Jornal Oeste

O Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep-MT) emitiu nota de repúdio pela rescisão de contrato de um professor da Escola Estadual Deputado João Evaristo Curvo, de Jauru (a 408 km de Cuiabá) após acusação de supostamente ter exibido um filme pornográfico dentro da sala de aula. O caso ocorreu no dia 27 de outubro e a nota do sindicato foi publicada nesta terça-feira (31).

De acordo com o Sintep, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT) teria rompido o contrato com o profissional após pressão de pais de alunos e até mesmo vereadores.

"A decisão da Seduc-MT e do secretário engenheiro Alan Porto, além de afetar a imagem profissional do professor, associou-o injustamente à figura de um educador imprudente que exibiria conteúdos pornográficos a jovens, cuja classificação etária é de 14 anos, negando a ciência e alinhando-se àqueles que acreditam que a Terra é plana. A instituição de ensino do Estado tem o papel de promover o pensamento crítico e não pode permitir a perpetuação de ideias obscurantistas", repudiou o sindicato. De acordo com a nota, o professor de sociologia exibiu para uma turma do 1º ano do Ensino Médio o filme "A Guerra do Fogo" para abordar assuntos como conexão humana com o ambiente, sua evolução ao longo do tempo e as transformações culturais em nossa relação com a natureza.

"A Guerra do Fogo” ilustra vividamente a busca ancestral pelo domínio do fogo, um elemento primordial na evolução da humanidade. Além disso, o filme trata de temas como a luta pela sobrevivência, o domínio do fogo e a comunicação, a sacralização da natureza, princípios ecológicos e a relação com outras espécies.
Sua classificação etária é para maiores de 14 anos", diz trecho do comunicado.

No entanto, alguns pais teriam alegado que a produção seria inapropriada para a turma e afirmaram que se tratava de um filme "pornográfico", que "abordava questões de gênero". "É importante ressaltar que a classificação indicativa do filme 'A Guerra do Fogo' é adequada para estudantes do 1º ano do Ensino Médio, sem nenhuma contraindicação quanto à sua idade. Não existe proibição no currículo escolar para a utilização de filmes como ferramenta para suscitar debates sobre nossa relação atual com o meio ambiente, os avanços tecnológicos e as complexidades relacionadas ao progresso humano", contra-argumenta Sintep.

Ainda conforme o Sintep, após a polêmica, o professor foi informado sobre a rescisão de seu contrato.
Para os trabalhadores, a atitude seria um desrespeito com o princípio da liberdade de cátedra, que garante a eles a autonomia para conduzir suas atividades de ensino, permitindo o livre desenvolvimento do pensamento, o ensino e a aprendizagem dos estudantes.

"Repudiamos, veementemente a atitude da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT), sob a liderança do secretário engenheiro Alan Porto, que demonstrou desconhecimento do processo pedagógico e, principalmente, da liberdade de cátedra. Sem observar o direito constitucional à ampla defesa e ao contraditório, a Seduc-MT rescindiu o contrato temporário do professor, baseada em informações supostamente provenientes de vereadores e indivíduos que não entendem o contexto pedagógico", completou a nota.

Outro lado

A reportagem procurou a Seduc-MT para esclarecimentos, mas não recebeu resposta até a publicação dessa matéria. O espaço segue aberto para posicionamento.