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30/04/2009 - 00:00

Trabalhadores passam 1 ano e 2 meses presos no cadeião de Cáceres por crime que não cometeram

Por Jornal Oeste

Sinézio Alcântara Jornal Expressão Dois trabalhadores braçais foram presos, torturados e condenados a 14 e 15 anos de prisão, respectivamente, por um crime que não cometeram. Acusados de estuprar e roubar a dona de casa Verônica Santos de Alcântara, 29 anos, Adelson da Cruz Silva, 23 anos e Joanil da Silva Cuiabano, 27, passaram dois anos e dois meses, trancafiados no cadeião de Cáceres, inocentes. Após examinar todo processo que resultou nas condenações - em primeira instância - os desembargadores da primeira turma da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça decidiram, por unanimidade, pela absolvição de Adelson e Joanil, por falta de provas. Além da falta de provas constatada pelo Tribunal de Justiça, um jovem conhecido por “Diogo”, morador do bairro São José, procurou o juiz Geraldo Fidelis Neto, na semana passada, para confessar que participou do assalto na casa de Verônica e, que tanto Adelson quanto Joanil foram presos inocentes. Ele revelou que a idéia era roubar dinheiro e um telefone celular. Garantiu, no entanto, que ficou do lado de fora, enquanto os colegas conhecidos por “Maguinho” do bairro Espírito Santo e “Marcinho” do bairro São Jorge, entraram na residência e, além de roubar abusaram sexualmente da vítima. Um quarto integrante do bando conhecido por “Bile”, segundo ele, está foragido. Diogo confessou participação no crime depois que ficou sabendo que Adelson e Joanil foram colocados em liberdade. Ele chegou a procurar os familiares de Adelson para dizer que iria a justiça para confessar porque estava com a “consciência pesada”. Mas jurou que não participou da sessão de espancamento e tampouco de abuso sexual. A sessão da primeira Câmara Tribunal do Tribunal de Justiça que resultou na liberdade dos trabalhadores aconteceu no dia 31 de março. Porém, por uma falha de comunicação entre o TJ e a Fórum de Cáceres, somente no dia 24 de abril – 24 dias depois – a dupla foi solta. Autor da sentença de 14 anos de prisão a Adelson e 15 anos à Joanil, o juiz Geraldo Fidelis diz que o depoimento e o reconhecimento feito pela própria vítima o convenceram para aplicação da pena. E, que, os desembargadores do tribunal só tiveram acesso às alegações e testemunhos do processo. Entenda o caso O crime que transtornou tanto a vida da vítima quanto dos acusados ocorreu às 11h do dia 20 de fevereiro de 2008. De acordo com boletim de ocorrência, registrado pela própria vítima, dois homens negros, encapuzados, teriam pulado o muro de sua residência, no bairro Espírito Santo, e, aproveitando a ausência do esposo para abusá-la sexualmente e roubá-la. Em depoimento em juízo Verônica afirmou que cedeu ao abuso sexual, para evitar que o seu filho, um recém nascido de 10 dias, fosse morto pelos agressores. Contou que após ser espancada os homens os amordaçaram e em seguida pegaram o garoto pelos pés “como se fosse um porquinho” e os ameaçaram jogá-lo ao chão. Afirmou que, além da tortura os homens roubaram R$ 1.350,00 e um aparelho de telefone celular da família. Apesar de garantir nunca ter visto o braçal Adelson, a vítima disse que o reconheceu – mesmo encapuzado –, através de uma fresta do capuz, por causa de algumas espinhas em seu rosto e uma tatuagem na altura da verilha. A dúvida sobre a participação dos autores do crime, principalmente de Adelson ficou evidenciada já nos depoimentos da vítima. Ela afirmou que os homens que o atacaram eram dois negros. Adelson é branco. E, que o reconheceu por uma tatuagem na altura da verilha. A tatuagem no corpo de Adelson é ao lado da panturrilha (batata da perna). Além disso, pelo menos, 15 pessoas, funcionários da fazenda Grendene, onde Adelson trabalhava de braçal, testemunharam que no dia do crime ele estava no local de trabalho. As testemunhas afirmaram que ele entrou no serviço no dia 18 e só retornou a cidade no dia 22. O crime aconteceu no dia 20. Doente e abandonado pela esposa O drama a que viveram Adelson e Joanil, presos por um crime que não cometeram, certamente ficará marcado em suas vidas. Eles contam que após a prisão, foram levados para um local distante do centro da cidade, onde foram submetidos a todo tipo de tortura. “Os policias pisavam na minha cabeça e chutavam a minha barriga para que eu confessasse. Me lembro de ter desmaiado pelo menos duas vezes”, diz Adelson afirmando que até hoje sente muitas dores de cabeça e problemas na bexiga. “Acho que fiquei com a bexiga solta. Se tomo bastante líquido urino às vezes sem sentir”, diz acrescentando que irá procurar um médico, nos próximos dias. Além das seqüelas, o que é pior segundo ele, é que, cansada de passar dificuldades, a sua esposa foi embora com outro homem o tempo em ele esteve na prisão, levando um dos seus filhos. “Eu fico muito triste, mas não posso condenar ela. Minha família é pobre, não tinha como ajudar muito. Eu imagino quanto ela passou dificuldade, com os nossos filhos”, tenta consolar-se. A mãe de Adelson, a costureira Osvaldina Ferreira da Cruz, diz que a família exige que se faça justiça. “As pessoas que praticaram esse crime têm que ser punidos. Se a justiça não agir rápido eles fogem”, sugeriu. Além disso, informou que estará ajuizando uma ação de reparação de danos contra o estado. A intenção, segundo ela, será exigir que o estado repare o dano e a injustiça causada a seu filho e ao colega dele que passaram dois anos presos injustamente.
 
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