“Eu sou paulista, mas cacerense de coração, amo minha cidade, meus amigos, tenho trabalhos prestados ao município. Sou professora aposentada, e tenho conhecimento sobre o Covid-19. Por termos três filhos, uma professora e dois médicos que são zelosos pela saúde de seus pais, tomamos todas as precauções, mas o vírus é invisível. Sinceramente, não quero que ninguém sinta o que eu e minha família estamos sentindo. Tenham cuidado, essa doença não é brincadeira e não é fácil ficar isolado em uma UTI”, disse dona Irene.
Moradora de Cáceres, distante a 220 km de Cuiabá, dona Irene e o falecido esposo, seu Alípio Pereira de Araújo (82 anos), foram os primeiros moradores da Princesinha do Paraguai a serem confirmados com sars-cov-2, mais conhecido como “novo coronavírus”. Hoje ela está clinicamente curada da covid-19, doença causada pelo vírus.
De SP à UTI
O casal contraiu o coronavírus em uma viagem a São Paulo em que foram fazer um tratamento médico na visão de seu Alípio. Ele era diabético e há anos viajava para Cuiabá para cuidar dos olhos. No entanto, sofreu uma hemorragia ocular e por isso precisou ir para fora do Estado em buscar de novos tratamentos médicos.
Com a aplicação de um óleo nos olhos, ele voltou a enxergar bem. Dona Irene conta que ele estava muito feliz por ter recuperado a visão, muito animado com o resultado do tratamento, mas precisava voltar a São Paulo para retirar o óleo usado para sustentar o globo ocular.
Arquivo Pessoal
Heloiza Cristina (Médica em Cuiabá), Alípio Junior (médico em São Paulo), Jani Claudia (Professora em Cáceres), Alípio (In memoriam) e Irene (professora aposentada).
Após quatro dias que retornaram de São Paulo para Cáceres, Alípio começou a sentir os primeiros sintomas da covid-19, mas que pareciam um leve resfriado.
Estava se alimentando bem, mas os picos de febre em 38 graus o levaram imediatamente a Unidade Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital São Luiz.
Dona irene também foi internada com febre, juntamente com seu esposo, mas se recuperou e teve alta. Em casa, aguardou 7 dias até que o resultado saisse, e constatou que os dois estavam com o novo coronavírus. Um dos filhos dela, que é médico, a levou de volta ao hospital.
“Meu filho, temendo o pior, me levou para o hospital com medo de eu entrar em crise respiratória. Passei dois dias na UTI e dois isolada em apartamento. Lá tive a triste notícia do falecimento do meu amado esposo, um dos dias mais tristes da minha vida”, contou Irene.
O Alerta
Dona Irene contou que viveu 47 anos, 3 meses e 5 cinco dias junto de seu Alípio, em uma convivência harmoniosa e que a perda causa uma dor irreparável. No enfrentamento desse vírus, ela alerta para que as pessoas entendam o como é difícil se prevenir.
Arquivo Pessoal
Durante o último passeio do casal.
“Não viajamos a passeio ou turismo como alguns disseram, mas sim em busca do restabelecimento da saúde ocular do meu esposo. Estivemos em São Bernardo no Hospital dos Olhos onde o médico do meu esposo, retirou os curativos dele. Depois fomos em mais duas clínicas, subimos e descemos elevadores na cidade. Nas clínicas havia álcool em gel, fazíamos higiene das mãos, não tenho a mínima ideia onde foi o local da nossa contaminação”.
Ela falou dos sintomas. “Eu tive um leve resfriado, depois a perda do apetite, olfato e paladar. A boca muito amarga, depois a tosse e febre. Até achávamos que era devido a mudança do clima, pois já estavamos em São Paulo há quase um mês, e retornamos para o calorão de Cáceres”.
De acordo com ela as manifestações de carinho foram surpreendentes, “Agradeço a todos, a vocês do Cáceres Noticias pelo tratamento respeitoso pela nossa família, a equipe médica, enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistente de higiene e os maqueiros do Hospital São Luiz que carinhosamente cuidam de mim e de meu esposo. Agradecer a advogada Juliana Pavini e sua família que nos defendeu no momento que precisávamos. Ao nosso pároco Padre Orlando que se fez presente no momento difícil que meus filhos estavam passando, a diretoria da Previ Cáceres que carinhosamente prestaram uma homenagem a mim, fazendo um relato da história profissional do meu esposo pelo seu trabalho prestado ao município. Sou muito grata, e agradeço todos que não consegui nomear nesse momento, o meu muito obrigado pelas incansáveis orações.”