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20/11/2021 - 11:45

Assembleia se rende a 'Rainha do Congo', Nemézia Profeta

Por RDNEWS

Ilus

 (Crédito: Ilus)
Personalidades negras marcam história de MT e deixam legado

Conheça Lista traz 10 pessoas que se destacaram como artistas, militantes ou figuras públicas e que, muitas vezes, não têm o destaque que merecem.

As figuras negras nem sempre são lembradas com notoriedade pela história oficial. Sejam elas artistas, militantes ou figuras públicas, o apagamento provocado pela desigualdade racial sempre dá um jeito de colocálas de canto. É provável que a maioria dos leitores não conheça parte das 10 personalidades negras elencadas nesta lista. Isto, contudo, não apaga a importância que elas tiveram na construção da história de Mato Grosso.

Neste 20 de novembro, data em que se celebra o Dia da Consciência Negra, esta lista é uma homenagem do a todos esses personagens. Ainda, uma tentativa de que suas vozes sejam reverberadas e suas e trajetórias sirvam de inspiração. Jejé de Oyá Ter sido um homem negro e gay nas décadas de 50 e 60 não impediu que José Jacinto Siqueira de Arruda, o Jéjé de Oyá, conquistasse seu espaço na história de Mato Grosso. Ícone das grandes festas da alta sociedade, o colunista fez da sua história um grande desfile nas ruas cuiabanas. Famoso por suas roupas coloridas, com referências africanas, e humor ácido na hora de contar os segredos da elite, Jêje ditava não só a moda, mas também os burburinhos dos folhetins.

Nascido em Rosário Oeste (120 km ao Norte de Cuiabá). Viveu  até os 81 anos, quando faleceu em decorrência de uma parada cardíaca em 2016. Um ano após a sua morte, foi nomeado pelo governo do estado como o Patrono do Colunismo Social em Mato Grosso. 

Maria Taquara Bem no Centro de Cuiabá, em meio as avenidas e ruas que homenageiam tenentes, bandeirantes e políticos está erguida a estátua de 4,20 metros de uma mulher negra.

A homenageada histórica é Maria Taquara, uma figura que se tornou símbolo de resistência em Cuiabá depois de abolir as saias e ser a primeira mulher da cidade a usar calças em público. Histórias contam que ela foi uma lavadeira, que andava pelas beiradas do Córrego Mané Pinto, com trouxas na cabeça. E há quem diga, que nas andanças da vida, Maria Taquara conquistou muitos amores. O que se sabe com certeza é que na história, é admirada como símbolo da igualdade social. 

Geraldo Henrique Costa

A dor da discriminação racial não fez com que Geraldo Henrique Costa tivesse medo de lutar. Muito pelo contrário, foi o sindicalista que arregarçou as mangas e trouxe para Mato Grosso o Movimento Negro. Motivado pelas discussões que presenciou em uma das reuniões do Movimento Negro Unificado fora do estado, Geraldo voltou para Cuiabá e ajudou a fundar o Conselho Estadual do Direito do Negro, como também o projeto SOS Racismo e Grupo de Consciência Negra (Grucon).

Porém, um acidente trágico, em 24 de julho de 1990, acabou provocando sua morte precoce, com apenas 52 anos.

Na ocasião, Geraldo estava indo à Vila Bela da Santíssima Trindade, participar da Festa do Congo, quando seu carro capotou.

Sua história, com certeza não está nos livros, mas está registrada na memória daqueles que conheceram seu legado e viram no enterro autoridades, lideranças comunitárias e religiosos de toda fé chorarem a sua partida. 

Mãe Bonifácia

Todo o cuidado dedicado pela curandeira e anciã negra Mãe Bonifácia, que, em meio ao século 19, cuidava de um dos maiores quilombos de Mato Grosso - O Quilombo - foi eternizado em um Parque que leva seu nome.

O espaço foi inaugurado no ano de 2000, com aproximadamente 77 hectares e ainda guarda uma estátua em sua, numa dupla homenagem. Idosa e muito sábia, aproveitava os seus conhecimentos sobre a mata e plantas medicinais para ajudar os escravos que fugiam das fazendas a encontrar abrigo. O título de mãe, a fez em vida uma nobre entre os que mais precisavam.

Nilson Pimenta Mesmo sendo natural de Caravelas (BA), Nilson Pimenta se declarava 98% matogrossense. A príncipio, veio para Mato Grosso somente pelo trabalho, mas foi em Cuiabá que despertou o amor pela pintura e aprimorou seu lado artístico. Embora não seja muito conhecido, atuando na UFMT, formou diversos artistas plásticos. E fazia questão de colocar em suas pinturas a dura realidade do povo sertanejo. Em quadros coloridos e de gente de toda cor, contava as dificuldades sociais da vida de milhares de brasileiros.

Fora do Brasil como um artista naïf de grande importância. Nilson faleceu em 23 de dezembro de 2017, mas antes deixou um legado de representatividade na cultura de Mato Grosso.

Dona Eulália Diariamente, Dona Eulália, aos 87 anos, acorda de madrugada, reza o terço e já começa a preparação  dos quitutes mais famosos de Cuiabá.

Essa rotina de dedicação já rendeu para a cozinheira três prêmios “Veja comer & beber”, que consagra a qualidade das receitas e valoriza a cultura Mato Grossense.

Mas se engana quem pensa que foi fácil se tornar referência do sabor regional.Para a consagração chegar, foram precisos 13 anos, trabalhando dia e noite, para garantir a prosperidade dos 8 filhos começaram, 21 netos e 18 bisnetos.

Quem vem à Cuiabá e não prova o bolo de arroz com um cafézinho de Dona Eulália deixa de lado uma das experiências mais saborosas da cidade. 

Zé Bolo Flô

A vida boêmia de José Inácio da Silva, o  Zé Bolo Flô, ganhou fama na sociedade cuiabana nos anos 60 e 70. Por ser compositor, músico e poeta era conhecido por todos. Se não por isso, sua fama vinha por ser vendedor de bolo e flor, origem do seu nome popular. Além disso, Zé contrariava o conservadorismo da época, e com trajes maltrapilhos e pele negra entrava nas principais missas de Cuiabá, rezava e  saía, acompanhado somente do seu santo de proteção. Pobre e andarilho transformou todas as ruas da cidade em sua própria casa, e depois de falecer foi homenageado com um parque com o seu nome, se tornando presente para sempre na identidade da capital.

Luciene Carvalho Autora de títulos como “Dona” e “Insânia”, Luciene de Carvalho se tornou imortal da Academia Mato Grossense de Letras em 2015. A escritora começou a escrever ainda adolescente, quando usava a literatura para desenhar uma realidade diferente da que vivia. Em suas obras publicadas, ainda divide com o público as experiências de ser uma mulher negra, falando sobre afeto, aquilombamentos e racismo. Na sua mais recente “Na Pele”, ela traz diversos textos que abordam representatividade, desigualdades e autoestima negra. Luciene é sempre lembrada quando se pensa a cultura e literatura contemporânea de Mato Grosso. 

Dona Nemézia 

Nemézia Profeta Ribeiro, a Dona Nemézia, atua há mais de 60 anos na organização da Festa do Congo em Vila Bela da Santíssima Trindade.

Eleita a Rainha do Congo, ela dedica tempo e a vida entre cuidar da família e promover a igualdade social na região onde mora.

Quando os festejos religiosos se aproximam ela trabalha dia e noite pensando nas roupas de costume e comidas típicas da comemoração.

Descendente de quilombolas, dona Nemézia conduziu sua vida inspirada na história de Tereza de Benguela, e luta pela preservação da cultura de um dos festejos mais tradicionais de Mato Grosso, que celebra a influência da cultura negra no estado.

Tereza de Benguela T

Tereza de Benguela viveu no século XVIII e liderou o Quilombo do Quariterê, o maior de Mato Grosso. De acordo com pesquisas históricas, Tereza comandou a estrutura política, econômica e administrativa da organização e lutou bravamente contra a escrivadão. Em um dos combates, ela foi capturada por bandeirantes a mando da capitania do Mato Grosso, por volta de 1770, foi assassinada e teve a cabeça exposta no centro do Quilombo, outras informações dizem que a líder se matou, preferindo a morte do que não ser livre.

Em sua homenagem, o dia 25 de julho é oficialmente no Brasil o Dia Nacional de Tereza de Bengela.

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