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21/04/2019 - 10:40

Por falta de incentivos fiscais indústria de Processamento de trigo deixou de se instalar em Cáceres

Por Sinézio Alcântara

A falta de incentivos fiscais pelos governos municipal e estadual impediu que uma indústria de processamento de farinha de trigo fosse instalada, em Cáceres, em 2009. Um grupo de empresários da Zaeli – uma das grandes empresas nacionais da área de alimentos – chegou a procurar o Ministério da Agricultura, através do seu representante, em Cáceres, para estudos de viabilidade econômica de importação do produto para instalação e processamento da farinha no município.

À época chegou a ser feito um teste piloto para instalação do parque industrial em Cáceres, com um resultado altamente positivo. Porém, a empresa desistiu da ideia porque não obteve nenhum apoio/fiscal para a proposta, e acabou levando a indústria para o Paraná, onde abastece de trigo dezenas de municípios do Estado.

A revelação é do Auditor Fiscal Federal Agropecuário, aposentado Natanael Ferrarezi, que há 20 anos, trabalhou na fiscalização do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em várias regiões do país, sendo a maioria do tempo em Cáceres. Ferrarezi aceitou falar ao Jornal Expressão que realiza uma série de matérias sobre a desativação do porto de Cáceres, há mais de uma década e, consequentemente, o descaso para a operacionalização da hidrovia Paraguai Paraná.

“Diante do resultado do teste que consideraram altamente satisfatório, em razão da posição geográfica e, principalmente, pela via navegável quase que o ano todo, os empresários demonstraram interesse em se instalar em Cáceres. Mas, desistiram da ideia porque não tiveram incentivos fiscais, tanto do governo municipal quanto do Estado. Resultado: levaram a indústria para o Paraná” disse acrescentando que o processamento da farinha de trigo em Cáceres, abasteceria todo Centro-Oeste do País.

De posse de farta documentação sobre importação e exportação, Ferrarezi enfatiza que as maiores exportações pela hidrovia do rio Paraguai, ocorreram entre os anos de 2003 a 2009. Com destaque para o ano de 2006, quando desceram pelo rio, em várias barcaças, 206 mil toneladas de grãos a maioria soja, milho, farelo de soja e arroz. O que proporcionou um ganho de U$ 38 milhões na balança comercial. Gerando além de divisas para o país, estado e município, centenas de postos de trabalhos.

Embora seja o modal de transporte mais viável do mundo, por uma série de fatores, principalmente, pela economia, levando em conta que o valor do frete, pode chegar a até 80% mais barato que, o transporte pela rodovia, o auditor salienta ainda que, infelizmente, existe um “lob” de grandes empresas nacionais e até internacionais que impedem que as autoridades governamentais atuem de forma mais incisiva para colocar as hidrovias do país a se operacionalizarem.

Para se ter uma ideia, de acordo com Ferrarezi, no auge do transporte aquaviário, houve um incremento muito grande de outros produtos. Além de grãos, chegou a ser transportado pela hidrovia, até o porto de Cáceres, uma carga de cevada malteada – produto utilizado para fabricação de cerveja –. Com a desativação do porto, o produto é transportado da Argentina até ao Porto de Murtinho, em Mato Grosso do Sul, a 100 quilômetros de Corumbá. De lá, é transportado em carretas para as cervejarias de Cuiabá e Rondonópolis.

“Se o porto de Cáceres estivesse em operação, a cevada malteada viria da Argentina, através da hidrovia até Cáceres, como chegou a ser feito, barateando, significamente o valor do frete, poupando as rodovias e o que é ainda mais importante, gerando emprego e renda no município e o Estado” explica.

A Hidrovia Paraguai-Paraná configura-se como uma das principais vias fluviais da América do Sul. Inicia-se no município brasileiro de Cáceres (MT) e se estende até a cidade portuária de Nueva Palmira, no Uruguai. Percorre cinco países – Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai –, com uma extensão navegável de 4.122km. Analisando as transações comerciais (mercados externo e interno), foram 184 milhões de toneladas movimentadas pela Hidrovia Paraguai-Paraná.

A Argentina apresentou maior movimentação, com 92 milhões de toneladas. O Brasil destacou-se em segundo lugar, com mais de 56 milhões de toneladas. Ao todo, um estudo identificou 110 portos e terminais hidroviários ao longo da Paraguai-Paraná, discriminados em portos públicos (20%) e terminais de uso privado (80%). A Argentina, por exemplo, conta com 48 instalações. O Paraguai dispõe de 44 estruturas. Já o Brasil tem apenas 11.

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6 comentários

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  • por joao, em 22.04.2019 às 14:55

    Cidade não tem emprego. Frigorifico fechou, Porto fechou , pequenas e medias empresas nos últimos anos deve ter fechado mais de 100. Varias pessoas mudando para outras cidades na esperança de viver melhor, ter saúde, segurança, emprego..etc Cáceres so ta de pé ainda porque tem muitas pessoas concursadas (Ifmt, Unemat, PF, PRF, PC, PM, Agentes prisionais). Ta difícil demais as coisas

  • por MOSSUETO, em 22.04.2019 às 09:07

    Porque só uma década depois é que este assunto virou manchete? Será que é por causa das eleições que se aproximam e buscam formas de atingir quem está no poder? Gente, parem de blá blá blá, pensando que o povo não enxerga essas bobagens.

  • por Mario Marcio, em 22.04.2019 às 07:30

    Claroooooooo, se importar com desenvolvimento para que né, se o negócio aqui é arrecadar, ludibriar e levar votos de pessoas menos avisadas ! Lógicoooooooo, emprego pra que né? Desenvolvimento pra que ???? Temos uns bando de Políticos meia boca que nem vou comentar pq a população já está Rocha de saber. Pior que não vemos um meia boca tomar partido da população , estão nem aí pra nada !

  • por Marcelo, em 21.04.2019 às 15:56

    Tibúrcio, a primeira preocupação de um político sério que quer desenvolvimento para sua cidade é a educação, que vai refletir na mão de obra de qualidade que o investidor procura. Compare a educação municipal de Cáceres com a das cidades vizinha, e veja o grau de seriedade e comprometimento da gestão cacerense. Se uma empresa se instalar e oferecer bons salários hoje, os empregos vão ficar nas mãos dos cacerenses?

  • por Miguel sanches, em 21.04.2019 às 15:52

    A reportagem está com a síndrome do Prefeito dizendo que a ZPE é realidade. A hidrovia Paraguai-Paraná não inicia no município brasileiro de Cáceres, porque não há hidrovia no trecho Caceres-Corumbá.

  • por Tibúrcio junco pantaneiro, em 21.04.2019 às 15:16

    É por isso que Cáceres está em primeiro lugar como a cidade mais pobre do Brasil, falta aqui político compromissado com o desenvolvimento do nosso município, a população daqui está indo embora para outros municípios em busca de trabalho e empresas estão fechando as portas por causa da crise financeira que a cidade sempre passou, cidade que só vive do dinheiro do funcionalismo público.

 
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