Jornal Oeste

Marcy Monteiro Neto TVCA Moradores do município de Água Boa (730 quilômetros de Cuiabá) relataram na última semana que sentiram a terra tremer na região. No entanto, o tremor de terra não pôde ser medido e nem referendado já que não há sismógrafos naquela região. Mas, engana-se quem imagina que em Mato Grosso não há casos de terremotos ou abalos sísmicos. O maior tremor de terra já registrado no Brasil aconteceu em Mato Grosso. Mais precisamente na região onde hoje é o município de Porto dos Gaúchos. No ano passado, o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (Obsis) registrou nada menos do que 16 tremores de terra em Mato Grosso. Esses abalos, de pequena intensidade, foram registrados em três cidades mato-grossenses: quatro em porto dos Gaúchos, um em Santa Cruz do Xingu e 11 em Tabaporã. Nesta última cidade, em um período de 30 dias foram registrados oito tremores. O mais intenso do ano passado, no entanto, foi o de Santa Cruz do Xingu, no dia 02 de dezembro, com intensidade 3,5 na escala de Richter. O maior da história Porto dos Gaúchos, janeiro de 1955. Uma falha geológica no subsolo, na zona rural da cidade, faz a região tremer. O abalo se tivesse ocorrido no centro de uma cidade mais desenvolvida seria suficiente para derrubar prédios, rachar tantos outros e causar danos sérios à população. Esse tremor em Porto dos Gaúchos, porém, não teve graves conseqüências porque naquela época poucas pessoas moravam no local do tremor. Esse abalo sísmico que completa 55 anos no dia 31 de janeiro foi o maior já registrado no Brasil em toda a história. De acordo com o livro Sismicidade do Brasil, de J.Berrocal, o abalo de 1955 teve magnitude de 6,6 na escala de Richter. O epicentro do terremoto foi na Serra do Tombador e "registrado em um Barógrafo de Gravidade do tipo Richard", consta no livro. Os tremores daquela região constam até nos registros das colonizadoras que iniciaram o trabalho de desbravar o norte do Estado. O relatório nº 54 da colonizadora Conomali, de 9 de fevereiro de 1959, atesta o que os estudiosos afirmam sobre os abalos em Porto dos Gaúchos. "No dia 5 de fevereiro, passou aqui pela gleba uma onda sísmica, que abalou todas as casas. Na cantina, as vigas rangiam, caíram objetos etc. O movimento foi precedido de um trovão , digo, de um ruído contínuo, semelhante a trovão", diz um trecho do relatório. Os colonizadores também registraram as impressões dos moradores sobre o fenômeno. "O efeito sobre a população e os palpites foram os mais diversos. Falou-se em fim do mundo, anunciado para 1960. Já seria este o primeiro sinal. Outros afirmavam que tivesse caído um meteoro, o que é mais razoável. Outro diz ter avistado aviões a jato. O médico achou que seria ruído do excesso de chuvas e das águas, que estariam penetrando na terra até alcançar matérias em fusão. O palpite mais comum é de que a onda tivesse sua origem numa das regiões vulcânicas do Peru ou do Chile", conclui o relatório da colonizadora. Causas dos tremores Observatório Sismológico da UNB aponta que na região de Porto dos Gaúchos há um rebaixamento da crosta terrestre, também chamada de zona de fraqueza. A cidade fica distante 625 quilômetros de Cuiabá. Como em 1955 o Estado não tinha aparelhos para detectar os abalos, o registro aconteceu por meio de estações sismológicas internacionais que calcularam o local do tremor. Em 1998, a terra tremeu no município de Porto dos Gaúchos justamente com um abalo que alcançou os 5 pontos na escala de Richter. O tremor foi um dos mais intensos registrados nos últimos anos em Mato Grosso e foi alvo de estudos de pesquisadores da UFMT e da UNB. O professor Shozo Shiraiwa, do departamento de Física da UFMT, participou da expedição até a cidade e constatou os estragos causados. Há cinco anos, quando o site TVCA fez uma reportagem sobre o assunto, ele revelou o que viu. "A magnitude foi relativamente alta, que pode causar destruição. Só não causou mais danos porque aconteceu em uma região afastada do centro da cidade", relatou. Algumas casas tiveram rachaduras, mas não houve notícias de que nenhuma construção tenha sido derrubada devido ao tremor. "Até uma casa recém-construída estava com trincas na parede típicas de tremor", disse o professor. O agricultor Antônio Leonildo Ortega, conhecido como Toninho, mora em Porto dos Gaúchos e presenciou a ocorrência do terremoto de 1998. Ele acompanhou também a instalação dos sismógrafos na cidade naquela época. "Chegou a dar um tremor da pessoa sentir dentro de casa. A gravidade não foi tanta porque na região não tem prédios", relatou Toninho ao site TVCA. O agricultor disse que conhece a história do abalo que aconteceu há 50 anos, o maior da história do Brasil. "Foi em 1955. Naquela época não havia muita gente por aqui. Estavam abrindo a região", completou. Na época em que ocorreram os tremores em Porto dos Gaúchos, cinco sismógrafos foram instalados na região para monitorar as atividades geológicas. Quando ocorre um grande abalo, posteriormente ocorrem tremores menores. Apenas a partir de 1968 os tremores de terra começaram a ser detectados com precisão no país, quando foi instalada uma rede mundial de sismologia. Na América do Sul, o arranjo sismográfico foi instalado em Brasília. Nos últimos anos, os abalos aconteceram com maior freqüência em Porto dos Gaúchos (MT), João Câmara (RM), Cascavel e Pacajus (CE), Caruaru (PE), Pedro Leopoldo, Betim e Igaratinga (MG). Cuidados Há uma série de cuidados que devem ser tomados pelas pessoas que moram em locais sujeitos a tremores de terra. Quando um abalo iniciar, as pessoas devem sair de casa e permanecer em áreas livres, como praças, longe de edifícios, linhas de transmissão, muros e árvores. Caso o tremor não seja de grande intensidade, possibilitando ficar em casa, é preciso se afastar de objetos que possam cair, como quadros, armários altos, bem como das janelas, já que os vidros podem se quebrar. O morador deve desligar o gás imediatamente para não ocorrer vazamento. O morador deve aguardar o fim do tremor embaixo de uma mesa.