Notícias / Educação

12/05/2009 - 00:00

Belgas pretendiam montar uma colônia em Mato Grosso a partir de Cáceres

Por Jornal Oeste

LYGIA LIMA Assessoria/Unemat A fazenda Descalvados em Cáceres (foto), onde funcionava uma indústria de carne e derivados destinada a exportação seria a ponta de lança de um projeto de colonização Belga no Brasil. Essa é a conclusão do pesquisador, Domingos Sávio Garcia, professor do Departamento de História da Universidade do Estado de Mato Grosso, que está tendo o seu trabalho publicado em livro “Os Belgas na Fronteira Oeste do Brasil” que será lançado pela Fundação Alexandre Gusmão, ligada ao Itamaraty. O trabalho do professor pesquisador é fruto da sua tese de doutorado e o seu interesse pelo tema começou na década de 90, quando conheceu o pesquisador belga Eddy Stols, que se dedica a estudar o Brasil e os interesses da Bélgica em montar uma colônia no Brasil. A pesquisa confrontou diversos documentos que levaram o professor a constatar o interesse dos belgas na região, o que poderia ser confirmado a partir da solicitação para a instalação de um Consulado da Bélgica em Descalvados, apesar das representações existentes no Rio de Janeiro e em São Paulo. O pedido dos belgas foi negado, mas o Brasil autorizou a instalação de um vice-consulado. Domingos Sávio pode comprovar que a área da fazenda Descalvados, local em que funcionava uma moderna fábrica de extração de carne bovina e derivados que se destinava a exportação européia e que garantia rentáveis lucros, além das terras destinadas a exploração de borracha e pecuária era guardada por militares belgas que já teriam atuado no Congo (África) onde a Bélgica tinha tido uma experiência colonizadora. A pesquisa do professor da Unemat aponta que a região da fronteira oeste foi cuidadosamente escolhida pelos belgas no final do século XIX (1895) dada a sua localização entre as bacias platina e amazônica o que facilitaria colocar em ação outras conquistas no continente.O projeto da Bélgica começou com a aquisição da fábrica de carne argentina em Descalvados pela empresa Compagnie des Produits Cibils, que tinha sede na Antuérpia. Essa aquisição foi o ponto de partida para que outros investimentos belgas começassem na região como a compra de cerca de 5 a 8 milhões de hectares de terras na região onde hoje estão os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Essas terras adquiridas pelos belgas correspondem a 80 mil quilômetros quadrados. Para Domingos Sávio, a aquisição dessas terras mais a oeste da fronteira brasileira são indícios da intenção colonizadora dos belgas no Brasil. O projeto da Bélgica acabou sendo abandonado em decorrência da solução para o impasse da anexação do território do Acre ao Brasil que era alvo de disputas entre seringueiros brasileiros que residiam em m território boliviano que trabalhavam para grupos norte-americanos. O professor afirma que com a resolução da questão acreana em 1903 os belgas começaram a se desmobilizar. “Na questão do Acre, foi como se os EUA dissessem: aqui ninguém tasca”, afirma Domingo Sávio. O pesquisador lembra que o Barão do Rio Branco percebeu o perigo belga e que ao solucionar o impasse no Acre também desmontou os interesses da Bélgica. Domingos acredita que como essa foi uma ameaça que não chegou a se concretizar, o assunto acaba não sendo devidamente estudado. O livro “Os Belgas na Fronteira Oeste do Brasil” do professor Domingos Sávio contribui para entender os interesses estrangeiros no Brasil e também para perceber o processo de consolidação da fronteira oeste no início do século XX.
 
Sitevip Internet