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16/10/2019 - 09:01 | Atualizado em 16/10/2019 - 12:57

Professora da Unemat é detida por fazer protesto; acompanhe detalhes da prisão

Por Thalyta Amaral

Gazeta Digital

 (Crédito: Gazeta Digital)
Atualizada às 16h03 - Leitores do  saíram em defesa da atitude adotada pela polícia. Citam que pediram para a professora encerrar a manifestação, mas ela não foi atendida. 
 
Uma professora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) foi presa no domingo (13) após protestar contra o presidente Jair Bolsonaro em um bingo beneficente em Campos de Júlio (553 km a noroeste de Cuiabá). Lisanil da Conceição Patrocínio Pereira foi carregada por seguranças, algemada por policiais e levada para a delegacia. Um vídeo gravado por participantes do evento mostra o momento em que a professora é contida por 7 homens.
 
Segundo a vice-presidente da Associação dos Docentes da Unemat (Adunemat), Edna Sampaio, a professora foi exposta a uma situação vexatória com uso desproporcional de força. Além disso, Lisanil foi levada para o hospital no município e dopada sem consentimento.
 
“Foi usada muita violência, motivada por questões políticas. Ela foi algemada, levada para delegacia e depois no hospital deram uma dose cavalar de tranquilizante que dopou ela. No documento de liberação consta que ela foi presa por desacato à autoridade e resistência. Mas como uma mulher que não estava armada e não usou violência é presa?”, questiona Edna.
 
Professora efetiva da Unemat, Lisanil dava aulas no curso de direito em Campos de Júlio. Junto com outros colegas da Unemat ela participava de um almoço com bingo beneficente no salão paroquial da igreja. Após ser provocada por participantes do evento, ela decidiu subir ao palco e protestar contra o governo de Bolsonaro.
 
Ela foi segurada e carregada, tendo inclusive as partes íntimas exibidas, por 7 homens que estavam na organização do bingo. Por causa da situação vexatória, a Adunemat trouxe a professora para Cuiabá, onde ela recebe atendimento médico e psicológico.

Sindicato emite nota

A diretoria da Associação dos Docentes da Universidade do Estado de Mato Grosso – ADUNEMAT, Seção Sindical-SN, veio a público, nesta terça-feira (15), prestar apoio e solidariedade à professora Dra. Lisanil Conceição Patrocínio Pereira, professora da UNEMAT – Campus de Juara, e repudiar a truculência de policiais, populares e o pároco da igreja católica de Campos de Júlio, interior de Mato Grosso.

Confira a íntegra da nota emitida pela diretoria.

NESTE DIA D@S PROFESSOR@S, EXIGIMOS RESPEITO!
EM DEFESA DA PROFESSORA LISANIL C. PATROCÍNIO

A Associação dos Docentes da Universidade do Estado de Mato Grosso – ADUNEMAT, Seção Sindical-SN, vem a público prestar apoio e solidariedade à professora Dra. Lisanil Conceição Patrocínio Pereira, professora da UNEMAT há mais de 15 anos, lotada no Campus de Juara. E, no mesmo ato, repudiar a truculência de policiais, populares e o pároco da igreja católica de Campos de Júlio, conhecido como Frei Sojinha.

No último domingo (13), a professora foi vítima da mais absurda violência física e moral, caracterizando violação de sua dignidade humana enquanto docente do ensino superior, trabalhadora, mãe, chefe de família.

Lisanil encontrava-se no município de Campus de Júlio, onde ministrava aulas na turma especial de Direito da UNEMAT, desde o dia 06 de outubro. Já em sua chegada para ministrar as aulas de economia política, foi recepcionada por estudantes que pesquisaram sua vida pelo facebook e, apresentaram animosidade em razão de sua orientação política de esquerda, conforme relatos de pessoas que conviveram com ela naquele curso.

Vestida com uma camiseta “Lute como uma Garota” e na lateral “Lula Livre” e, sem opção de um restaurante para almoçar, a professora acreditou que poderia ir a uma festa da Igreja Católica, no salão paroquial, onde estava boa parte da sociedade católica do lugar. Entretanto, foi abordada de forma ostensiva pelos presentes que comentavam e a olhavam com estranheza e desdém pelas marcas de sua orientação política, estampada na camiseta.

À certa altura da festa, a professora Lisanil subiu ao palco, num impulso de reivindicar músicas mato-grossenses. Como incomodou os organizadores da festa, o pároco (conhecido como Frei Sojinha por sua relação preferencial com os grandes produtores de grãos), resolveu chamar a polícia para que tirasse a professora do palco. Imediatamente, quase uma dezena de homens apareceu para deter a professora e levá-la a força para fora daquele lugar.

Com a truculência que é própria dos fascistas, a professora foi arrastada pelo palco e pela escada abaixo, ficando à mostra suas partes intimas. Deixada ao chão por um instante e, posteriormente, levada à delegacia algemada com mãos para trás do corpo. Como se debatia muito, revoltada com a situação, foi levada ao hospital onde injetaram tranquilizantes que a fizeram ficar sem condições de ser ouvida pela delegada, obrigando-a passar a noite numa cela onde a fossa séptica aberta estava ao lado o fino colchão onde iria dormir.

Que crime a professora cometeu? Que periculosidade tinha uma mulher sozinha, desarmada e sem qualquer habilidade física para enfrentar os brutamontes que a atacaram? O que justificou tamanha violência senão o ódio às mulheres consideradas perigosas por serem autônomas e por terem posição política e a coragem de enfrentar um estado ainda patriarcal e violento? Associação dos Docentes da Universidade do Estado de Mato Grosso – Seção Sindical do ANDES – SN. Rua São Pedro nº 938 – Cavalhada – Cáceres/MT. Caixa Postal 22, CEP: 78.200-000 – Fone: (65) 3222- 3868 e-mail: adunemat2013@gmail.com

A violência inaceitável contra a professora Lisanil é um crime de ódio que envolve um dirigente da igreja católica que incitou tal brutalidade contra a professora e, agentes do Estado que deveriam protegê-la. Além disso, foi testemunhado por uma plateia onde havia pessoas delirantes, fiéis de uma igreja, seguidores de um Frei que de amor e empatia nada sabe. Gritavam palavras de baixo calão contra a professora e filmavam tudo enquanto se deliciavam aos risos, com o horror que produziam.

A ADUNEMAT, sindicato ao qual a professora Lisanil é filiada desde que entrou para a UNEMAT, não se calará diante do fascismo crescente que avança no interior de Mato Grosso e em todo Brasil. Essas pessoas desconhecem qualquer sombra de civilidade, de respeito à diversidade e, por isso, não conseguem compreender o sentido de uma Universidade, constituída de múltiplos olhares e sentidos, de visões políticas e de mundo, todas necessárias e merecedoras de respeito e convivência pacífica. O risco que esses fascistas impõem à Universidade é sua destruição, pelo silenciamento, pela tentativa de destruir qualquer traço de autonomia de pensamento, de ideias, o ódio ao conhecimento e o elogio à ignorância e à brutalidade.

Da parte da ADUNEMAT, demos e daremos todo respaldo à professora e, exigimos que a UNEMAT, nas suas instâncias assuma uma postura diante dos fatos que vem ocorrendo. Este é o terceiro caso de professor/a da UNEMAT ameaçado/a, agredido/a por sua posição política no interior de Mato Grosso. O ensino superior não pode se transformar num caso de polícia em Mato Grosso e, as instituições precisam atuar no sentido de coibirem práticas fascistas que querem não apenas intimidar como, também, aniquilar os corpos não docilizados dos/as professores/as.

À professora Lisanil, não apenas nossa solidariedade neste dia dos professores, mas a nossa luta continua em defesa da Universidade e do direito dos professores à liberdade de pensamento, de cátedra de modos de vida que lhe permitam exercer com amorosidade a profissão que escolheram. Que não permitamos que a crítica, base do trabalho intelectual, seja criminalizada por aqueles que cultivam o ódio e a ignorância. Contem com a ADUNEMAT, nossa força e nossa voz.

Basta de violência, basta de opressão!

Que neste dia dos professores e das professoras, tenhamos ainda mais força para continuarmos a luta em defesa da educação.

A DIRETORIA DA ADUNEMAT
Cáceres, 15 de outubro de 2019.
 
Confira o vídeo

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23 comentários

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  • por Renato, em 19.10.2019 às 09:49

    Cidadão neutro, se ela foi presa por desacato, alguma coisa disse a um funcionário público. Não existe desacato contra segurança particular. Agora, a polícia civil teria interferido por quê? Os organizadores do evento colocaram a polícia, seja civil, seja militar, numa situação delicada sem necessidade.

  • por Alexandre, em 17.10.2019 às 16:50

    O que as Entidades de Classe queriam que acontecesse? Que a professora fosse até uma festa beneficiente, armasse um barraco e ficasse por isso mesmo? Quer protestar? junte uma turma, organize-se e proteste, mas não na casa dos outros. Não são todos, mas tente participar de um DEBATE junto com alguns professores e tente expor sua idéia. Corre o risco de apanhar pois ALGUNS são totalmente incapazes de manter o mínimo de civilidade mas quando o disco toca ao contrário todo mundo fica de beicinho dizendo que ela tinha o DIREITO de protestar.

  • por Eduardo, em 17.10.2019 às 09:40

    Não vi nenhum policial militar fazendo a prisão dessa professora.

  • por Cidadão Neutro na Política, em 17.10.2019 às 07:08

    Triste mesmo é ver quem nem ao menos leu a reportagem, quem interviu foram os seguranças do evento atendendo a pedido do padre, juntamente com a Polícia Civil, a PM apenas chegou e conduziu a mesma até a delegacia com uso de algemas pois a mesma segundo a reportagem estava se debatendo (nervosa).

  • por Jose Carlos Rodrigues, em 16.10.2019 às 23:19

    Caro Alberto, sei quem voce é...ditadura na cupula dos governos do presidiaro de vcs e da outra tambem ja tinha. E esta besta de professora falar besteira tinha que ser presa e banida desta Univerisidade. Pessoa que com certeza so transmite o odio ao Presidente que temos. qurendo a volta dos ladroes que tivemos nestes 18 anos de poder. Cacete nestes defastas que faliram o Brasil. Q8uero respostas de alguns dessa cupula que vem dizer que falo ao contrario.

  • por Mitoooooo, em 16.10.2019 às 21:31

    Parabéns polícia!

  • por Zezão, em 16.10.2019 às 21:18

    Adorei o rosário ao fundo....Representa bem o amor cristão.

  • por Compartilhando REFLEXÃO, em 16.10.2019 às 18:26

    Concordo que foi cruel essa arbitrariedade contra uma professora. Todavia, sabe-se que ocorrem/ocorreram outras tantas violações morais com a categoria docente sem que a ASSOCIAÇÃO, explicitamente, houvesse se manifestado. Entretanto, vale ressaltar que age, legitimamente, a favor da docente em tela, que integra o grupo da associação outrossim, penso que se lastima que não foram imparciais, em situações de TRANSPARENTE Assedio Moral com outros de seus pares. Em razão disso, penso que só defendem quem seja filiado ao partido político que integram. Entendo que o foco da defesa sindical/associação seria a categoria docente em suas prerrogativas todavia, não li noticias sobre docentes Ofendidos, mas que não levantem estandarte da política partidária.

  • por Rene, em 16.10.2019 às 17:32

    Quando uma pessoa, seja ela quem for, causa desordem em um ambiente, a ponto de suas ações estarem causando incomodo as demais pessoas, bem como prejudicando o andamento do evento e, sendo a polícia acionada pelos organizadores, cabe a polícia garantir o restabelecimento da ordem, se necessário poderá fazer uso moderado de força! Graças a Deus vivemos em um país que as Leis nos garantem direitos, mas também nos atribuem deveres! Caso contrário esse país já estaria dominado por anarquistas!

  • por Souza, em 16.10.2019 às 16:58

    Não sei o que é pior o papelão da professora ou a nota da Adunemat.

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