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14/08/2017 - 09:49

'Ódio, mágoa e ressentimento nos levam a doenças', diz psicólogo

Por Karina Cabral

Alair Ribeiro/Mídia News

 (Crédito: Alair Ribeiro/Mídia News)
Presidente da Federação Espírita do Estado de Mato Grosso, o psicólogo Lacordaire Abrahão Faiad diz que a doutrina, criada na França em 1857, tem a missão de ensinar o autoamor e a caridade.
 
Ele ainda prega que a prática cotidiana pode, inclusive, ajudar o indivíduo a se curar de doenças graves.
 
“A doença vem te avisar que alguma coisa na forma que você está se conduzindo psiquicamente e emocionalmente não está em sintonia com a lei do amor, da justiça, da caridade, que são as leis que regem o universo. Então, quando nós entramos nessa dissintonia, nós criamos a doença”, disse o psicólogo ao MidiaNews
 
"Nossos movimentos de mágoa, ressentimento e de ódio alteram um processo mental e vão estimular o cérebro neuroquimicamente. Isso vai atuar no nível vegetativo, no nível do metabolismo do organismo, produzindo a doença".
 
Apesar de ter sido criado há mais de 150 anos, o espiritismo ainda é pouco entendido pela sociedade, inclusive visto com preconceito por muitos.
 
“Como a doutrina espírita é uma ideia profundamente inovadora, ela vem descortinar um novo horizonte para a humanidade e é compreensível que aqueles que querem se manter nessa zona de conforto psicológico tenham como primeiro movimento atacar”, afirmou Lacordaire, que também está à frente do Instituto Brasileiro da Plenitude Humana, em Cuiabá, que diz atuar no desenvolvimento e aperfeiçamento pessoal e profissional.
 
Nesta entrevista, ele afirmou ainda que uma das missões do indivíduo espírita é buscar a sua evolução e auxiliar na evolução do próximo. E que o perdão é algo que pode auxiliar nessa evolução.
 
“O perdão é você evitar de carregar um peso desnecessário. O errar é uma experiência nos ensinando como fazer diferente e o perdão é se oportunizar, é se autoacolher. Não é anular a falta, porque a falta é uma experiência, que está nos ensinando como buscar refazer de uma forma diferente”, disse.
 
Lacordaire falou ainda sobre os princípios do espiritismo, a possibilidade da cura de doenças através do autoconhecimento, além da importância do autoamor e da caridade.
 
Veja principais trechos da entrevista:
 
MidiaNews – Apesar de já ter mais de 150 anos, ainda existe muita desinformação sobre o espiritismo. Fale um pouco sobre o fundador, Alan Kardec.

 
Lacordaire Abrahão Faiad - Allan Kardec é o pseudônimo de um eminente professor poliglota, autor de vários livros, Hippolyte Léon Denizard Rivail.
 
Ele estudou em Verdun, na Suiça, com Johann Heinrich Pestalozzi, que é o pai da pedagogia moderna. Quando ele voltou para a França, contribuiu muito com a estrutura educacional.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Lacordaire Abrahão Faiad
"O espiritismo é uma ciência que tem como objetivo auxiliar a criatura humana  nesse mergulho de si mesmo"
 
Por volta de 1850, ele foi participar de um fenômeno que surgiu na América do Norte, em Hendersonville, chamado depois na França de o “fenômeno das mesas girantes”.
 
Um amigo que era magnetizador o convidou a participar de um desses fenômenos dizendo que as mesas não somente mais bailavam, como também respondiam às perguntas daqueles que lá estavam.
 
Ele foi e partiu de uma dedução muito simples e lógica: “Se a mesa não tem cérebro, como é que ela pode responder a perguntas daqueles que ali estavam?”. E ele então pergunta mentalmente: “O que é que está por trás deste fenômeno”. E a mesa então responde: “Somos nós as almas dos homens que já viveram na Terra”.
 
A partir dali, ele passa, junto com amigos médiuns, a pesquisar aquele fenômeno. Depois de certo período percebeu que estava diante de um profundo tratado de Filosofia, de Religião, de Ciência. E decide publicar sua pesquisa e aprofundar mais ainda.
 
Assim, em 18 de abril de 1857, em Paris, veio "Livro dos Espíritos", que é a síntese de toda doutrina espírita. Neste livro está todo arcabouço teórico da doutrina espírita.
 
MidiaNews - E o que é exatamente o espiritismo?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Allan Kardec o denomina como sendo uma ciência que estuda a natureza, a origem, o destino dos espíritos e suas relações com o mundo corporal. Não é uma ciência como a Matemática, Biologia e a Física, mas uma ciência que estuda o espírito, ou seja, o cosmo moral.
 
Assim como nós temos a genética, que é um código, nós também temos um código moral, que vem nos ajudar no desenvolvimento da ética, nos valores, nas virtudes que nós trazemos dentro de nós.
 
A doutrina espírita vem justamente nos ajudar a estudar e mergulhar neste fenômeno do ser que nós somos. É uma ciência que tem como objetivo auxiliar a criatura humana nesse mergulho de si mesmo e desse cosmo moral que todos nós estamos inseridos.
 
MidiaNews - O preconceito ainda existe, não é mesmo?

 
Lacordaire Abrahão Faiad - Como toda e qualquer ideia revolucionária, ela nos desaloja da zona de conforto psicológica que às vezes nós nos colocamos. Vejamos o advento do micro-ondas, do celular, do computador. Houve a princípio uma série de crenças limitadoras em torno desses avanços.
 
Como a doutrina espírita é uma ideia profundamente inovadora, ela vem descortinar um novo horizonte para a humanidade. É compreensível que aqueles que querem se manter nessa zona de conforto psicológico tenham como primeiro movimento atacar. As pessoas se atacam, atacam as ideias, porque elas não conseguem conceber.
 
O segundo movimento é o de negação. E o terceiro, por fim, ninguém resiste à força das ideias. Veja Jesus, veja Sócrates... Os grandes pensadores da humanidade enfrentaram grandes desafios em virtude das suas próprias ideias renovadoras, revolucionárias.
 
A doutrina espírita não é diferente. Ela vem justamente tirar e auxiliar na lição dos preconceitos, das muletas psicológicas, porque ela vem estabelecer a relação muito próxima da criatura e do criador, tirando essas muletas psicológicas que às vezes nós trazemos conosco.
 
MidiaNews - Muitos cristãos criticam o espiritismo. Como a doutrina enxerga Deus?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Allan Kardec estabelece muito claro, e é a primeira questão do "Livro dos Espíritos". Primeiro vem Deus, a crença em Deus. Depois vem a crença na imortalidade da alma, na comunicação dos espíritos, na pluralidade das existências e na reencarnação, que são os postulados da doutrina espírita.
 
Na primeira questão do "Livro dos Espíritos", Allan Kardec pergunta "o que é Deus", diferentemente do que era perguntado até a época, que era "quem é Deus". Porque o próprio verbete "quem" subentende-se que alguém fez essa ideia do Deus antropomórfico, do Deus em forma humana.
 
Os espíritos respondem: “[Deus] é a inteligência suprema e a causa primária de todas as coisas”. Então vem desbancar esse Deus na forma humana. Deus, para os espíritas, se manifesta através desse conjunto de leis sábias que rege todo universo.
 
E a reencarnação, que é uma palavra criada por Allan Kardec, mas é conhecida desde a antiguidade. Nós podemos perceber em uma passagem do Evangelho, quando Jesus pergunta a Pedro: “Que diz o povo quem eu sou?”. E Pedro diz: “Senhor, uns dizem que vós sois Elias, ou um dos profetas da antiguidade”. Historicamente Elias viveu 600 anos antes de Cristo. Então existia uma ideia de que o espírito poderia voltar.
 
Sócrates dizia que, se não houver vida além da vida, é um grande negócio para os desonestos e um mal negócio para os bons e os justos. Porque se você que trabalha com muito ardor e desafios na sustentação pessoal e da família e aqueles outros que fazem as falcatruas, que agem sem escrúpulos, vão para mesmo lugar após a morte, onde estaria a justiça divina? Então a reencarnação é a volta do espírito no mesmo palco da vida e muitas vezes em papéis trocados.
 
MidiaNews - Nos últimos anos temos visto um grande aumento na prescrição de medicamentos para ansiedade e depressão. Como psicólogo, o senhor também tem notado esse aumento?
Alair Ribeiro/MidiaNews
Lacordaire Abrahão Faiad
"A reencarnação é a volta do espírito no mesmo palco da vida e muitas vezes em papéis trocados"
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Sim, é verdade. Nós não fomos criados para ficar com sede, nós fomos criados para ter sede. Você tem a sede e o próprio órgão correspondente do corpo vai mandar uma mensagem para o cérebro. E, enquanto você não beber água, isso não vai cessar. Da mesma forma é a sede psíquica, emocional, afetiva, de evolução.
 
Vejamos uma passagem do Evangelho em que Jesus está diante do poço de Jacó, da Samaritana. Era uma mulher que vinha de seis casamentos, que tinha um anseio interno muito grande. Ela estava se buscando no outro, nas relações.
 
Jesus então disse: “Eu tenho a água da vida, quem dessa água beber jamais sentirá sede”. Em outras palavras, quer dizer, todos trazemos dentro de nós todas as qualidades necessárias para nos fazermos felizes. Quando nos distanciamos de nós mesmos, entramos nessas síndromes, a depressão, o pânico, a ansiedade e assim sucessivamente.
 
Por isso que a própria Organização Mundial de Saúde nos coloca que não existem doenças, existem doentes. Cada pessoa desenvolve o seu câncer, cada pessoa vai desenvolver a sua depressão, dependendo da forma como ela se estrutura internamente, psiquicamente.
 
E o remédio é um fator importante, mas é uma muleta. É importante você não só atender o efeito, mas também remontar a causa.
 
MidiaNews - As frustrações do cotidiano, sobretudo nestes tempos de crise, influenciam para este aumento nos casos de depressão?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Os desafios do nosso dia a dia influenciam muito no processo de equilíbrio e desequilíbrio que nos encontramos. Mas influenciam porque nós estamos em um mundo de provas e expiações.
 
A Terra é como se fosse um grande hospital escola. E é compreensivo: a humanidade como um todo está passando por um processo de grandes desafios. Porém questões que acontecem conosco são fatores intervenientes, mas não preponderantes.
 
Porque não é o outro, nem as situações, nem as pessoas, que nos desequilibram, mas sim a forma como lidamos com as pessoas e com as situações. Ninguém tem poder de criar nada dentro de nós.
 
Se eu tenho uma boa estrutura emocional, afetiva, comigo mesmo, eu vou estar diante dos desafios sabendo transformar em experiências de aprendizado. Mas este momento de grande conturbação social que nós estamos, socioeconômicos, são fatores muito grandes de influencia no pânico, na ansiedade, na depressão, uma série de sintomas que nós trazemos conosco.

MidiaNews - Como o espiritismo pode ajudar as pessoas a se livrarem destas angústias?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Primeiro levando as pessoas a buscarem se autoconhecer. E essa pergunta que você faz é uma das que o codificador faz no "Livro dos Espíritos".
 
Na questão 919, ao espírito Santo Agostinho, que é um dos pais da igreja e ajudou na codificação, ele pergunta: “Qual é a forma, o meio prático, para que nós possamos resistir ao mal e desenvolver o bem?”.
 
E ele então responde: “Um sábio da antiguidade já lhe disse, conheça-te a ti mesmo”. Então a melhor forma de nós superarmos as nossas dificuldades é buscar o autoconhecimento. Ele vai nos possibilitar ver o que nós já trazemos de conquistas e aquilo que nós temos também que deixa a desejar.
 
O que eu tenho de conquista vou incentivar e o que deixo a desejar vou buscar conhecer e desenvolver. Porque ninguém está jogado no Mundo. O pai não coloca fardos pesados em ombros frágeis. O universo não é ingrato. Ele nos traz de volta o que nós produzimos e ninguém vai enfrentar alguma coisa que não tenha condições para poder equacionar.
 
O segundo passo depois que buscamos o autoconhecimento, é o autodomínio. Que é quando eu reconheço as minhas limitações e dificuldades, mas sei que sou mais do que elas. Eu sou mais do que eu penso, mais do que eu sinto, mais do que o meu próprio corpo.
 
Então passo a ser um agente das minhas ações, do autodomínio, eu vou ganhar agora a automotivação. Eu me motivo para resolver e equacionar aquilo que chega até a mim, porque sei que através desse exercício é que eu vou estar conquistando a minha elevação espiritual.
 
MidiaNews - O senhor trabalha a cura destas doenças psicológicas por meio do espiritismo. Como isso funciona?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Profissionalmente, eu trabalho como psicólogo. E a função do psicólogo é ser um facilitador para ajudar a pessoa a se autoperceber e perceber que todas as soluções das nossas dificuldades e desafios já se encontram dentro de nós.
 
À semelhança de uma semente - que tem dentro dela toda característica da árvore que a tipifica -, basta que nós busquemos para nos trabalhar. No caso da semente, plantá-la, regá-la, adubá-la. No nosso caso, também.
 
E como todo e qualquer espírita eu trabalho voluntariamente na Federação Espírita do Estado de Mato Grosso e em outras instituições, auxiliando através de palestras e atividades voluntárias que nós desenvolvemos.
 
Isso sem remuneração, porque todo e qualquer trabalho espírita está na sintonia conforme disse Jesus: “Dai de graça o que de graça recebeste”. Então como voluntário, nas casas e instituições que atendemos, também trabalhamos essa busca de auxiliar a criatura no autodesenvolvimento, no autodescobrimento.
 
MidiaNews - O espiritismo tem muito de levar o bem, independente de quem seja o outro, não cobrar por isso e estar sempre pronto a ajudar.
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Lacordaire Abrahão Faiad
"Todo e qualquer trabalho espírita está na sintonia com o que disse Jesus: 'Dai de graça o que de graça recebeste'”
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Exatamente. Ele vem em sintonia com o que disse Jesus: “Os meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem”. E Allan Kardec coloca que fora da caridade não há salvação.
 
A caridade - conforme entendia Jesus e também é uma questão do "Livro dos Espíritos" - é benevolência, indulgência para com o próximo e para consigo e perdão das ofensas. Então, a caridade não é dar coisas, a caridade é você buscar perceber que Deus não cria ninguém coitadinho, nem incapaz. É você auxiliar a criatura em seu autodesenvolvimento e, ao mesmo tempo, você buscar também o seu autocrescimento.
 
Porque toda relação na vida é uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo em que você auxilia, você também está sendo auxiliado. A vida é feita de escolhas e toda escolha tem depois uma experiência.
 
MidiaNews - Um dos temas que o senhor costuma abordar é o perdão. O exercício do perdão é algo, de fato, importante para o homem?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Sim, o perdão é você evitar um peso desnecessário. Porque a culpa não é uma linguagem cristã. Jesus nunca falou de culpa, Jesus sempre falou de responsabilidade.
 
Perdoar é se oportunizar, porque nós, muitas vezes, ficamos em conceitos pré-concebidos, ou às vezes em uma visão ideológica. E essa visão de certo e errado faz com que, quando nós erramos, não consigamos ver como uma experiência nos ensinando como fazer diferente.
 
Há uma experiência clássica. Thomas Edison, quando estava inventando a lâmpada, já havia tentado várias vezes e seu assistente disse: “Nós já erramos mais de 800 vezes, vamos desistir”. E ele disse: “Não, nós fizemos 800 e tantas vezes aprendendo a experiência de como fazer diferente”. Tanto é que logo depois de algumas experiências, ele coloca vácuo no tubo de ensaio e nós temos hoje a lâmpada.
 
O errar é uma experiência nos ensinando como fazer diferente. E o perdão é se oportunizar, é se autoacolher, não é anular a falta, porque a falta é uma experiência, que está nos ensinando como buscar refazer de uma forma diferente.
 
MidiaNews - O Instituto Brasileiro de Plenitude Humana, onde o senhor também atua, diz, em seu site, que atua no aperfeiçoamento humano, por meio do desenvolvimento dos potenciais de cada um.  Como isso se dá na prática?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - O Instituto tem vários cursos online e a finalidade dele é justamente auxiliar a criatura em busca do seu autodesenvolvimento. Porque quando Sócrates diz “dai-me um imbecil e eu farei dele um sábio” é porque todos nós trazemos dentro de nós esse sábio que está dormitando.
 
Conta-se que um escultor estava em uma praça com um pedaço de madeira e um formão e dali saiu uma linda águia. E alguém então o perguntou como ele a fez. E ele respondeu: “Eu não a fiz, a águia estava dentro da madeira. O que eu fiz foi desbastar o excesso”.
 
O Instituto Brasileiro de Plenitude Humana tem por finalidade nos ajudar a perceber esse excesso de preconceitos, de medos, de insegurança que nós trazemos. E através dos seus cursos ajudar a pessoa nessa autopercepção de si mesmo. Com isso, ela conquista sua elevação e auxilia aqueles que gravitam em torno da sua vida.
 
MidiaNews - Há muitos casos de pessoas com doenças graves, como o câncer, que buscam ajuda no espiritismo. De que forma a doutrina espírita pode auxiliar essa pessoa?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Profundamente. A doença não é uma inimiga, ela é uma amiga, um carteiro. Qual é a função do carteiro? Entregar uma carta. Se você pegou a carta, leu e tomou uma conduta, ele vai embora.
 
A doença vem te avisar que alguma coisa na forma que você está se conduzindo psiquicamente e emocionalmente não está em sintonia com a lei do amor, da justiça, da caridade, que são as leis que regem o universo. Você não está sendo caridoso consigo mesmo. Então, quando nós entramos nessa dissintonia, nós criamos a doença.
 
Por isso que o doutor Bernie Siegel, um oncologista norte-americano, que escreveu o livro “Amor, Medicina e Milagre”, coloca que cada pessoa desenvolve o seu próprio câncer.
 
Porque, conforme nós pensamos, nossos movimentos de mágoa, ressentimento e de ódio alteram um processo mental e vão estimular o cérebro neuroquimicamente. Isso vai atuar no nível vegetativo, no nível do metabolismo do organismo, produzindo a doença, ou a manutenção da saúde. Por isso que é muito importante, além da doença, eu buscar perceber e sentir o que está por trás disso.
 
São três perguntas fundamentais e consensuais para que nós possamos, diante de qualquer desafio, estar nos ajudando. A primeira é: “Por que eu estou nessa situação?”, para saber o porquê de o universo estar me convidando nesse momento para essa situação.
 
A segunda é: “O que essa situação quer me dizer?”. Porque a própria situação já tem internamente a direção que nós podemos estar dando. E a terceira: “Como eu, e somente eu - porque ninguém tem como fazer por nós - posso agir para modificar essa situação?”.
 
Com isso eu vou buscar agir positivamente fazendo um processo de mudança mental, mudança comportamental e naturalmente eu me sincronizo com a harmonia, com o equilíbrio do universo, que vai refletir também em todo o meu metabolismo harmonicamente.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Lacordaire Abrahão Faiad
"É muito importante, além da doença, eu buscar perceber e sentir o que está por trás disso"
 
MidiaNews - Dessa forma é correto dizer que o espiritismo pode ajudar a curar o câncer?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - O espiritismo pode ajudar você a se autocurar. Porque a cura e a doença estão ligadas diretamente à forma como eu lido diante das leis da vida.
 
Por isso que a doutrina espírita nos coloca e nos mostra que não existem milagres, como também não existe acaso. Aquilo que nós atribuímos como milagres, ou acaso, nada mais é do que uma pobreza de instrumentação para que nós possamos aferir a intimidade dos fatos.
 
O universo não é ingrato. Todos podemos bater e pedir, está dentro da lei da permissão. O Sol nasce para todos, mas eu às vezes não me permito desfrutar dos benefícios do Sol, me coloco na sombra do meu egoísmo, na menos-valia, me tratando como um coitadinho. Ai é compreensivo que a doença venha como consequência disso.
 
MidiaNews - O espírita enxerga a morte de uma forma diferente. Tanto que o velório em uma família espírita é mais tranquilo e pleno. Como o espírita vê a morte?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Vê a morte como a morte é. Ela não é um fim, é o corredor para a vida, é uma passagem, uma ponte. Você está em Cuiabá e vai atravessar para Várzea Grande. É um processo, você não deixa de ser quem você é.
 
A morte nada mais é que este momento, esse processo, e todos os dias nós estamos treinando para morrer. Quando você dorme, naquele momento você vai entrar nesse processo da morte, mas no outro dia você acorda com toda lucidez. A morte também é assim. Quando nós deixamos o corpo físico, não deixamos de ser quem somos.
 
Mas Allan Kardec faz uma distinção entre morrer e desencarnar. Morrer é um fenômeno biológico, todos nós vamos morrer. Mas desencarnar implica em processos psicológicos, emocionais.
 
Por exemplo, se eu levo a minha vida de uma forma sensualista, o sensualismo é ligado a questões materiais, das aparências, questões sexuais de uma forma desvairada, a droga e assim por diante.
O que acontece? Eu vou morrer, mas vou ficar preso ao corpo. Essa sensação de que ainda estou no corpo. Como alguém que assistiu a um filme, sai do cinema e tem aquele sensação de que ainda está dentro do filme.
 
A pessoa que leva uma vida com mais conscientização de quem ela é enquanto espírito imortal momentaneamente num corpo e trabalhando no ter, fazer e estar - que são as questões horizontais da vida - mas com essa percepção que ele é um ser espiritual, ela vai morrer, mas logo depois ela tem autoconsciência de que já está no mundo espiritual.
 
Então ela não vai sofrer, ela vai passar por uma experiência como alguém que busca se educar, se instruir. De repente você pega essa pessoa aqui e leva para os Estados Unidos, onde se fala uma língua diferente da dela. Se ela fala a língua do país em que está, ela se vira, agora se ela não tem o conhecimento da língua do país estranho, vai se sentir perdida. Assim é o mundo espiritual.
 
MidiaNews - Como o senhor enxerga o trabalho de médiuns como João de Deus, que realiza cirurgias espíritas?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - A mediunidade é um talento e o próprio Allan Kardec coloca que médiuns todos nós somos, mas médiuns ostensivamente são aqueles que trazem essa faculdade de forma mais ostensiva.
 
Nós vamos ver que a mediunidade vem desde que o ser humano surgiu. Quando o anjo apareceu para Maria dizendo que ela estava grávida, o anjo não é um espírito? Então Maria, para poder ouvir o anjo, ou vê-lo, também era médium.
 
Vejamos Moisés. Quando ele recebe o decágono, podemos dizer que ele foi o primeiro médium psicógrafo. Porque é o primeiro livro são os 10 mandamentos, escritos em pedras.
 
A mediunidade é inerente a todo ser humano. No caso dos médiuns, nós vamos perceber que cada um tem um compromisso. Agora o médium realmente espírita é aquele que baseia no que disse Jesus: “dai de graça o que de graça recebestes”.
 
Médium verdadeiro é cristão, evangélico, é aquele que busca estar servindo e utilizando da mediunidade para servir. Aqueles de nós que não servimos essas faculdades, estamos deixando a desejar.
 
MidiaNews - O espiritismo fala em reencarnação, que seria a oportunidade que Deus dá ao homem para redimir seus pecados. Na visão do espiritismo, na reencarnação a pessoa também pode pagar por erros que cometeu na forma de sofrimento?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Não é uma questão de pagar. Quem é o dono da vida? Nós mesmos. Se Deus é onipotente, onipresente, onisciente, Ele não precisava ter nos criado, não nos criou pra Ele, porque Ele tinha tudo. Mas nos criou para nós mesmos, cada um de nós somos um presente de Deus para nós mesmos.
 
Nós, ao sermos criados por Deus, ganhamos também um objetivo e dentro disso Ele criou as leis sábias e imutáveis. Um dos grandes compromissos nossos é estarmos trabalhando a nossa felicidade. E cada um vai se fazer, não tem como outro nos fazer feliz.
 
A felicidade consiste no desenvolvimento das virtudes em sintonia com as leis divinas. Então da mesma forma que o aluno, no currículo escolar, se de repente não consegue e deixa uma matéria para trás, é compreensivo que logo mais o coordenador do curso vai chegar e falar que ele precisa resgatar aquela matéria, assim somos nós.
 
Dentro da lei de liberdade, nós estamos inseridos na lei de responsabilidade. Nós podemos fazer o que quisermos da nossa vida, mas o que fizermos seremos responsáveis. Se assim não fosse, nós não teríamos um parâmetro. Uma avaliação de como nós estamos andando.
 
MidiaNews - Sendo dessa forma, o espírito volta à Terra para corrigir algo e evoluir. Como funciona a evolução através da reencarnação?
Alair Ribeiro/MidiaNews
Lacordaire Abrahão Faiad
"Nós podemos fazer o que quisermos da nossa vida, mas o que fizermos seremos responsáveis"
 
Lacordaire Abrahão Faiad - A evolução é uno vibrante do universo. Há duas forças que regem o universo: a força endoevolutiva e a força autoevolutiva. A força endoevolutiva, endo é internamente, ela está presente em todos os reinos, em todo universo.
 
Por exemplo, você pega a tabela de Mendeleev, desde os elementos mais simples, aos radioativos, então os elementos passam por um processo de transformação. Nós temos aqui o cavalo pantaneiro, que é o único cavalo cujo casco não apodrece. Além da adaptação em virtude do próprio ambiente, que força é essa que está fazendo toda essa adaptação? É a força endoevolutiva, ela faz a transformação.
 
Nós, seres humanos, temos a evolução e ela depende da força de vontade. Por isso dizemos que cada um de nós temos um nível de aprendizado diferente do outro. Cada um de nós temos um jeito diferente de expressar nossa amorosidade, a nossa competência. Nós vamos evoluir enquanto espírito dependendo da força e da vontade, a oportunidade é para todos.
 
MidiaNews - Se as reencarnações serviriam para melhorar o ser humano – e consequentemente a humanidade -, por que o mundo continua tão violento?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - O mundo está cada vez melhor. Hoje são poucos os países ditatoriais, nós não tínhamos o advento da internet há 20 anos atrás. O avanço tecnológico que vem auxiliando a criatura humana traz esse processo das interpelações.
 
Veja as inteligências luminosas que estão no meio da comunidade, o Google, o Whatsapp, a criação do email, das mensagens eletrônicas. Agora, a forma como nós usamos depende de cada um.
 
É perceptível que nunca se falou tanto de amor como hoje em dia, os direitos dos animais, dos idosos, das crianças. Na época de Jesus, a mulher valia menos que um burro de carga. Hoje, quando houve, por exemplo, o estupro da jovem na Índia, o mundo todo se uniu fazendo com que países mudem as suas legislações.
 
É como se nós tivéssemos vivido em um mundo com uma lâmpada de 40 Watts, com uma luminosidade mais pacata, e agora estamos com uma luminosidade de 1500 Watts, uma lâmpada que ilumina muito mais. Aquelas sujidades que antes a gente não via, agora nós estamos vendo.
 
Estamos vendo jovens promotores, juízes, fazendo uma revolução da própria comunidade, da própria sociedade. O mundo hoje não está mais acomodado dentro da corrupção, da desonestidade, da criminalidade. Isso já incomoda.
 
Mas é claro que estamos à semelhança de quem está reformando uma casa. Os móveis da cozinha estão na sala e assim por diante, mas logo a reforma passa. Estamos em um momento muito desafiador, que requer de todos nós, como já dizia Gandhi, “seja você a paz que você busca do outro”.
 
MidiaNews - A tendência então é melhorar?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - A melhoria está ligada diretamente à evolução. E a evolução é inevitável. Há uma questão do "Livro dos Espíritos" que Allan Kardec pergunta aos benfeitores se o progresso pode ser impedido e eles respondem que não. Ele pode ser retardado, mas nunca impedido.
 
MidiaNews - Um dos objetivos da atuação do Instituto de Plenitude Humana nas famílias é preparar a pessoa para a velhice. Como é isso?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - O Instituto busca trabalhar o espírito integral, o corpo fica velho, mas o espírito com seu dinamismo não. Ser jovem é olhar para trás e não ter vergonha do seu passado e manter um ideal de vida. Então quando você consegue promover o ser enquanto ser imortal, ele consegue passar pelas várias fases e desafios da vida com altivez, com essa percepção de um propósito existencial. O nosso propósito maior acima de tudo é a nossa autotransformação.  
 
MidiaNews - Uma boa velhice depende então da preparação do espírito tanto quanto do corpo?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Sim, muitas vezes tem o incentivo ao velho ficar infantilizado, ou numa conduta mais adolescente. É muito importante que a sabedoria que a vida nos oferece e a experiência na idade avançada sejam valorizadas quando pensamos na busca da autotransformação.
 
É importante o lazer, mas paralelamente ao lazer trabalhar o idoso nessa percepção que o corpo é que está realmente desgastado, mas enquanto espírito, quanto mais velho, mais jovem nos tornamos.
 
MidiaNews - Em agosto acontecerá o Congresso Espírita aqui em Cuiabá. Qual o objetivo do evento?
 
Lacordaire Abrahão Faiad - Nós vamos ter um evento de 17 a 20 de agosto, no Hotel Fazenda Mato Grosso. É o 6º Congresso Espírita de Mato Grosso, cujo tema é “Espíritas, amai-vos e instruí-vos”.
 
O objetivo do congresso é trazer uma reflexão mais aprofundada daquilo que a doutrina espírita nos oferece.
 
Amar é cuidar, zelar, se autorrespeitar, se autovalorizar. E à medida em que você se autoama, você muda o seu contorno. À semelhança de uma flor no jardim, que se perfuma para si, mas também irradia esse perfume pelo jardim.
 
O congresso é esse espaço para a pessoa buscar ampliar seu autoconhecimento, primeiro se transformando e depois auxiliando aqueles que gravitam em torno das nossas vidas.
 
Quem desejar pode entrar no site da Federação Espírita do Estado de Mato Grosso ou falar pelo telefone 3644 2727.

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