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11/05/2009 - 00:00

Carros financiados irregularmente no Brasil são levados para San Matias na Bolívia

Por Jornal Oeste

TVCA Investigações sobre o roubo de veículos que são levados para a Bolívia revelam um outro tipo de crime: os carros são financiados irregularmente e trocados por drogas. Estradas clandestinas, sem fiscalização, ruas sem asfalto e carros de várias cidades do Brasil são encontrados na cidade de San Matias, município boliviano com 10 mil habitantes, na fronteira com Mato Grosso. A polícia brasileira explicou porque existem tantos automóveis nacionais pela região. "Esses veículos são levados à Bolívia e lá são trocados por drogas", disse o delegado Rogers Elizandro Jarbas. A equipe de jornalismo percorreu a região para investigar esse mercado ilegal, onde acabou esclarecendo um crime. Um veículo roubado em 2007, com placas do Maranhão, foi encontrado. O dono do veículo, que foi localizado em São Luís, se surpreendeu pelo fato de o carro estar na Bolívia. "Eu trabalhava com locação de carro. Ná época eu loquei para um homem. E a partir daí nunca mais tive notícias do carro e nem daquele homem", revelou o dono do veículo roubado. Na Bolívia é comum encontrar carros brasileiros, em oficinas de fundo de quintal, para serem desmanchados. Nos últimos meses o que mais tem chamado a atenção da polícia em relação à frota de San Matias é a quantidade de veículos financiados de forma fraudulenta. De acordo com o delegado Mário Aravechia Resende, a polícia notou a incidência de veículos chamados pelo Fundo de Investimento da Amazônia (Finam). Como funciona o Finam No dia 24 de agosto de 2008, o Fantástico da Rede Globo mostrou como funciona Finam, conhecido como o golpe do financiamento. "Uma pessoa compra o carro à prestação, geralmente usando dados falsos, e não quita a dívida. Como ninguém vai tirar dinheiro do bolso para pagar as prestações, o carro pode ser revendido por qualquer preço que ainda dá lucro". Em Cáceres (a 225 quilômetros de Cuiabá), foi localizado, em um pátio, muitos veículos apreendidos. De acordo ainda com o delegado Rogers Jarbas, 38 dos carros são decorrentes de golpe de financiamento. "Temos muitos carros do golpe de Finam que vêm do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rondônia e outros lugares", explicou o delegado Jarbas. A equipe de jornalismo encontrou um carro de São Paulo, no nome de Ali Kari Bariri. Ao confirmar o endereço que estava no documento do carro, na zone leste de São Paulo, a vizinhança relatou nunca ter visto o carro nem o suposto dono. O sargento da Polícia Militar Mauro Benedito, explicou que quando o dono do veículo não é encontrado possivelmente seja um golpe do Finam. Os fraudadores colocam nomes laranjas ou endereço falso. A placa de outro veículo apreendido foi de Santos, São Paulo, que também estava com prestações atrasadas e seguiria para a Bolívia. A equipe se deslocou até o endereço da documentação e no litoral paulista, a surpresa: foi encontrado um carro quase idêntico e com as mesmas informações na placa. A explicação, segundo a polícia, é que o veículo apreendido na fronteira seja um clone, um dublê. A investigação mostrou que esse carro foi roubado, recebeu placa falsa com os dados do veículo legalizado e foi financiado de forma fraudulenta, com os dados do morador de Santos. A suspeita da polícia é de que o carro irregular e com parcelas atrasadas seria trocada por droga boliviana. O vendedor, Valentim Micheloto, disse que qualquer pessoa corre o risco de parar em uma biltz policial, ter o carro apreendido sem dever nada. "As pessoas que são corretas com as contam acabam pagando pelos espertinhos", reclamou o vendedor. Para a polícia, não há dúvida. "Os veículos sao adquiridos através de financiamentos fraudulentos e que têm servido como troca de entorpecente na Bolívia", contou o delegado Mário Resende. Estradas clandestinas Em Mato Grosso, são 750 quilômetros de fronteira com a Bolívia, que é um dos maiores produtores de cocaína do mundo. As quadrilhas costumam levar drogas e carros irregulares, por caminhos onde não há fiscalização. São centenas de estradas clandestinas na fronteira entre os dois países. As chamadas cabriteiras se multiplicam pela região. Conforme o investigador Gerson Rodrigues, os fraudadores entram em fazendas, quebram o cadeado e passam com os carros. "Na segunda vez, se o cadeado estiver trancando a passagem, ele é quebrado novamente. Em seguida, eles param na sede e ameaçam. Tem fazendeiros aqui que não colaboram com a polícia por causa do medo", revelou o investigador. No mês de abril, em uma fazenda em San Matias, na Bolívia, foram localizados os corpos de seis brasileiros. A suspeita é que o motivo da chacina seja o envolvimento deles com o tráfico de drogas. A violência das quadrilhas que trocam carros por drogas assustou um brasileiro, que tenta recuperar um caminhão roubado em Mato Grosso e que foi levado à Bolívia. "Sofri muitas ameaças e encomenda de morte", relatou o brasileiro que não quis se identificar. A equipe de jornalismo acompanhou o brasileiro a San Matias. Em terreno baldio, um policial boliviano contou que o brasileiro está sendo seguido. O homem, que tenta recuperar o caminhão, recebeu do policial um papel com a descrição do carro em que dois suspeitos estariam. No dia seguinte, dois homens foram presos. Eles são brasileiros e um deles já tem condenação por tráfico internacional de drogas. O detalhe: o carro usado para perseguir a vítima está em nome de uma terceira pessoa, com parcelas atrasadas do financiamento, ou seja, trata-se de um veículo Finam. O delegado Rogers Jarbas aconselhou a população a não fornecer cópias dos documentos a ninguém. "Principalmente não comprem veículos em nome de terceiros, já sabendo que futuramente podem ser responsabilizados até criminalmente por esta prática", informou o delegado. Para tentar impedir a passagem de drogas, carros roubados e financiados irregularmente, agentes federais explodiram recentemente trechos de sete estradas clandestinas. Mas foi constatado que um dos acessos já foi reconstruído. "Apesar de todos os esforços que se tem para combater esse tipo de delito, infelizmente ainda não é possível acabar de vez com este crime", concluiu o delegado Mário Aravechia Resende.
 
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