Notícias / Cidade

04/09/2015 - 13:13

Cáceres: ressocialização muda vida de detentos

Por Mariana Vianna

André Romeu

 (Crédito: André Romeu)
O dia 18 de julho de 2012 vai ficar marcado para sempre na memória do piloto Marialdo Gomes. Afinal, foi nesse dia em que foi preso por tráfico de drogas. “Minha vida mudou drasticamente. Especialmente no primeiro ano, em que fiquei totalmente recluso. É uma vida muito difícil! Dos dez anos de pena, quatro tenho que cumprir em regime fechado. Mas, como consegui um ano de remissão pelo trabalho, mês que vem já vou regredir para o regime semiaberto”, comemora Marialdo, integrante do projeto “Educar para Libertar”, que visa reinserir socialmente por meio do trabalho detentos da Cadeia Pública de Cáceres.
 
Marialdo conta que começou a trabalhar na empresa de coleta de lixo Imppacto fazendo serviço de limpeza, mas em pouco mais de um ano conquistou o cargo de gerente geral. “O projeto mudou completamente as minhas perspectivas, pois na cadeia você é uma pessoa nula, e não tem produtividade. Estando aqui fora, em contato com a sociedade, você volta a se sentir útil e a querer dar novos rumos para a vida. A autoestima melhora, o dia é outro. Já tenho inclusive propostas de trabalho para quando sair daqui. Tive a oportunidade de dar a volta por cima e não a deixei passar”, garante Marialdo.
 
Joel Soares de Oliveira também é recuperando e diz que o projeto é excelente. “Tenho certeza que não só eu, mas muitas outras pessoas desejariam ter a oportunidade que estou tendo hoje. A vida melhorou 100%. É uma forma de mostrar para sociedade que a gente pode ser útil e tem salvação. Hoje, o que mais queria era poder ir pra casa quando o trabalho termina”, confessa Joel.
 
Com a remissão da pena, advinda do trabalho, deverá sair da unidade penitenciária até o final do ano. “Aprendi que a gente comete erros na vida, mas nunca é tarde pra recomeçar. Basta aproveitar as oportunidades da vida. Apesar das dificuldades, graças a Deus, ainda existem muitas pessoas que acreditam que é possível ressocializar”, conclui o reeducando.
 
No caso de Marialdo e Joel e de mais 38 reeducandos da Cadeia Pública de Cáceres, quem acreditou que era possível dar a volta por cima foi o juiz diretor da Comarca de Cáceres, Jorge Alexandre Ferreira. Segundo o magistrado, a ideia surgiu porque já havia aplicado o mesmo projeto na Comarca de Araputanga. “Quando vim para Cáceres vi que a cadeia pública era populosa, os presos muito ociosos e resolvi fazer um programa de educação, com escola e cursos profissionalizantes. Em função disso, o segundo passo foi procurar empresas parceiras para colocar os reeducados para trabalhar e por em prática o que aprenderam”, explica o juiz.
 
Inicialmente, o magistrado destaca que foi um grande desafio reinserir os presos socialmente. “Alguns chegaram a dizer que preso deveria ficar na cadeia. Mas, com o tempo, a população foi vendo que isso era muito bom para todos. A maioria dos presos que passou pelo projeto não reincide mais. Eles são devolvidos para a sociedade de uma forma melhor. Além disso, todos são monitorados por tornozeleiras eletrônicas. É uma nova perspectiva de vida para eles”, argumenta o magistrado.
 
Parceira do projeto, a vice-prefeita de Cáceres, Eliene Liberato, assegura que o trabalho dos detentos realmente fez diferença para a cidade. “Eles fazem serviços de jardinagem, pintura e limpeza de boca de lobo. São o nosso braço direito. As edições de 2014 e 2015 da Feira Internacional de Pesca (FIP), por exemplo, só foram possíveis de serem realizadas por causa do serviço deles”, enaltece Eliene.
 
Liberato acrescentou ainda que a prefeitura está aberta para trabalhar em conjunto com o judiciário sempre que for convocada. “Quando o juiz Jorge Alexandre nos procurou para fazer a parceria nos interessamos logo de cara. Pois, pensamos que, além de acelerar o processo de reintegração social dos reeducandos, toda a população iria ganhar com o projeto. E foi o que aconteceu”, revela a vice-prefeita.
 
Alexandre Mendes, diretor da Cadeia Pública de Cáceres, explica que existe um conselho intitulado Conselho da Comunidade que arrecada 10% do salário dos recuperandos e reinveste parte desse recurso na reforma e manutenção da unidade prisional e parte na própria segurança pública. “A sociedade e alguns agentes às vezes não entendem que existem presos que não tem recuperação, mas que a grande parte tem. Se der uma oportunidade de emprego e progredir não voltam a delinquir. Para isso, todo o poder público deve agir em conjunto. Quando o doutor Jorge chegou não tínhamos vinte reais pra comprar um fio, e hoje conseguimos fazer grandes reformas na cadeia e ainda investir na segurança pública”, analisou Alexandre.
 
“O juiz Jorge é um ser extremamente humano. Ele é mais que um pai pra gente. É uma verdadeira mãe. Não só ele, mas também o diretor da cadeia e o chefe de disciplina. Conversam com a gente, vêm como está a nossa situação, e temos muitas pessoas aqui que contam que nunca tiveram uma oportunidade de emprego formal. Então, agora que têm, agarram com unhas e dentes”, diz o reeducando Marialdo.
 
O projeto Educar para Libertar é realizado pelo Poder Judiciário de Cáceres em conjunto com a prefeitura local e empresas privadas. Hoje, 40 presos trabalham externamente todos os dias com limpeza de praças, pintura e na construção civil.

Comentários

inserir comentário
6 comentários

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Jornal Oeste. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Jornal Oeste poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

  • por fernado., em 05.09.2015 às 06:55

    Espetacular...juiz ousado..esse projeto realmente fez a diferença..a turma realmente trabalha..quem nao conhece marialdo...hehehehe esse cara todo lugar q entra é pra brilhar..parabens a todos.. sucesso...

  • por maria, em 04.09.2015 às 21:12

    Todo mundo merece uma chance para recomeçar a vida da maneira correta. Parabéns á todos que apoiam esse projeto que Deus continue abençoando todos.

  • por joao, em 04.09.2015 às 16:10

    Parabéns pela iniciativa! Acredito que nem todos que foram presos seja bandido, algumas pessoas erram e tem que pagar pelos seus erros, so espero que essas pessoas aprendam a lição e nao voltem a cometer crimes banais. Lembro desse rapaz marialdo na rua, parece ter boa índole apenas cometeu um crime sem pensar.

  • por MOSSUETO, em 04.09.2015 às 16:03

    A ideia é excelente, a própria convivência com o ser humano, leva os responsáveis a saber detectar quem tem condições de entrar nesse projeto e obter sucesso, ganhando com isso a sociedade e o reeducando que consegue ver a trilha errada que seguia e o lado correto de se viver em sociedade, parabéns aos executores do projeto pela coragem de colocar os reeducandos nas ruas, e com certeza os pioneiros vão dar condições de outros entrarem para o programa e também conquistar a sua liberdade.

  • por Observadora, em 04.09.2015 às 15:50

    As oportunidades são únicas, precisamos ser ousados e o juiz Jorge Alexandre, está de parabéns com o projeto "Educar para Libertar", foi além, ñ ficou trabalhando só dentro de um gabinete, com leitura e sabedoria, soube colocar em prática a sua profissão e outros que trabalham em silêncio fazendo a diferença...

  • por Luiziño, em 04.09.2015 às 15:27

    Realmente espetacular essa iniciativa isso deve ser modelo no Brasil. Parabéns sr.juiz Jorge

 
Sitevip Internet