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22/04/2025 - 20:23
Cuiabá confirma primeiros casos de esporotricose, doença que afeta gatos e pode ser transmitida a humanos
Veterinários da UFMT alertam para gravidade da zoonose e risco de propagação com abandono de animais infectados
Por Larissa Azevedo
Reprodução
Cuiabá registrou, nos primeiros meses de 2024, quatro casos da doença fúngica esporotricose, uma zoonose que pode ser transmitida de animais para humanos e que preocupa autoridades de saúde. Os casos foram detectados pelo Hospital Veterinário (Hovet) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que também confirmou nove ocorrências até o momento, somando os dados de 2024 e 2025.
A esporotricose é causada pelo fungo Sporothrix, e acomete com maior frequência gatos, segundo a professora de Medicina Veterinária da UFMT, Valéria Dutra.
“A esporotricose é uma infecção causada por um fungo chamado Sporothrix e que nos animais afeta mais os gatos. Na nossa região, essa doença não ocorria com frequência como ela passou a ocorrer agora”, explicou.
Sintomas e formas de contágio
Nos animais, especialmente gatos, a infecção ocorre, em geral, por meio de arranhaduras durante brigas ou pelo contato com superfícies contaminadas. Os sintomas incluem feridas que não cicatrizam, principalmente na face, patas e cauda, além de ínguas.
Em humanos, a contaminação se dá principalmente através do contato com gatos infectados, especialmente quando há lesões visíveis no animal. Há também a possibilidade de transmissão por meio de plantas contaminadas com o fungo.
“Às vezes o gato vem, arranha, ele tem o fungo na patinha e passa. Ou também há a possibilidade de plantas estarem contaminadas com fungo, o gato contaminado passou naquela planta e o humano vai lá e se arranha nela”, explicou Valéria.
Diagnóstico e tratamento
Devido à semelhança com outras doenças comuns da região, como leishmaniose e criptococose, a esporotricose pode ser confundida e tratada de forma equivocada, o que colabora para a propagação da doença.
“Por não saberem, os tutores não coletam esse material desse animal e aí o diagnóstico não é feito”, disse a professora.
O tratamento exige o uso de antifúngicos específicos, tanto para humanos quanto para animais. Embora seja um processo longo, o tratamento é eficaz, especialmente se iniciado nas fases iniciais da infecção.
“Se for feito corretamente com antifúngico, há uma boa recuperação dos humanos e dos animais, principalmente se for no início da doença”, completou.
Prevenção e responsabilidade
A recomendação é que qualquer ferida persistente em animais ou humanos seja avaliada rapidamente por um profissional. Tutores devem evitar o contato direto com gatos infectados, utilizar luvas ao manuseá-los e higienizar bem as mãos após o contato. Outra medida importante é manter o animal castrado e dentro de casa.
Além disso, Valéria alertou para o aumento de abandono de animais doentes, prática que agrava ainda mais a disseminação da esporotricose.
“Às vezes o tutor percebe que o animal tem alguma lesão, ele não quer tratar, ele já abandona o gato. Nós queremos fazer essa campanha justamente para as pessoas não abandonarem os animais”, destacou.
Expansão nacional
A esporotricose está em ascensão no Brasil, com focos já consolidados em vários estados. A doença teve forte crescimento no Rio de Janeiro, onde ganhou status quase epidêmico, e se espalhou para outras regiões.
“Em Mato Grosso do Sul, que é aqui do lado, a doença já está em um estado muito avançado, com muitos casos humanos. No Paraná, por exemplo, foram muitos casos humanos em 2024, explodiu”, relatou Valéria Dutra.