Notícias / Educação

26/11/2015 - 18:19

Histórias sobre Resistência à Escravidão motivam debates no IFMT Cáceres

Por Edna Pedro/Assessoria

Assessoria

 (Crédito: Assessoria)
Com relatos e abordagens sobre histórias de escravidão e resistência, de povos diferentes, em tempos e realidades diversas, o IFMT Cáceres recebeu esta semana o projeto “Por falar em 20 de Novembro: Conversas sobre África e Africanidades”, desenvolvido pela Pró-reitoria de Extensão da Universidade do Estado de Mato Grosso, Unemat.

A agenda que dá continuidade ao ciclo de reflexões e diálogos sobre a cultura Afro-Brasileira foi organizada em mesa temática sobre Brasil/África/Afro-Brasileira: diferentes enfoques, diferentes abordagens.

Mediada pela coordenadora do projeto, a professora da Unemat Marinei Almeida, a atividade contou a participação da doutora em História Social, professora da Unemat, Campus Jane Vanini, Fernanda Aparecida Domingos Pinheiro e da professora de Letras, Hérica Aparecida Jorge da Cunha Pinheiro, do grupo de cooperação brasileira internacional do Programa de Qualificação de Docentes e Ensino de Língua Portuguesa no Timor-Leste.

Para Marinei que é doutora em Letras e pesquisadora da área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, o sentido da atividade é trazer debates e reflexões sobre África, história, cultura e literatura Afro-brasileira, questões étnicos raciais, entre outras temáticas, a partir de saberes distintos.

“Vestir-se de negro no dia 20 de novembro é fácil, mas entender o que isso tem a ver com a nossa identidade é o que nos move”, afirma Marinei explicando que a proposta é provocar um deslocamento do olhar do senso comum, alimentado pela grande mídia, sobre a temática Consciência Negra e trazer, como contribuição, a história a partir de diferentes olhares e saberes.

Perspectivas

A professora Fernanda iniciou o diálogo em abordagens sobre significados e interpretações historiográficas sobre o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, a referência ao aniversário de morte do líder Zumbi dos Palmares, e sobre a história de resistência do Quilombo de Palmares.

Entre os diversos elementos trazidos pela historiadora, estão personagens como Gana Zumba, primeira liderança do Quilombo de Palmares, que além de combates e enfrentamentos mortais, buscou alternativas para a libertação do quilombo, criando estratégia e conduzindo a organização do seu povo para negociação de acordo de paz com a coroa portuguesa.

“É o que chamamos de Resistência Adaptativa, uma forma de sobreviver dentro das possibilidades, sujeitos que resistem dentro da ordem. Personagens como Gana Zumba fazem parte de nossa prática de resistência do dia a dia”, afirma a historiadora.

Segundo ela, discutir o 20 de Novembro é resistir dentro de um espaço legítimo, a exemplo da escola, com base em um debate amplo em forma de alternativas, construindo memória coletiva dentro da amplitude das histórias de heróis e não-heróis.

“Décadas de enfrentamento entre quilombolas e portugueses não podem ser vistas em um único viés. São necessárias várias perspectivas sobre vários sujeitos envolvidos para termos melhor percepção sobre a história. É inquestionável a representação do líder combativo Zumbi dos Palmares, mas a história de outros personagens como Gana Zumba representam outras perspectivas. Ele não só resistiu, não só combateu, ele também procurou ajuste, acordo de paz”, destaca Fernanda.

Timor-Leste

No relato de experiência da professora Hérica Aparecida sobre as suas “descobertas e vivências com professores de Língua Portuguesa em Timor-Leste”, alunos e professores do IFMT tiveram a possibilidade de refletirem sobre retratos da memória recente de um povo que resistiu durante mais de duas décadas a ocupação violenta da Indonésia.

O país, localizado no Sudeste Asiático, foi colônia de Portugal até 1975, três meses depois da independência foi invadido pela vizinha Indonésia até 1999. Segunda a professora, a independência do país só ocorreu, efetivamente, em 2002.

“É tudo muito recente. Todos com quem se conversa em Timor têm histórias para contar sobre a participação na resistência contra a ocupação Indonésia. As marcas dos incêndios estão por toda parte, estima-se que 90% do país foi queimado pelas tropas indonésias”, conta a professora.

Hérica morou durante 3 anos em Timor-Leste atuando como professora de Língua Portuguesa do Programa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Capes, realizado a partir do acordo de cooperação educacional entre governo brasileiro e governo da república democrática de Timor-Leste.

Para a participante do evento, professora Iris Viana, as abordagens e experiências partilhadas trazem provocações necessárias para o debate das questões raciais, das identidades afro-brasileiras e dos históricos de resistência de povos e nações ao colonialismo e à escravidão.

“A atividade mais que enriquece nossa percepção sobre a história, ela nos provoca, como alunos e professores a pensar e repensar como se constituem as nossas identidades. Em tempos de tanto individualismo, refletir sobre a nossa história, sobre como se forjam e foram forjadas as lutas dos nossos antepassados, e como podemos nos relacionarmos com o outro é uma boa provocação”, conclui.

Comentários

inserir comentário
0 comentários

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Jornal Oeste. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Jornal Oeste poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
Sitevip Internet