e um contêiner foram colocados próximo ao posto para servir de alojamento. "Quando a gente pede para alguém cria um vínculo. Isso eu não acho bom. Por isso, não é para pedir nada a ninguém". O Posto "Avião Caído" tem uma estrutura pequena, distante e com pouco efetivo. Perto dali, ano passado, a Policia Federal implodiu uma das principais vias de acesso do entorpecente para o Brasil, que já foi refeita. Ibanez destacou também que o baixo efetivo (são apenas 98 policiais) e o reduzido número de viaturas atrapalha todo o trabalho. "Só temos uma viatura. Parece que mandam um carro (com droga) para cá como boi de piranha. Eles sabem que vamos ter que nos deslocar para registrar a ocorrência". Já o Posto Corixa não pertence ao Gefron. Na realidade, lá é uma instalação para verificar a sanidade animal e a entrada e saída de veículos da Bolívia, país com grande incidência de febre aftosa. Os integrantes Gefron utilizam a estrutura em parceria e novamente sentem a dificuldade do reduzido número de policiais. Dos 35 veículos que seriam locados para o grupo, parte iria para o Ministério Público Estadual. No entanto, o coordenador solicitou a instituição que ceda esses veículos para o grupo fronteiriço. Investimentos O Gefron receberá, até final de 2010, R$ 8 milhões em equipamentos. O investimento é parte do Policiamento Especializado de Fronteira (Pefron), programa do governo federal que irá abranger os 11 estados do Brasil que estão na região de fronteira. A injeção de equipamentos na instituição continuará por pelo menos 4 anos. Eles serão adquiridos a partir de outubro, já que o período eleitoral impede o repasse antes dessa data. O coordenador nacional do Pefron, Daniel Ulisses Mendes da Rocha, afirmou que, mesmo que haja mudança no partido que assuma a Presidência da República, os investimentos virão, já que o trabalho é de Estado e não de governo. O Pefron foi criado por lei. "Imediatamente nós vamos repassar viaturas descaracterizadas para o Gefron, mas os recursos vão garantir jipes, fuzis, armamento em geral". De acordo com o major do Gefron, Flávio Ramalho dos Santos, a principal dificuldade é a extensão territorial, os mais de 750 km de fronteira seca. Para o trabalho, existem 98 policiais do grupo que atuam exclusivamente por terra. Um dos ganhos para o Gefron seria a aquisição de um helicóptero exclusivo da unidade. Sobre esse assunto, Daniel Rocha garantiu que em 2011 os policiais de fronteira terão uma aeronave Caravan, além do helicóptero. Mas há possibilidade deste ano isso ainda acontecer. "O Governo Federal repassou R$ 6 milhões para Mato Grosso, que adquiriu um helicóptero. O Governo Estadual comprou o veículo e ainda sobraram R$ 2 milhões. Ele vai investir mais R$ 1 ou R$ 2 milhões para adquirir outro para o Gefron". Pefron Dos 11 Estados fronteiriços, somente 3 possuem um departamento policial especializado na supervisão e impedimento da entrada de materiais ilícitos no país. O primeiro a criar foi Mato Grosso do Sul, há mais de 20 anos, com o Departamento de Operações de Fronteira (DOF). Depois foi Mato Grosso com o Gefron em 2002. Este ano, o Paraná criou o dele, a Força Alfa. O Governo Federal pretende montar 11 bases de monitoramento do Pefron em toda a fronteira. Aos estados que já possuem departamento especializado, o investimento será um reforço na atuação. Os que não têm, serão instituídos. Ousadia A forma como agem os traficantes que cruzam a fronteira impressiona pela ousadia e criatividade. O trajeto com a pasta-base de cocaína é percorrido por vários quilômetros a pé pelas chamadas "mulas" ou a droga é camuflada em veículos que cruzam a linha entre Bolívia e Brasil. Os policiais do Gefron se deparam, toda a semana, com situações inusitadas na travessia. Além dos métodos "tradicionais", em que cápsulas são engolidas ou os traficantes colocam a droga em forma de colete em torno do corpo, muitos disfarçam a presença do produto. "O jeito mais estranho que vi foi quando atravessaram a fronteira com cocaína líquida. Ela estava escondida em uma garrafa de uísque", contou um integrante do Gefron. Houve caso da pasta-base de cocaína (que representa quase 100% dos entorpecentes apreendidos) ter sido transportada em raízes de mandioca e dentro de abóboras. Alguns se passam por turistas e colocam a droga na base de plástico de malas ou, no caso das mulheres, no solado do sapato de salto alto. Outros trazem da Bolívia o produto em rapaduras. Enfermeira Sendo a única mulher no Gefron, a enfermeira Antônia Inês Canhede é quem descobre nas mulheres os entorpecentes. Ela apalpa o estômago delas e, caso sinta alguma saliência, há grande chance de ser uma "mula". "Outra forma de descobrir é que geralmente elas estão com muito chiclete. Andam com um maço de chiclete para aliviar a pressão do pescoço". Nesse caso, o pescoço da "mula" fica inchado e a mastigação ajuda. As "mulas" também recusam refeição, café e até beber refrigerante, para que a digestão (e defecação) não aconteçam. Para transportar 30 cápsulas, uma "mula" ganha 100 dólares. Veículos No fundo da base do Gefron em Porto Esperidião está uma caminhonete velha, uma Ford F-1000 de placa de Nossa Senhora do Livramento. Somente nela, os policiais descobriram 100 quilos de pasta-base de cocaína. A droga estava em um fundo falso da carroceria. Para tentar passar despercebido, o proprietário (que foi preso) serrou o fundo e colocou a droga em uma grande placa de madeira, que pode ser retirada em forma de gaveta. Em outra caminhonete, as barras de ferro que sustentam a carroceria foram "cirurgicamente" cortadas e nelas inserida a pasta-base.
 
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