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22/11/2009 - 00:00

Mercado de carros usados se recupera, mas preços continuam baixos

Por Jornal Oeste

PRISCILA DAL POGGETTO DO G1 O mercado de carros usados registrou uma leve recuperação em outubro. Mas os preços não vão mais voltar aos níveis de antes da crise, segundo concessionárias e revendedores ouvidos pelo G1. O fim gradativo da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre carros zero quilômetro estimula a recuperação das vendas de seminovos e usados, abaladas pelas facilidades de compra do modelo novo. O patamar atual ainda está fora do ideal, mas é visto pelo setor com otimismo. A expectativa é de que com a cobrança integral do IPI e o fim do prazo de pagamento à vista do IPVA com direito a desconto, em janeiro, estimulem a procura por veículos usados a partir de fevereiro do ano que vem. Além dos valores mais baixos, ficará mais difícil vender o carro. Há casos de concessionárias que não aceitam mais receber carros feitos antes de 2002 como forma de pagamento de veículos novos. Assim, o setor alerta sobre a manutenção da desvalorização de preços, tanto para a compra quanto para a venda. “Os usados sofreram forte desvalorização entre setembro e outubro de 2008. Essa desvalorização permanece, tornou-se o novo patamar de preço dos veículos”, ressalta o presidente da Fenabrave, Sérgio Reze. A crise do mercado de usados foi agravada no final do ano passado com os incentivos que o governo deu para a compra de novos. Na opinião de analistas, ficou muito vantajoso comprar os veículos novos, porque as taxas de juros são mais vantajosas e a disponibilidade de crédito é maior, o que facilita a liberação dos financiamentos por parte dos bancos. Em outubro, o crescimento das vendas de usados em concessionárias de automóveis e comerciais leves foi de 1,26%, de 637.213 unidades e setembro para 645.263 mil unidades, segundo balanço da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Na comparação com outubro de 2008, quando 616.478 unidades foram comercializadas, há expansão de 4,67%. O gerente geral de seminovos Grupo Armando, Rudy Carvalho da Silva, afirma que as vendas no segmento subiram 70% assim que o desconto do IPI começou a ser reduzido. Segundo ele, enquanto o desconto estava em vigor, a venda mensal do grupo ficava entre 80 e 100 unidades. Em outubro, com a volta gradativa do imposto, o volume de modelos seminovos comercializado chegou a 150 unidades. Para novembro, a expectativa é atingir 250 unidades no mês. “Agora vai melhorar bastante por causa do 13º (salário), da melhora do crédito e da volta dos feirões”, afirma Silva. No caso da concessionária Caltabiano, o aumento significativo das vendas é esperado apenas em fevereiro de 2010, no entanto, o gerente de seminovos da loja, Alessandro Prado, reconhece que o mercado tem apresentado recuperação. “Acredito que o 13º irá ajudar na compra do veículo novo, por isso apostamos mais nas vendas a partir de fevereiro, após o fim do IPI e por causa do IPVA”, afirma Prado. Segundo ele, as vendas mensais da Caltabiano somam, em média, 120 unidades. Porém, em outubro, o volume de negócios foi de 90 unidades. Na concessionária Lemar, o gerente de vendas de seminovos Fausto Borba observa o aumento da procura pelos carros seminovos — as duas lojas negociam, em média, 120 unidades por mês —, mas reclama da falta de produtos em estoque. O motivo não é excesso de demanda, mas sim a desvalorização dos usados. “Hoje os clientes não deixam na concessionária o carro, preferem vender fora. Como exigimos qualidade ao comprar um seminovo, fica ainda mais difícil”, observa Borba sobre a baixa dos estoques. Porém, o gerente não se refere às vendas das revendedoras independentes. Com a desvalorização do valor do carro, a venda informal é vista como opção “mais rentável” pelo consumidor. E esse movimento tem prejudicado ainda mais as lojas independentes. De acordo com a Associação dos Revendedores de Veículos Automotores no Estado de São Paulo (Assovesp), as lojas fecharam o mês de outubro com 134.433 negócios realizados, ou seja, queda de 3,27% em relação ao mês anterior, quando foram negociados 138.976 automóveis. Segundo o gerente de vendas da Stop Automóveis, Thyago Cavalcante Melgaço, a loja que trabalhava com a média de 30 negócios por mês, passou a se “desdobrar” para chegar a, pelo menos, 4 unidades. “A liberação de crédito no setor é muito difícil e as taxas de juros estão altas. Isso dificulta muito. A pessoa que compra um usado financiado paga quase o dobro do valor do modelo. E ninguém tem dinheiro para pagar à vista”, ressalta Melgaço, que também trabalha com veículos com mais de dez anos de uso. Desvalorização do usado Na avaliação de Sérgio Reze, a dificuldade de crédito também explica a queda nos valores dos usados. Segundo ele, é o próprio movimento do mercado, que hoje é mais favorável à compra de novos. “Quanto mais fácil for comprar o novo, seja por vantagens no preço, prazo ou crédito, o consumidor dará preferência”, diz Reze. “A maior dificuldade de crédito para a compra do usado também influencia o valor”, avalia. “Com preço mais baixo temos giro maior dos produtos”, complementa Alessandro Prado da Caltabiano. Na prática, o que se observa são vendas abaixo dos valores estabelecidos pela Fipe e outras tabelas de mercado. “Hoje o carro que valia R$ 20 mil vale R$ 15 mil”, exemplifica o gerente de vendas da Stop Automóveis. Segundo a Assovesp, no mês de outubro os carros desvalorizaram 0,82% em média. A perda de valor entre carros populares foi de 0,61%. Já os importados apresentaram desvalorização de 1,61%. Sucateamento Restrição de crédito, altas taxas de juros, desvalorização dos veículos e exigência cada vez maior em relação ao bom estado do produto são fatores que forçam um novo movimento no segmento: o do sucateamento de modelos com mais de 10 anos de uso. Na opinião dos gerentes de concessionárias, o mercado de seminovos tem campo para expandir, no entanto, o de usados (fabricados até 2002) irá diminuir drasticamente. “Sinto bastante o sucateamento de usados. A diferença das taxas de juros no financiamento do carro seminovo e do usado é muito grande. O juro é bem mais alto sobre os carros fabricados em 2002 para baixo. A própria postura do mercado financeiro faz esse filtro”, analisa Fausto Borba. A tendência é confirmada pela Caltabiano e o Grupo Armando. Segundo Alessandro Prado, os carros que não são flex são os mais prejudicados. Para Rudy Carvalho da Silva, da Armando, o movimento é semelhante ao que já acontece nos Estados Unidos. Assim, na disputa acirrada desse mercado, ganha o consumidor que conservar melhor o carro. Além da manutenção da parte mecânica e da preservação da lataria, detalhes que muitas vezes passam despercebidos pelo proprietário do veículo são decisivos nas avaliações das lojas. “Até o cheiro do carro ajuda no preço”, alerta o presidente da Fenabrave.
 
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