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01/09/2019 - 10:13

História de mãe e filha Cacerenses barradas em festa do Dia dos Pais em creche municipal é destaque na mídia estadual

Por Fabiana Mendes

Olhar Direto

 (Crédito: Olhar Direto)
Frustração e choro. Assim reagiu uma criança de quatro anos, ao ser impedida de se apresentar para a mãe em uma creche municipal de Cáceres (220 km de Cuiabá), no último dia 17, quando ocorria uma celebração do Dia dos Pais. Mãe solo, a consultora de vendas Marli Santa Rodrigues, de 40 anos, disse que a filha se preparou e criou uma expectativa diante do evento, mas ambas sequer puderam entrar na unidade escolar, que reservou o evento apenas para os homens.

“Sabe o que é voltar para casa com sua filha chorando porque não apresentou? Ela ficou quase 20 dias ensaiando e o guarda não deixou entrar. Ela não apresentou porque tinha que ter uma pessoa do sexo masculino para entrar. Eu achei isso muito revoltante, cada caso é um caso”, lamentou a mãe.

A criança tem quatro anos e estuda há dois na Creche Maria Estevão, em Cáceres. Desde que entrou na unidade, sempre ensaiou, mas nunca se apresentou. Isso porque ficou decidido pela direção que a comemoração dos pais seria somente para os homens e das mães exclusivamente para mulheres.

“Ela entrou com dois aninhos. Justamente o evento de Dia dos Pais, quando ela estava com dois aninhos, ela não participou. Foi uma regra que a escola colocou desde 2017, dia das Mães com mães e Dia dos Pais com pais. Eu já sabia. Com três anos ela ensaiou, mas não apresentou, justamente pelo mesmo motivo. Agora ela está com quatro anos, já entende. Ela ensaiou, se preparou, passou a semana inteira falando da apresentação, compramos a roupinha da apresentação. Meu pai falou em ir, mas ele é de idade, mora comigo, tem 80 anos. Como ele não estava bem, não teve condições de ir”, lamentou.

Foi então que após ver a filha chorando, a mãe seguiu até a creche para levar a menina, que esperava se apresentar. “Ela começou a chorar, falou que queria ir à apresentação. Eu arrumei ela, cheguei à porta da escola, desci e o guarda me barrou na frente do portão e disse ‘mulher não pode entrar’. Falei ‘cada caso é um caso, chama alguém da direção, por favor’”, lembra.

“Eu peguei telefone, liguei para professora dela, mas o som alto e com barulho, ela não atendeu. Imaginei isso. Voltei a falar para ele, para me escutar, ele disse ‘sinto muito, a determinação é para não deixar entrar’”, acrescenta.

Marli classifica o fato como infeliz. Ela teme que aconteça o mesmo com outras crianças. “Sabe o que é voltar para casa com sua filha chorando porque não apresentou? Ela ficou quase 20 dias ensaiando e o guarda não deixou entrar. Ela não apresentou porque tinha que ter uma pessoa do sexo masculino para entrar. Eu achei isso muito revoltante”, disse.

Depois do acontecimento, a escola justificou que não teria espaço para acolher todos. “Mas o espaço que seria para o pai dela, poderia ser o meu, dava para ter entrado. Já aconteceu festa junina, outras apresentações, aberto ao público. Essas informações não me convenceram”.
 
Em recente entrevista ao Olhar Direto, a a mestre em Psicologia e membro da Associação Mato-grossense de Psicanálise, Michéli Jacobi, explicou que a função paterna pode ser exercida por qualquer outra pessoa, mas o pai enquanto ser não deixará de existir. “Pontuo ainda que há pais presentes nas famílias e que acabam deixando a desejar a função paterna, ou seja, paternidade e função paterna são distintas”.

“A ausência física do pai necessariamente não significa a ausência da figura paterna, a função paterna, poderá ser exercida por qualquer pessoa que estará permeando o caminho junto com a criança”, afirma Michéli Jacobi.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 5,5 milhões de crianças não levam o nome do próprio pai na certidão de nascimento. Estima-se que 40% dos lares brasileiros sejam chefiados por mulheres, o que significa 60 milhões de domicílios.

Outro lado 

Procurada, a Escola Municipal de Educação Infantil “Madre Maria Estevão” informou, por meio de nota, que preza pela inclusão de todos, e entende, que a sociedade vem passando por transformações, e que existem diversos formatos de famílias, e enquanto escola tem respeitado todos sem distinção.

“Informamos que, escola, família e Secretaria Municipal de Educação já se reuniram, no último dia 22, e os fatos foram esclarecidos, a escola lamentou o fato isolado ocorrido, e se solidarizou com a família. Foram feitos encaminhamentos, inclusive quanto a revisão do formato das comemorações das escolas municipais”, disse.

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7 comentários

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  • por CACERES EM VERDADE, em 03.09.2019 às 09:46

    Por que vocês postam apenas os comentários que são a favor do jornal e sua notícia sensacionalista e tendenciosa que não diz sobre o fato real acontecido denegrindo a imagem da escola que se dedica em seu trabalho? Sejam imparciais e deem valor a pluralidade de idéias.

  • por CÁCERES EM VERDADE, em 03.09.2019 às 09:06

    É incrível como o sensacionalismo ganha seguidores a cada notícia típica de direitos humanos ou inclusão social. Esta matéria noticiada não descreve os fatos ocorridos. A mãe e a criança não estão erradas em nao concordar e não poder participar desta festividade escolar. Mas a situação em questão foi familiar. Reuniões e assembléias são feitas frequentemente nesta escola e não houve nenhuma imposição de nenhum pai PRESENTE sobre a organização destas festividades. Aos Cacerences que duvidam destes fatos e acham um absurdo o ocorrido se perguntem por que? Apenas 01 caso ocorrido.? São cerca de 200 crianças. Querem saber as reaposta? Apenas se perguntem por que ocorreu com esta mãe quem nem sequer chegou a chamar a Diretoria para explicar a impossibilidade do pai estar no evento.

  • por Cacerense aloprado, em 01.09.2019 às 21:03

    Como diz Boris Casoy : isso é uma vergonha! Que modelo de educadores está saindo quentinho do forno ! Fiquei abismado com tanta ignorância e falta de sensibilidade, aonde se espera respeito e educação é onde menos se tem, na escola. Vou além desta barbárie, aqui na escola pequeno sábio no Jardim padre Paulo, "A nobre diretora" que quase perdeu sua votação para o NÃO, ou seja, um grau de rejeição enorme, agora colocou a seguinte regra: ninguém entra na escola sem o seu consentimento! Isso é uma vergonha!!! Escola é lugar da família, escola é o berço da educação e respeito, E NÃO UMA PENITENCIARIA. Com a palavra a secretaria de Educação!

  • por Marionely viegas, em 01.09.2019 às 17:38

    Senhores Representantes da escola, sejam, se possível, Dgnos de assumirem o erro cometidp!!!!

  • por Lizabeth labaig Bolzan, em 01.09.2019 às 15:50

    É por isso que as Escolas devem adotar um novo formato de festas e comemorar o " dia da Família "!! O que a Escola faria, se a família fosse formada pelo casamento de duas mulheres e uma delas representasse o pai da criança e essa pessoa fosse barrada?? Certamente seria HOMOFOBIA!! Tempos modernos, minha gente!!

  • por Alexandre Ivan de Lara Oliveira Vip Service InforSolution, em 01.09.2019 às 15:41

    A escola não deve existir sexo, cor ou raça, em nenhum momento pois isso é lei, se vocês olharem hoje o próprio IBGE, faz a pergunta de "QUAL O SEU SEXO BIOLÓGICO" para não se desrespeitar nenhum lado, fica a dica do dia

  • por Márcia, em 01.09.2019 às 11:26

    A secretaria poderia ter feito um pedido de desculpas público, afinal, depois de tudo, a escola teimava em dizer que estava certa. Se não fosse a publicação da história na imprensa, a criança teria que engolir o choro e continuar sendo excluída pelo resto dos anos.

 
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