Marialdo conta que começou a trabalhar na empresa de coleta de lixo Imppacto fazendo serviço de limpeza, mas em pouco mais de um ano conquistou o cargo de gerente geral. “O projeto mudou completamente as minhas perspectivas, pois na cadeia você é uma pessoa nula, e não tem produtividade. Estando aqui fora, em contato com a sociedade, você volta a se sentir útil e a querer dar novos rumos para a vida. A autoestima melhora, o dia é outro. Já tenho inclusive propostas de trabalho para quando sair daqui. Tive a oportunidade de dar a volta por cima e não a deixei passar”, garante Marialdo.
Joel Soares de Oliveira também é recuperando e diz que o projeto é excelente. “Tenho certeza que não só eu, mas muitas outras pessoas desejariam ter a oportunidade que estou tendo hoje. A vida melhorou 100%. É uma forma de mostrar para sociedade que a gente pode ser útil e tem salvação. Hoje, o que mais queria era poder ir pra casa quando o trabalho termina”, confessa Joel.
Com a remissão da pena, advinda do trabalho, deverá sair da unidade penitenciária até o final do ano. “Aprendi que a gente comete erros na vida, mas nunca é tarde pra recomeçar. Basta aproveitar as oportunidades da vida. Apesar das dificuldades, graças a Deus, ainda existem muitas pessoas que acreditam que é possível ressocializar”, conclui o reeducando.
No caso de Marialdo e Joel e de mais 38 reeducandos da Cadeia Pública de Cáceres, quem acreditou que era possível dar a volta por cima foi o juiz diretor da Comarca de Cáceres, Jorge Alexandre Ferreira. Segundo o magistrado, a ideia surgiu porque já havia aplicado o mesmo projeto na Comarca de Araputanga. “Quando vim para Cáceres vi que a cadeia pública era populosa, os presos muito ociosos e resolvi fazer um programa de educação, com escola e cursos profissionalizantes. Em função disso, o segundo passo foi procurar empresas parceiras para colocar os reeducados para trabalhar e por em prática o que aprenderam”, explica o juiz.
Inicialmente, o magistrado destaca que foi um grande desafio reinserir os presos socialmente. “Alguns chegaram a dizer que preso deveria ficar na cadeia. Mas, com o tempo, a população foi vendo que isso era muito bom para todos. A maioria dos presos que passou pelo projeto não reincide mais. Eles são devolvidos para a sociedade de uma forma melhor. Além disso, todos são monitorados por tornozeleiras eletrônicas. É uma nova perspectiva de vida para eles”, argumenta o magistrado.
Parceira do projeto, a vice-prefeita de Cáceres, Eliene Liberato, assegura que o trabalho dos detentos realmente fez diferença para a cidade. “Eles fazem serviços de jardinagem, pintura e limpeza de boca de lobo. São o nosso braço direito. As edições de 2014 e 2015 da Feira Internacional de Pesca (FIP), por exemplo, só foram possíveis de serem realizadas por causa do serviço deles”, enaltece Eliene.
Liberato acrescentou ainda que a prefeitura está aberta para trabalhar em conjunto com o judiciário sempre que for convocada. “Quando o juiz Jorge Alexandre nos procurou para fazer a parceria nos interessamos logo de cara. Pois, pensamos que, além de acelerar o processo de reintegração social dos reeducandos, toda a população iria ganhar com o projeto. E foi o que aconteceu”, revela a vice-prefeita.
Alexandre Mendes, diretor da Cadeia Pública de Cáceres, explica que existe um conselho intitulado Conselho da Comunidade que arrecada 10% do salário dos recuperandos e reinveste parte desse recurso na reforma e manutenção da unidade prisional e parte na própria segurança pública. “A sociedade e alguns agentes às vezes não entendem que existem presos que não tem recuperação, mas que a grande parte tem. Se der uma oportunidade de emprego e progredir não voltam a delinquir. Para isso, todo o poder público deve agir em conjunto. Quando o doutor Jorge chegou não tínhamos vinte reais pra comprar um fio, e hoje conseguimos fazer grandes reformas na cadeia e ainda investir na segurança pública”, analisou Alexandre.
“O juiz Jorge é um ser extremamente humano. Ele é mais que um pai pra gente. É uma verdadeira mãe. Não só ele, mas também o diretor da cadeia e o chefe de disciplina. Conversam com a gente, vêm como está a nossa situação, e temos muitas pessoas aqui que contam que nunca tiveram uma oportunidade de emprego formal. Então, agora que têm, agarram com unhas e dentes”, diz o reeducando Marialdo.
O projeto Educar para Libertar é realizado pelo Poder Judiciário de Cáceres em conjunto com a prefeitura local e empresas privadas. Hoje, 40 presos trabalham externamente todos os dias com limpeza de praças, pintura e na construção civil.