01/05/2016 - 10:31
Maria, José, Ana e João ainda são os nomes preferidos pelos brasileiros segundo o IBGE
Por JOANICE DE DEUS
É difícil você não conhecer uma Maria, um José, uma Ana, um João. Esses são os nomes mais comuns no Brasil, conforme uma pesquisa inédita divulgada na última quarta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Maria é como se identificam 11,7 milhões de brasileiras – número maior do que o de Josés e de Joões somados. E o fenômeno não é novo: esses nomes figuram entre os mais populares desde antes da década de 1930, de quando datam os primeiros dados do instituto.
Os nomes mais populares têm alguns traços em comum. São curtos, com apenas algumas sílabas. Muito usados em nomes compostos, como José Fernando e Maria Paula. E aparecem na Bíblia. Este último fato, defendem os pesquisadores, não é mera coincidência: a influência religiosa, especialmente a cristã, tem influenciado os registros no país há décadas.
Em Mato Grosso, a lista não é diferente do resto do país: as Marias mato-grossenses somam 125.984. O segundo nome mais comum também é José. A diferença, com o resto do país, é que Ana é o terceiro mais comum no país, porém é o quarto em Mato Grosso. O terceiro nome mais popular aqui é João, que é o quarto no Brasil.
“Nomes como José, João e Francisco estão sempre entre os mais frequentes no Brasil. Nunca fugimos dos nomes bíblicos”, diz o gerente de atendimento do IBGE, Carlos Lessa. “Mas, depois dessas primeiras posições, temos muitas variações por região e por década. No Nordeste, por exemplo, é mais comum encontrarmos Raimundos e Severinos”.
Maria significa mulher soberana, o nome indica serenidade e vontade de viver. E é por isso que a trabalhadora rural Maria Pedrina Bem de Morais, de 39 anos, hoje tem orgulho do seu nome. Quando criança, ela confessa, que por conta do sobrenome Pedrina, não gostava muito. Mas, acabou acostumando-se. “Meus pais escolheram esse nome em homenagem à Maria, mãe de Jesus, e por que nasci no dia 29 de junho, dia de São Pedro. Hoje, quase todos que me conhecem me chamam de Pedrina”, contou.
Integrante do Movimento dos Sem-terra (MST), ela acredita que o nome também representa força. “É um nome forte e abençoado”, diz. Para a vendedora ambulante Maria Isaura Alves, 43 anos, não é diferente. “Meu nome foi colocado pela minha mãe em homenagem a minha avó materna”, comentou. “Gosto muito do nome. Lá em casa tem três Marias. Eu e minhas duas irmãs. Uma é Ana Maria e a outra Maria Rosa”, completou.
Quem também não esconde o orgulho que tem pelo nome é o aposentado José de Deus Gonçalves, 70 anos. Nascido em Barão de Melgaço (102 quilômetros de Cuiabá), José explica que a escolha feita pelos seus pais foi motivada pelo fato de ele ter nascido no dia de Corpus Christi (feriado móvel comemorado a cada ano em uma data diferente).
“Eu e meu filho do meio, que também se chama José Gonçalves Júnior, nascemos no Dia de Corpus Christi, mas em dias diferentes. Ele, inclusive, batizou meu neto de 2 anos e 4 meses de José”, comentou. “Eu gosto muito e sinto-me feliz pela escolha dos meus pais”, afiançou.
A pesquisa não leva em consideração acentuação e outros sinais gráficos, portanto Tâmara e Tamara, por exemplo, entram nas mesmas estatísticas. Mas as variações dentro de cada nome – como Ana ou Anna, Ian ou Yan, Luis ou Luiz – entram como registros diferentes. Outra característica do levantamento é que só são considerados os primeiros e últimos nomes. Assim, nomes compostos não figuram na lista. Ou seja: não é possível saber, entre as Marias, quantas são também Isabel, Luiza, Inês.
O estudo observou 130.348 nomes diferentes na população brasileira, 63.456 masculinos e 72.814 femininos – sendo que há nomes comuns aos dois sexos. As informações disponibilizadas estão organizadas por sexo e por município, Estado ou somando todo o território nacional. Só são apresentados os nomes que aparecem 20 vezes ou mais no país. A busca está disponível em uma nova seção do site do IBGE dedicada ao Censo Demográfico 2010, em que esses dados se baseiam.
“Nomes permitem entender a realidade sócio-histórico-cultural de um povo. A escolha pode se dar das formas mais variadas: por influência religiosa, em homenagem a personalidades da época ou a parentes. Às vezes, até apelidos e sobrenomes viram nomes próprios”, explica Pedro Antonio Gomes Melo, mestre em Linguística pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL).