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23/07/2017 - 12:31

Constelações, abordagem de psicoterapia sistêmica faz sucesso em MT

Por Eduardo Gomes

Pertencimento. Ordem. Compensação ou equilíbrio entre o dar e o tomar. Esse tripé é o regimento dos princípios básicos sistêmicos das constelações, que atuam sobre o ser humano, grupos e famílias e, de modo mais abrangente, as nações. Quem os catalogou foi o filósofo, teólogo, psicoterapeuta e ex-padre católico Anton Bert Hellinger, alemão, nascido em 1925, que assim instituiu nova abordagem de psicoterapia sistêmica. 

Hellinger entende que o Universo é um sistema e que somos sistemas dentro de outros. Em outras palavras o sistema do indivíduo consiste na soma de outros, a exemplo do biliar, capilar, neurológico, respiratório, afetivo, reprodutivo, circulatório etc. Ele, também, acredita que tenha descoberto que as relações entre os componentes dos sistemas são ditadas por leis naturais, que os mantêm em equilíbrio ora excluindo ora incluindo algo, para a continuidade desses sistemas. 

Os três princípios sistêmicos se tornaram de domínio público com o rótulo da abordagem das constelações familiares, mas vão bem além, na medida em que entraram na esfera das relações empresariais, de patrões e empregados, e até mesmo no campo judicial, onde Cuiabá é um dos polos pioneiros no Brasil. A abordagem de questões da família é a mais citada, sobretudo no tocante à violência doméstica contra a mulher, a adoção e o relacionamento entre parentes jovens e idosos. 

Mas, afinal, que princípios sistêmicos são esses e como cada um pode ser entendido? A consteladora e orientadora sistêmica Gil Thomé, do Instituto OCA, em Cuiabá, tem a definição sintetizada para cada um. OCA é uma organização privada presidida pela consteladora Gianeh Borges, que é administradora, coaching sistêmico, consultora e facilitadora de cursos na área de gestão de pessoas, desenvolvimento de equipes, liderança e empreendedorismo. 

No caso do indivíduo, Pertencimento é o traço do DNA de sua ancestralidade consanguínea. Ordem é o respeito que se deve àquele que chegou antes, e também pode ser interpretado como respeito ao conhecimento ou vivência do indivíduo mais velho. Compensação ou equilíbrio entre o dar e o receber tem exemplificação muito além do que se possa imaginar. 

O entendimento sobre Pertencimento é interessante. Gil Thomé explica que se alguém tenta se proteger ao ouvir o estrondo de um foguete junino isso significa que na curva do tempo do passado alguém de sua ancestralidade foi vítima de uma explosão quer seja na guerra ou paz, que o marcou. O traço do DNA do indivíduo é carregado com aquela mensagem ditada pelo Pertencimento e isso não tem nada de espiritualidade, e tudo se deve ao fato do indivíduo ser energia, energia que se transmite pelos laços consanguíneos. Ela vai além com outro exemplo: o medo de altura tem relação com a ancestralidade, “se o avô caiu de uma árvore o neto se sentirá inseguro em lugares altos”. 

Ordem é a coisa mais natural possível. Um jovem não tem a experiência que é marca de seu avô ou tio. Por uma questão até lógica ele deve ouvir o ancestral, como é prática entre povos em todos os continentes. Esse, talvez seja o princípio de maior assimilação, porque não é novidade para ninguém que um jovem médico recém-formado seja menos experiente do que seu colega que exerce a medicina há mais tempo e, isso, nada tem a ver com a consanguinidade. 

Compensação ou equilíbrio entre o dar e o tomar é uma forma de respeitar e de se fazer respeitar. Quem adota um bebê ou criança pratica um ato de amor, de doação àquele ser, mas de igual modo recebe idêntico sentimento por parte daquele que é adotado, ainda que esse não saiba externa-lo em razão de sua idade. Em sua prece mundialmente conhecida São Francisco diz que “É dando que se recebe”. 

Ao observar esses princípios o indivíduo aplaina seu caminho e pode eliminar arestas familiares, em sua esfera profissional e até mesmo em suas disputas judiciais. Mas, para que alcance tal condição é preciso receber a orientação e o devido ensinamento por parte de um constelador ou consteladora em procedimentos específicos. É nessa área que atua o OCA instalado na Rua Presidente Rodrigues Alves, 360, bairro Quilombo, em Cuiabá. 

Constelação familiar, que no domínio público é o carro-chefe das constelações é considerada um verdadeiro remédio não amargo e sem contraindicação nos conflitos entre cônjuges, onde quase invariavelmente a mulher é vítima da violência doméstica. 

Gil Thomé se considera exemplo de solução encontrada na esfera das constelações. Agrônoma, ela trabalhava em Tangará da Serra, onde enfrentava problemas profissionais e na própria existência. Em busca de solução participou de um grupo que procurava nas leis de Hellinger saída para seus problemas. A agronomia foi deixada de lado por Gil Thomé no maior Estado produtor de proteínas vegetais do Brasil, e Cuiabá, para onde se mudou, ganhou uma consteladora e orientadora sistêmica. 

Mediação

A incorporação das constelações à esfera judicial em busca de conciliação teve boa aceitação pela desembargadora do Tribunal de Justiça, Clarice Claudino da Silva, que preside o Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec) daquele Tribunal. No entendimento da desembargadora, “a letra fria da lei não resolve sentimento”, daí, os princípios básicos sistêmicos das constelações podem ser decisivos para se chegar ao denominador comum que se busca em determinados casos. 

A desembargadora admite que “ainda há resistência” ao Direito Sistêmico por magistrados, mas comemora o fato de que alguns, no Tribunal de Justiça e em varas nas comarcas, passaram a se interessar por aquela área. Essa área do Direito abre passagem aos princípios apurados por Hellinger e tem defensores mundo afora. 

O juiz da Primeira Vara Especializada e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Capital, Jamilson Haddad de Campos, defende o Direito Sistêmico em conciliações a partir das constelações. O magistrado entende que tanto na fase pré-processual quanto em processos já judicializados (o Direito Sistêmico) serve como método consensual de conflitos. 

Advogados e consteladores defendem a criação de uma Comissão de Direito Sistêmico na Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso. Anselmo Falcão de Arruda Júnior, que advoga em Cuiabá, participou recentemente de um grupo que foi ao presidente da Ordem, Leonardo Campos, propor a criação dessa comissão. A proposta está em compasso de espera. 

Leonardo Campos entende que o Direito Sistêmico “é importante”, mas pondera que ele ainda é desconhecido pela advocacia. O presidente avalia que a criação da comissão não poderá acontecer antes que o Direito Sistêmico se torne conhecido pelos advogados, “e (a popularização) se faz através de debates, palestras, seminários e na mídia”, acrescenta. 

Não há resistência da Ordem quanto ao Direito Sistêmico. “Há prudência”, argumenta Leonardo Campos. Enquanto o caso passa por um processo de maturação, o ideal – segundo ele – seria que os que defendem a criação se abrigassem na Comissão de Mediação e Arbitragem da Ordem. “Depois, quando o assunto for de domínio dos advogados e após a comprovação de que teríamos uma comissão com musculatura, o pedido será encaminhado para que o analisemos”, resume. (EG) 

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