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16/02/2010 - 00:00

Santo Antônio de Leverger enfrenta a maior cheia dos últimos 15 anos

Por Jornal Oeste

Fernando Duarte O município de Santo Antônio do Leverger (34 km ao sul de Cuiabá) passa pela maior enchente dos últimos 15 anos. Famílias, animais e automóveis estão ilhados com o aumento do volume do rio Cuiabá chegando a 8 metros e 44 centímetros. O prefeito do município, Harrison Ribeiro (PSDB), quer decretar situação de emergência e dispensar os 40 mil foliões que estão no município para o Carnaval. Mas a Defesa Civil é contrária. A água do rio continua subindo em direção a chamada cota de alarme, que é de 9,5 metros. Foram contabilizados 250 famílias de comunidades ribeirinhas "ilhadas" e 14 famílias desabrigadas. No bairro Lixá, a grande elevação da água fez com que cheiro de urina e fezes chegassem a água. A casa do pescador Natalino Manuel de Arruda ficou com todos os cômodos alagados e, como não há para onde escoar, teve que elevar a cama com tijolos para conseguir dormir. Apesar desta situação, não quer fazer como os vizinhos que abandonaram as casas, indo para a de parentes. "Não saio daqui nem a pau". O prefeito afirmou que iria desobedecer a Defesa Civil para que seja decretado situação de emergência. "Se subir mais alguns metros, nós vamos fechar a cidade". Ele lembrou que a zona rural está toda alagada com o aumento de quase 8 metros nos barrancos do rio. Isso pode ser comprovado na comunidade Praia do Poço, localizado a 9 km de Santo Antônio. Lá a igreja e o ginásio de esportes foram afetados, assim como os pesqueiros do Santana, Sítio da Vovó e do Célio em que cavalos e gado não têm para onde ir. Havia pessoas que estavam a 2 dias sem sair do local. Para ter acesso aos moradores do bairro Porto do Engenho, a reportagem teve que ir na canoa do pescador aposentado Gerônimo Angelo do Silva. A casa dele foi uma das poucas que não foi inundada pois havia colocado mais de 30 caminhões de terra para aterrá-la. Por causa disso, cedeu parte de sua residência para 2 vizinhos colocarem seus objetos. Um deles, José dos Santos Garcia, 84, colocou uma cadeira na varanda, como se fosse a cama, pois estava com medo de que a água invadisse sua casa. "Se eu não tivesse feito comida ontem (domingo) não ia ter o que comer hoje porque não tinha como cozinhar". Garcia mostra a plantação de mandioca perdida pela cheia e uma "ilha de lixo" em seu quintal, trazida pela água. Nela havia restos de isopor, embalagens de iogurte e detergente. O aumento do nível da água, que começou na sexta-feira (12), fez com que a margem do rio e a avenida Beira Rio fosse tomada. Famílias, com a de Anísio Ribeiro da Silva, tiveram que levantar todos os móveis. A casa da filha dele foi quase toda tomada pela água. O redário também. "Perdemos 2 camas e colchões, além da máquina de lavar roupa", disse a esposa, Luzia Monteiro, que lembra de no domingo estar com água até o peito. "Tenho mais de 30 anos morando aqui e nunca encheu deste jeito", lamenta Anísio Ribeiro. Defesa Civil - O coordenador da Defesa Civil Estadual, major Elton Guilherme Crisóstomo, afirmou que não há necessidade de decretar situação de emergência e que não foi comunicado pela prefeitura local sobre essa possibilidade. Segundo ele, para que isso seja feito deve-se levar em consideração alguns pontos como a privação das pessoas no direito de locomoção, neste caso, os que se encontram ilhados podem sair de lá por meio de barcos ou canoas. O coordenador lembrou ainda que essa situação é normal para comunidade. "Conversamos com várias pessoas e elas disseram que isso ocorre com frequência". Ele acredita que, se continuar as chuvas, há possibilidade de aumentar o nível do rio. A chamada cota de alerta do rio Cuiabá em Santo Antônio é de 9,5 metros. Atualmente está em 8,44 metros. Barão de Melgaço -Comparado a Santo Antônio do Leverger, Barão de Melgaço (113 km ao sul de Cuiabá) está numa situação melhor, segundo a Defesa Civil. Nesse município a cota de alerta é de 6,8 metros, mas o rio se encontra com 5,7 metros. A presença da água é constante mas apresenta situação de normalidade. Cáceres - Em Cáceres, a chuva diminuiu nos últimos três dias, porém, o rio Paraguai continua subindo. Ontem, às 15h o volume de água era de 4,95 metros. Havia subido 31 centímetros em relação ao dia anterior. O volume de água e também 2,14 metros a mais do que no mesmo período de 2009, quando a régua instalada em frente a Agência Fluvial do Município, media 2,81 metros. Está a 45 centímetros da cota de alerta estipulada pela Defesa Civil que é de 5,40 metros. O alto volume de água preocupa. A Marinha está alertando aos pilotos das embarcações para que naveguem, com cuidado, seguindo a orientação das placas de sinalização. Na semana passada uma equipe percorreu acampamentos, localizados ao longo das margens, alertando e orientando a população ribeirinha sobre como se proceder em casos de inundações. "O rio está subindo acima do normal. Nossa obrigação é orientar e precaver os moradores ribeirinhos sobre algumas medidas de segurança. Não apenas sobre os riscos de inundação, mas também a preocupação com animais peçonhentos, que com a cheia procuram se abrigar em lugares secos", observou o comandante da agência, capitão Pedro Garcia de Carvalho. Depois de 5 dias da chuva que inundou a cidade, atingindo 20 mil pessoas, entre desalojados, desabrigados e os que tiveram as casas alagadas em, pelo menos, dois bairros, ainda existe várias ruas e casas alagadas. É o caso do Jardim das Oliveiras (EMPA) e Vila Irene. Além do alagamento, os moradores reclamam da falta de água tratada. A enxurrada rompeu a canalização comprometendo o abastecimento em vários setores da cidade. Barra do Bugres - Os rios Paraguai e Bugres, localizados às margens do município de Barra do Bugres, transbordaram e alagaram diversas casas durante o fim de semana. O volume das águas assustou até mesmo moradores antigos que desde 1982 não viam os rios subirem tão rápido. A prefeitura da cidade mobilizou os setores e secretarias para atender os ribeirinhos, dando apoio emergencial aos desabrigados. Além da inundação da população ribeirinha, a MT-246 que liga Barra do Bugres a Jangada, corre o risco de ser interditada caso o nível do rio Jauguara que deságua no rio Paraguai continue subindo. (Colaborou Sinézio Alcântara/Cáceres) Chuva inunda bairros de Cuiabá A madrugada de segunda-feira não foi de festa para os moradores do Parque Atalaia e Praeiro, em Cuiabá. Desde a manhã de domingo a água foi subindo nos canais do rio Cuiabá, que passam pelos dois bairros, sem que houvesse chuva. No Parque Atalaia a água chegou a 2m de altura e moradores de aproximadamente 20 chácaras precisaram sair de suas casas. A analista financeira Josiane Siqueira, 28, perdeu grande parte dos móveis e até a tarde de ontem, a água estava na altura da janela. A moradora está indignada porque, no domingo, ligou duas vezes para a Defesa Civil e uma para o Corpo de Bombeiros, mas não obteve resposta. Ainda segundo Josiane, a chuva só começou a cair depois que a água do canal já havia entrado em sua casa e, mesmo depois da chuva cessar, o nível continuou subindo. Em situação semelhante se encontram os moradores do bairro Praeiro. Conforme conta o policial militar Ildo Fernando dos Santos, até domingo a água estava na borda do córrego, mas a partir das 6h da segunda-feira começou a invadir a pista da Av. Tancredo Neves e, posteriormente, as casas. "A água ainda não entrou na minha residência, mas estou atento e providenciando outro lugar para levar minha família". Esclarecendo boatos de que o nível do rio teria subido devido a abertura de uma comporta da Usina de Manso, o coordenador da Defesa Civil Municipal, João Pedro Zanetti, garantiu que o alagamento em alguns bairros não tem relação com a usina. "Pelo contrário, Manso reduziu a geração de energia e evasão da represa de 160 metros cúbicos por segundo para 120 metros cúbicos por segundo atendendo um pedido do município". Zanetti explica que o nível do rio Cuiabá subiu por causa das intensas chuvas na região de Nobres e Acorizal, onde fica a cabeceira do rio. Mesmo observando que a velocidade com que o rio Cuiabá sobe vem diminuindo desde sábado, o coordenador alerta que a previsão de chuva continua nas regiões de cabeceira. "Considerando que o rio Cuiabá está com 8m, que cota de alerta é 8,5m e que a chuva continua em Acorizal, pedimos que os moradores das áreas de risco desocupem suas casas". A Secretaria de Infra-estrutura da Capital (Seminfe) disponibilizou tratores e caçambas para que os moradores do Parque Atalaia retirem seus pertences. Segundo o secretário, Euclides Santos, o ginásio do bairro Dom Aquino também está preparado para abrigar as vítimas do alagamento, mas ainda assim muitas famílias preferem ir para casa de parentes e ficar alojadas em escolas e igrejas próximas às áreas atingidas. Prefeitura suspende carnaval em Bomsucesso O Carnaval de Bomsucesso, Distrito de Várzea Grande, foi suspenso devido a cheia do Rio Cuiabá provocada pelo excesso de chuvas nos últimos dias. Desde 1995 não ocorria inundações na comunidade que viu novamente as águas invadirem casas e peixarias às margens do rio. Os festejos foram anulados pela prefeitura contrariando a maioria dos comerciantes que reforçou no estoque de bebidas e comidas para a folia de momo. O coordenador municipal de Defesa Civil, Rodrigo Alonso Lemes, afirma que a suspensão da festa, ontem, ocorreu para monitoramento e, dependendo da avaliação, Bomsucesso pode voltar a festejar o Carnaval hoje. Ele afirma que não há previsão de baixa das águas do rio. A indicação de uma cheia ainda maior, devido a quantidade de chuva em Rosário Oeste, onde fica a cabeceira do rio Cuiabá. "Choveu muito lá e essa água ainda não chegou aqui". Ontem, o prefeito em exercício, Sebastião Gonçalves, convocou reunião com a comunidade para comunicar a suspensão da festa, alegando que a intenção era evitar qualquer acidente com a comunidade e visitantes. A prefeitura avaliou in loco a área inundada. Meire Maria da Silva, 52, comentou que a comunidade não teve direito de escolha, alegando que a prefeitura disse que decidiria junto com os comerciantes, mas chegou com uma ideia pronta e definida. "Nós preferíamos a festa. O freezer está cheio de bebida gelada. Isso é o maior prejuízo para quem investiu". Outra comerciante, Lucirlene dos Santos, 35, lembrou que as distribuidoras não aceitam cerveja gelada e que ela não teria para quem vender a bebida. "Aqui só tem movimento no Carnaval". Córregos assoreados e ocupados pelo lixo dificultam escoamento Cerca de 40% dos córregos de Cuiabá precisam da intervenção de máquinas para serem desobstruídos. O problema, segundo o secretário Municipal de Infraestrutura, Euclides Santos, é que a legislação ambiental permite apenas o serviço manual, que não resolve o caso, porque o nível de assoreamento é grande. O município vai pedir auxílio do Ministério Público Estadual na questão, para facilitar o escoamento da água, devido a enchente. Além da areia, é preciso retirar o lixo, jogado no leito pelos próprios moradores. Os resíduos também fecham as bocas-de-lobo e impedem o escoamento da água, como aconteceu na Avenida Getúlio Vargas. No local, a prefeitura precisou fazer a recuperação as pressas de canos que foram rompidos. A chuva também trouxe dificuldades para o tráfego nas regiões periféricas.A cabeceira de uma ponte no Distrito do Coxipó do Ouro foi danificada e a estrada que dá acesso ao Distrito de Tarumã, perto do bairro Sucuri, ficou interditada. Equipes da prefeitura foram acionadas e liberaram a área no começo da tarde de ontem. Os servidores, segundo o secretário, estão focados no socorro das famílias que moram em áreas de risco, como o Praerinho. Elas precisam ser retiradas, conforme advertência da Defesa Civil. Santos diz que algumas recusam-se a sair, porque não acreditam que o nível do rio vai subir ainda mais. No Parque Atalaia, pás-carregadeira fazem a mudança em algumas casas. Nos locais, os caminhões não conseguem entrar e os moradores colocam os bens na concha da máquina. Mais 25 caminhões, que eram da área de limpeza e manutenção, estão trabalhando na mudança dos desabrigados.
 
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