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07/07/2017 - 11:21

Psicóloga cacerense fala sobre Bulling

Por Vânia Costaldi/Redação/SME/Correio Cacerense

Correio Cacerense

 (Crédito: Correio Cacerense)
O Projeto Comunique-se é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Educação de Cáceres, por meio do setor de Redação. Ele visa dar visibilidade às ações das escolas, professores e da própria secretaria, visto que são muitos os projetos interessantes desenvolvidos pelos profissionais da educação que não são divulgados para a sociedade, muitas vezes, por ficarem restritos aos âmbitos escolares.

Partimos da premissa que educação não é algo estático, e sim movimento. A educação é movimento. Com esse olhar que pretendemos projetar as atividades da SME, aprendendo e partilhando conhecimentos, por meio da divulgação de trabalhos e da reflexão sobre temas transversais que afetam não só as crianças e adolescentes, como as famílias.

Nesta edição, vamos falar de um tema que, embora bastante debatido, ainda causa muito sofrimento: o Bulling. E para isso convidamos uma filha de família cacerense, a psicóloga Avany Cardoso Leal, que atua em consultório particular desde janeiro de 1991, na cidade de Campo Grande/MS, atendendo em psicoterapia e avaliação psicológica, com ênfase em Intervenção Terapêutica, principalmente, nos seguintes temas: psicologia hospitalar, psicopatologia, qualidade de vida, suicídio, dependência química, tentativa de suicídio, adolescência, alteração e memória.

Indagada sobre o bulling, a psicóloga demonstrou amplo conhecimento sobre a temática, vale a pena conferir:
O que é bullying? O que não é bullying?

Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato. Conflitos entre professor e aluno ou aluno e gestor não são considerados bullying. Para que seja bullying, é necessário que a agressão ocorra entre pares (colegas de classe ou de trabalho, por exemplo). Todo bullying é uma agressão, mas nem toda a agressão é classificada como bullying.

Como o professor identifica que a criança ou adolescente está sofrendo bullying? Quais as características poderão ser observadas?

O aluno que sofre bullying, principalmente quando não pede ajuda, enfrenta medo e vergonha de ir à escola. Pode querer abandonar os estudos, não se achar bom para integrar o grupo e apresentar baixo rendimento. Além de um possível isolamento ou queda do rendimento escolar, crianças e adolescentes que passam por humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem apresentar doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade. Em alguns casos extremos, o bullying chega a afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opta por soluções trágicas, como o suicídio.
Quais as possíveis atitudes que poderão ser tomadas pela família do agredido e pela família do agressor para repreender tais comportamentos da criança ou adolescente?

Se o bullying for identificado na escola, as famílias do agredido e do agressor devem ser comunicadas. Os alunos e pais devem ser chamados para uma conversa, primeiro individual e depois em grupo. Os pais podem ter uma sensação de impotência e a escola não pode deixá-los abandonados. É mais fácil responsabilizar a família, mas isso não contribui para a resolução de um conflito. A família da criança agredida pode tomar providências como identificar e tratar as características que expuseram seu filho ao
bullying, além de acompanhar a escola de perto, verificando que atitudes estão sendo tomadas pela mesma. A família do(s) agressor(es) deve(m), além de tentar entender e conversar sobre os motivos que levaram o(s) a fazer isso, tratar e acompanhar a escola, para verificar se houve mudança comportamental.

Na Educação Infantil (Creche e Pré-Escola) é comum diagnosticar uma prática de bullying? Exemplo.

Sim, se houver a intenção de ferir ou humilhar o colega repetidas vezes. Entre as crianças menores, é comum que as brigas estejam relacionadas às disputas de território, de posse ou de atenção - o que não caracteriza o bullying. No entanto, por exemplo, se uma criança apresentar alguma particularidade, como não conseguir segurar o xixi, e os colegas a segregarem por isso ou darem apelidos para ofendê-la constantemente, trata-se de um caso de bullying.

Para evitar o bullying, é preciso que a escola valide os princípios de respeito desde cedo. É comum que as crianças menores briguem com o argumento de não gostar uma das outras, mas o educador precisa apontar que todos devem ser respeitados, independentemente de se dar bem ou não com uma pessoa, para que essa ideia não persista durante o desenvolvimento da criança.

Como diferenciar o bullying de uma intimidação mais grave que precisa de intervenção da Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente?

Os casos mais graves são mais persistentes, geralmente praticados por meninos, e com ameaças explícitas. Em casos graves deve-se fazer uma denúncia em Delegacia de Polícia, exigindo a realização de um Boletim de Ocorrência e levando o maior número de provas possível (cartas, bilhetes, desenhos, e-mails, vídeos de celular, fotos, testemunho de pessoas presentes na agressão). Em caso de agressão física é necessário também um Exame de Corpo de Delito; também é essencial não limpar os ferimentos nem trocar de roupas, já que tais elementos constituem provas da agressão.

Atitudes dos pais também podem caracterizar uma prática de bullying? Exemplo.

Conceitualmente, não, pois, para ser considerada bullying, é necessário que a violência ocorra entre pares, como colegas de classe ou de trabalho.

Diante do bullying, qual a intervenção que a direção escolar pode fazer para coibir tais práticas?

Primeiro a direção precisa oferecer orientações claras aos professores sobre como aquela escola vai lidar com a situação, para que todos falem a mesma língua. Ao surgir uma situação em sala, a intervenção deve ser imediata.
A primeira ação deve ser mostrar aos envolvidos que a escola não tolera determinado tipo de conduta e por quê. Nesse encontro, que pode ser permeado pela direção e professores, deve-se abordar a questão da tolerância ao diferente e do respeito por todos, inclusive com os pais dos alunos envolvidos.
Mais agressões ou ações impulsivas entre os envolvidos podem ser evitadas com espaços para diálogo. Uma conversa individual com cada um funciona como um desabafo e é função do educador mostrar que ninguém está desamparado.
A conversa em conjunto, com todos os envolvidos, não pode ser feita em tom de acusação. Deve-se pensar em maneiras de mostrar como o alvo do bullying se sente com a agressão e chegar a um acordo em conjunto. E, depois de alguns dias, vale perguntar novamente como está a relação entre os envolvidos.
É também essencial que o trabalho de conscientização seja feito também com os espectadores do bullying, aqueles que endossam a agressão e os que a assistem passivamente. Sem que a plateia entenda quão nociva a violência pode ser, ela se repetirá em outras ocasiões.
Algumas orientações para prevenção para os professores:
Incentivar a solidariedade, a generosidade e o respeito às diferenças por meio de conversas, campanhas de incentivo à paz e à tolerância, trabalhos didáticos, como atividades de cooperação e interpretação de diferentes papéis em um conflito;
Desenvolver em sala de aula um ambiente favorável à comunicação entre alunos; Quando um estudante reclamar de algo ou denunciar o bullying, procurar imediatamente a direção da escola.

Escrever sobre o sentimento de sofrer o bullying pode ajudar a criança ou o adolescente a lidar com a dor?

Sim. Essa pode ser uma das técnicas eleitas pelos pais, professor ou psicólogo, uma vez que hoje, até pelo uso mais comum da comunicação ser por meio do computador ou do WhatsApp, a criança/adolescente pode ficar mais à vontade para escrever do que para falar sobre o assunto e a vergonha gerada pelo bullying.

Propor atividades como encenações contando histórias de pessoas que sofreram bullying pode ajudar crianças e adolescentes a compreender o mal que isso causa?

Com certeza. Essa é uma técnica que pode ser utilizada pela escola numa campanha educativa e preventiva sobre o tema.

Como Psicóloga, como avalia a situação do bullying nas escolas públicas? Quais as sugestões daria para os professores?

Na escola privada ou pública, o fenômeno bullying apresenta-se mascarado na forma de “brincadeiras”, porém não o são, por ultrapassar os limites e graus de tolerância de cada indivíduo, trazendo sérias consequências ao desenvolvimento do vitimado. Nas ocorrências de bullying registradas e pesquisadas nas escolas, a maior frequência se dá entre o público infanto-juvenil; a ocorrência é mais intensificada no público masculino.
O professor é um exemplo fundamental de pessoa que não resolve conflitos usando a violência. Não adianta, porém, pensar que o bullying só é problema dos educadores quando ocorre do portão para dentro. É papel da escola construir uma comunidade na qual todas as relações são respeitosas. Deve-se conscientizar os pais e os alunos sobre os efeitos das agressões fora do ambiente escolar, como na internet, por exemplo'. 'A intervenção da escola também precisa chegar ao espectador, o agente que aplaude a ação do autor é fundamental para a ocorrência da agressão’.
- Conversar com os alunos e escutar atentamente reclamações ou sugestões;
- Estimular os estudantes a informar os casos;
- Criar com os estudantes regras de disciplina para a classe em coerência com o regimento escolar;
- Estimular lideranças positivas entre os alunos, prevenindo futuros casos;
- Interferir diretamente nos grupos, o quanto antes, para quebrar a dinâmica do bullying são excelentes ações no combate do problema. (Por: Vânia Costaldi/Redação/SME)

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