A placa com os dizeres “Alfaiataria Santo Antônio – Civil e Militar”, feita em 1962, quando iniciou seu próprio negócio em Cáceres, é a mesma que ainda permanece na frente de seu estabelecimento, hoje, localizado na rua Tiradentes, 176, próximo à Praça Duque de Caxias.
É filho de Acácio José Monteiro e Carmelita Cintra Monteiro e está prestes a completar 78 anos no dia 15 de outubro.
Totó conta que antes mesmo de fixar residência em Cáceres, aprendeu a costurar com seu primo em sua cidade natal, Poconé. “Eu tinha 14 anos de idade quando aprendi com um primo. Depois vim pra Cáceres e trabalhei com João Boaventura até ir prestar serviço militar no 2º Batalhão de Fronteira”, relembra ele.
Assim que deixou o Exército Brasileiro em 1962, Totó tomou a iniciativa de montar seu próprio negócio em sociedade com Ulisses de Almeida. O ramo da alfaiataria era o caminho. Seu primeiro salão foi instalado na rua Coronel Faria, onde hoje está localizado a loja do Kincas Cosméticos.
A parceria com Almeida durou pouco tempo. O colega decidiu se mudar para a cidade de seus familiares, em Santo Antônio de Leverger. Mas, um tempo depois, ele voltou a morar em Cáceres, continuando seu trabalho com Totó, agora como seu “operário” (funcionário).
Totó lembra que chegou a ter sete operários na sua alfaiataria, e trabalhavam intensamente das 7 da manhã às 11 horas da noite. “Eu tinha 2 paletoeiros, 4 calceiros e 1 camiseiro. Era muito serviço, principalmente de fardamento do Exército”, descreveu. Nesse período de grande movimento, sua alfaiataria estava estabelecida na casa do senhor Enedino, que lhe ofereceu seu salão (onde hoje funciona a Mapili).
Wilson Kishi / Zakinews
Ele recorda os grandes fregueses que teve, sendo eles: Nelson Dantas, Dolinger, Vitorio de Lara, José Lacerda, Libânio Lemes, entre tantos outros clientes fiéis. “O Dolinger foi meu freguês até a sua morte”, disse. Totó tinha um jeito único de trabalhar, seu corte próprio fidelizava cada vez mais clientes. “Nunca usei moldes. Tirava medida no corpo da pessoa e já fazia o corte do tecido. Cada peça feita podemos considerar ´sob medida´ mesmo”, diz com olhar de saudade.
Com o mundo moderno e a facilidade em se adquirir roupas em lojas, os obstáculos na profissão da alfaiataria são grandes, Totó acredita que ela está com os dias contados. Entretanto, se lembra com orgulho da carreira que construiu e agradece a todas as conquistas que teve graças ao seu dom de costurar. Foi sua profissão que possibilitou o sustento de sua família. Casou-se com a Edinesi Neves Monteiro e teve três filhos: Robert, Silvana (in memorian) e Lidiana.
“Com a alfaiataria consegui criar os meus filhos e sustentar a minha casa. Hoje não tem bastante serviço como era antigamente, mas com a aposentadoria e mais alguns serviços aqui, ainda dá pra manter o sustento. Meus filhos já estão todos encaminhados na vida e hoje é só eu e minha esposa”, diz agradecido.
Antônio José Monteiro diz que não se adaptou com as máquinas elétricas e modernas de hoje. Ainda mantém suas costuras numa Singer dos anos 60, adquirida ainda seminova de um amigo que havia comprado do representante da Singer em Cáceres, Airton Montechi, proprietário do comércio chamado A Ruralista, Secos e Molhados, instalado na praça Major João Carlos.
Antônio José Monteiro conserva ainda duas máquinas de costura, da marca Singer, a mais de 60 anos. Ele diz que elas são bem melhores que as máquinas atuais, por isso não desfaz de suas preciosas relíquias.
Durante a entrevista, assim que a conversa foi avançando, Totó fez questão de voltar ao passado para lembrar dos colegas alfaiates da década de 60. Além de Boaventura, ele citou Zé dos Santos, Pi, irmão do sargento Valdomiro e outros. “Todos nós tínhamos muito serviço, como não tinham roupas prontas, tudo era feito por alfaiates e costureiras”, relembrou.
Ao longo de mais de seis décadas morando em Cáceres, Totó vivenciou várias gestões na política, mas recorda com saudades dos prefeitos Dr. José Rodrigues Fontes, Ivo Scaff e Dr. José Monteiro da Silva.
Nas horas de lazer, o futebol prevalecia. Pela sua estrutura física, Totó jogava de lateral esquerda. Naquela época, o lateral não subia para o ataque, era só defendendo. Por isso, diz que não fez nenhum gol nas partidas que jogou. O palco do futebol era o estádio Mato Grosso, hoje o Juba Supermercados. Ele vestiu as camisas do Comercial, do Juvenal, Guarani, do Sargento Didi, Humaitá e enquanto esteve no quartel defendeu a equipe do UBSSC.
Wilson Kishi / Zakinews
Totó, torcedor fanático do Santos Futebol Clube, diz que Cáceres teve dois grandes craques, Walter Fanaia e Heraldo Carvalho. “Esses dois jogavam muito. Eram diferenciados. O Heraldo era chamado de Pelé Branco”. Depois, segundo ele, surgiram Gilberto Mineiro, Canhento, Sebastiãozinho, entre outros.
Na sua alfaiataria, está exposto, além do emblema do Santos F.C., dois quadros de times que defendeu. Um dos quadros mostra o time do Humaitá campeão de 1968 e outra escalação de time que defendeu num torneio em Cuiabá, no estádio Dutrinha, no final da década de 60.
Antônio José Monteiro acredita que ainda vai trabalhar mais uns dois a três anos. “Enquanto estiver aguentando, vou trabalhando”, diz ele. Totó é uma personalidade cacerense e referência no ramo da costura, com certeza aquela placa feita em 1962 irá se eternizar.