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08/04/2024 - 10:28

João Arruda, Comendador sob encomenda

Por Eduardo Gomes

Divulgação

 (Crédito: Divulgação)
O choque cultural é muito grande. De repente chegou gente de todos os cantos do Brasil.

O viver poconeano foi sacudido. A natureza sentiu; sentiu muito e o rio Bento Gomes perdeu suas águas limpas para o agrotóxico arrastado pelas enchentes e para o mercúrio do garimpo.

Única por seu modo de ser, viver e ser feliz, Poconé está sob ameaça e precisa de voz, texto, música e movimento para manter altivo seu coração acolhedor em meio à miscigenação cultural e econômica.

Por sorte o município conta com a Academia Lítero-Cultural Pantaneira (Acadepan) que mantém acesa a mais pura chama do saber e da defesa de Poconé, e essa entidade acaba de revestir entre seus Comendadores Honoríficos,o jornalista, geógrafo e paladino da universalidade pantaneira, João Benedito Alves de Arruda, cacerense de primeiro choro e poconeano de ancestralidade.    

 Parabéns Acadepan. Sua diretoria tendo à frente o presidente Imortal Luís Antônio de Oliveira Cunha secretariado pela Imortal Natalice Soares da Silva ao homenagear João Arruda e na mesma solenidade prestar idêntico reconhecimento a Rosangela Aparecida Campos de Oliveira, Edmilson Maciel Barbosa, Benedito Donizete de Morais (Pescuma), Claudio Ferreira (Claudinho) e Henrique Martins de Oliveira Neto entregou a cada um deles a Bandeira da Acadepan, para que todos a façam tremular por onde quer que andem, e sobretudo nos locais onde a cultura, a tradição e o estilo de vida poconeanos estiverem sob algum tipo de ameaça direta e indireta. 

Sou admirador do texto de João Arruda - agora Comendador pela Acadepan. Avalio que suas linhas nascem de sua têmpera de pantaneiro trabalhador, dedicado, honrado e apaixonado por sua região.

Ao vê-lo Comendador antevejo sua voz se elevando pela terra de Beripoconé, que se estende do Alto ao Baixo Pantanal dividindo as águas do Paraguai e do Cuiabá, que acabam se juntando para dar mais vida ainda ao Pantanal.      

Poconé é uma cidade especial capaz de reunir Mouros e Cristãos, anualmente encenando - sob o sol que é quase tão quente quanto o coração poconeano – uma batalha inspirada em torneios de lutas medievais portuguesas. 

Somente uma cidade habitada por um povo com a sensibilidade do poconeano respeita e valoriza a grande raça equina brasileira, o Cavalo Pantaneiro, que é o melhor animal de serviço para a região, por suas peculiaridades: casco resistente ao ‘minhoqueiro’ – irregularidade no terreno causado pelo pisoteio bovino durante as águas altas e que se torna visível na estiagem; e sua capacidade em ‘pescar’ capim no fundo do leito dos corixos.

O Pantaneiro é uma paixão em Poconé, onde a sabedoria popular criou o bordão: Cavalo Pantaneiro; quem não tem compra, pede emprestado, aluga ou rouba, mas não fica sem.    

 A Cavalhada, o Cavalo Pantaneiro e o conjunto das tradições poconeanas sofrem ameaças. Quero ver João Arruda defendê-los em nome da Acadepan e sei que ele o fará com seu linguajar pantaneiro cantarolado que é quase um dialeto.     

Transpantaneira. Esta rodovia seria parte do primeiro modal rodo-hidro-ferroviário do Centro-Oeste, mas somente avançou 147 km pelo município de Poconé chegando à margem direita do rio Cuiabá.     

Pelo caminho dezenas de pontes pequenas e médias sobre corixos e rios mostram a dificuldade para sua construção. A obra foi cumprida na parte remanescente mato-grossense após a divisão territorial para a criação de Mato Grosso do Sul, instalado em 1979, mas não foi executada no trecho no vizinho Estado.   

 No primeiro momento a meta com a Transpantaneira era a criação do multimodal pioneiro de transporte no Brasil interior, com três matrizes: ferroviária, da capital de São Paulo a Corumbá (MS); hidroviária, de Corumbá a Porto Jofre, no Baixo Pantanal, pelos rios Paraguai e seu afluente Cuiabá; e rodoviária, de Poconé a Cuiabá. Num segundo passo a ligação rodoviária se estenderia de Porto Jofre a Corumbá sendo alternativa para o transporte fluvial no trajeto.     

O plano da construção era parte do Programa de Integração Nacional idealizado pelo governo militar instalado em 1964.

Porém, por falta de visão do governo federal - financiador do projeto - Brasília o inviabilizou.    

Transpantaneira é a MT-060 entre Poconé e Porto Jofre, rodovia construída sobre aterro e que cruza incontáveis corixos. Nesse trajeto ela é Estrada-Parque e recebeu a denominação de Rodovia José Vicente Dorileo - Zelito Dorileo, por uma lei de autoria do deputado Paulo Moura sancionada em 21 de janeiro de 1999 pelo governador Dante de Oliveira.        

A construção da Transpantaneira começou em 5 de setembro de 1972 quando Mato Grosso era governado por José Fragelli. A obra foi executada pela Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso (Codemat), uma estatal presidida por Gabriel Müller e que mais tarde foi extinta. Trabalharam sob a liderança de Gabriel Müller os engenheiros Enzo Perri, Hilton Campos (foi deputado estadual e prefeito de Juína), Kikuo Ninomiya Miguel (foi deputado estadual) e outros.                     

Em 1974, o governo federal inaugurou a ligação asfáltica de Cuiabá a Campo Grande (BR-163) e Goiânia (BR-364) via Rondonópolis.

Paralelamente a isso, a Transpantaneira foi concluída, mas perdeu importância pela natural opção pelo transporte rodoviário nas rodovias federais recém-construídas. Ou seja, o Milagre Brasileiro aconteceu parcialmente no Pantanal.         
                             
Ao contrário das rodovias brasileiras, nas margens das quais surgem vilas e cidades, a Transpantaneira cruza uma área de grande vazio demográfico, por conta de seu mosaico fundiário formado por grandes fazendas voltadas à pecuária, que geram poucos empregos da porteira para dentro. Não há uma vila sequer em seu trajeto.             
                                                                       Poconé não pediu a Transpantaneira, mas seus prós e contra refletem na sua maneira de ser. A sensibilidade jornalística de João Arruda será importante para mostrar ao mundo o que aquela grande cunha rodoviária faz ao povo poconeano e alertar por mudanças que contribuam para o equilíbrio entre os talhamares e sabiás com os turistas, entre as antas e as seriemas com o trânsito, entre os carandás e os pequizeiros com o garimpo do ouro, entre a paz e a vida com a ganância empresarial. 

Além do desequilíbrio ambiental no Pantanal em Poconé, pela adoção de práticas e de tratos culturais alheios àquela região, a mesma ainda sobre agressão com o agrotóxico arrastado pelas águas, das partes altas em seu entorno e mecanizadas para o cultivo da soja, milho, algodão e cana. Poconé não pode permanecer calada. Vozes precisam se fazer ouvir mundo afora contra a transformação do Pantanal numa caixa de esgoto dos agroquímicos. Quero João Arruda bradando contra esse crime recorrente.   

Conciliar o viver poconeano que inclui a pecuária extensiva, a pesca e as manifestações culturais com o mundo exterior é uma missão difícil pelos interesses em jogo. Nesse mosaico é importante a ação da Acadepan ao lado da prefeitura, Câmara Municipal, entidades representativas patronais e laborais e as correntes religiosas.     

                                                                                           Há um mundo sob ameaça e sofrendo agressões.

Seu nome é Poconé e ele clama por sua defesa. Agora o quequeesse, xomano João Arruda, Poconé conta com você e a Acadepan, também.

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