Notícias / Cidade

20/04/2015 - 08:59

2015 completa 50 anos da inauguração da Catedral São Luiz de Cáceres

Por Gilson Ribeiro

Wilson Kishi

 (Crédito: Wilson Kishi)
No dia 25 de agosto deste ano, 2015, completa 50 anos da inauguração da Catedral São Luiz, em Cáceres. Leia a história abaixo:
 
Esta Igreja tem uma história bem singular.

A pedra Fundamental foi colocada em 1919.

A inauguração foi em 1965,ou seja, somente 45 anos depois.

Quatro anos mais tarde, em 1949, toda a estrutura interna da Catedral ruiu e este fato levou o imaginário das pessoas a criar uma lenda(Lenda da Serpente ou lenda do Minhocão),onde uma serpente teria se abrigado no interior da Catedral,o que levou a Catedral a ruir.

A Lenda da Serpente ou do Minhocão contribuiu para aumentar o fascínio em torno da Catedral,que foi construída em honra a São Luiz, padroeiro de Cáceres!

Sua construção compreende vários contextos, o lançamento da pedra fundamental (1919), em virtude das comemorações do bicentenário da capital Cuiabá, com a proposta de construir réplicas da Notre Dame de Paris em Cuiabá e em Cáceres, nos indica o prestígio econômico e político da cidade neste momento.

No ano de inauguração da Catedral (1965) a cidade de Cáceres apresentava outros contextos, em virtude da sua condição de fronteira durante a ditadura militar e a expansão oeste.

Ao analisar sua estrutura percebemos algumas características:

- Verticalismo dos edifícios substitui o horizontalismo do Românico
- Paredes mais leves e finas.
- Janelas predominantes.
- Torres ornadas por rosáceas.
- Utilização do arco de volta quebrada.
- Nas torres (principalmente nas torres sineiras) os telhados são em forma de pirâmide.
- Consolidação dos arcos feita por abóbadas de arcos cruzados ou de ogivas.

Ela é sem dúvida  a grande obra de arquitetura em em estilo gótico da região oeste de Mato Grosso. Sua imponência transforma ela, juntamente com o Marco do Jauru, nos grandes atrativos turísticos/históricos da grande Cáceres. 
 
 Aproveito e transcrevo abaixo parte do livro de Dom Máximo Biennés ”MISSÃO FRANCISCANA NA FRONTEIRA”, para que você perceba como surgiu a ideia de construção de uma obra gigante, para a época.
 
"UMA CATEDRAL PARA CÁCERES (1919 – 1949)

A VELHA MATRIZ

Havia, na grande praça da cidade, a velha matriz que servia para o culto. Cada manhã, uma missa estava sendo rezada com o povo e, aos domingos, os ofícios mais solenes. Tinha 26 metros de comprimento, 5 de altura e 8 de largura. Mas era pequena para a cidade atual, construída que foi em tempos outros e necessitava de grandes e custosos reparos.
 
Acervo NUDHEO/Unemat e Adilson Reis

A IGREJA DO GLORIOSO SÃO BENEDITO

Uma outra igreja tinha sido planejado quando da última visita do bispo Dom Carlos Luiz d´Amour, em julho de 1886, visto que a matriz não merecia reparos, mas sim ser derrubada.

Na presença do bispo, foi combinado que uma nova matriz seria levantada num terreno pertencendo à Irmandade do Glorioso São Benedito, na praça da Jacobina, onde esta pretendia levantar uma igreja em honra do seu Padroeiro.

Após duas longas reuniões, foi assinada uma concordata, “pela qual a Irmandade comprometia-se a entregar o terreno, o material de construção já existente na praça da Jacobina, quatro contos de réis em caixa e rendas da Irmandade no prazo de dois anos” em troca da posse da antiga igreja matriz de São Luiz, na grande praça da cidade, após o término da nova matriz.
 
Os muros da igreja subiram até sete metros, mas infelizmente, os ânimos se arrefeceram e a obra ficou parada. Estava neste estado de abandono quando, em 1918, os Frades pretenderam recomeçar os trabalhos.

Construídos em edra canga, os muros teriam resistido muito tempo ao desleixo em que se encontravam, se as formigas não tivessem escavado sob os alicerces, provocando fendas que denunciaram um possível desmoronamento. Era preciso recomeçar.

UM ARQUITETO FRANCÊS

Nesta época, um francês Leon Mousnier, velho com os cabelos brancos, visitava os Frades de Cuiabá.

Apresentava-se como um oficial de marinha exonerado, arquiteto e explorador.

Após a experiência acertada em Cuiabá, com a Igreja de N. S. do Bom Despacho, da qual ele desenhou as plantas com uma bela estrutura gótica, os Frades compreenderam que podiam confiar neste vigoroso velho de 80 anos que oferecia seus serviços por amor a Deus, sem solicitar remuneração nenhuma.

Sabendo a miserável situação da matriz de São Luiz, em Cáceres, o Sr. Mousnier preparou algumas plantas com um orçamento extraordinariamente baixo. Com 100 contos, construiria uma catedral gótica com 58 metros de comprimento, 20 de largura, 22 metros na abóboda e dois campanários com 48 metros de altura.

As autoridades da cidade foram convocadas para apreciar as plantas e discutir publicamente as possibilidades de encontrar o valor solicitado. Elas aprovaram as plantas , mas duvidaram do orçamento.

- Precisaria de 300 contos, disse alguém.

   O arquiteto pretendeu oferecer aos Frades que eram seus patrícios uma bonita igreja e suspendeu todas as objeções.

- Pagarei, disse, o que passaria os 100 contos.

Entretanto, a obra era de uma grande dificuldade para os fracos meios de Cáceres. Faltavam os operários capazes de compreender e levar a cabo uma obra difícil. Havia oito modelos de tijolos que as olarias manuais locais poderiam dificilmente preparar. Havia também falta de dinheiro. Os Frades e o povo decidiram na base da promessa de um velho de 80 anos: a magnitude da obra não apareceu claramente na leitura das plantas. Por todas essas razões, a construção da catedral se estenderia sobre mais de 50 anos.

A PEDRA FUNDAMENTAL

Nestas circunstâncias, Dom Galibert escrevia ao Superior dos Franciscanos, na França, no dia 30 de dezembro de 1919:

Depois das águas, vamos começar os trabalhos. O povo toma interesse pelo projeto e, creio, ajudará bem. Mas, trata-se de uma catedral que conviria saísse regular e pudesse, de um certo modo, honrar a cidade e o Estado.
Para isto, todos aqui contam com o seu apoio.

Os trabalhos de construção da nova catedral principiaram em junho de 1920. A coleta entre os habitantes alcançou o quinto do valor prometido. Começaram assim mesmo os alicerces. No dia 6 de outubro do mesmo ano, no aniversário da cidade, fez-se a solene benção e a colocação da primeira pedra...

Os dois terços dos alicerces estavam apenas escavados quando o Sr. Mousnier adoeceu gravemente e faleceu na casa dos Frades.

- Que fazer nessa situação?  pensaram os Frades.
- Quem poderia assumir a direção de tal obra, no meio da mais bela praça da cidade?
- Doutro lado, como não executar uma igreja necessária e já começada?

Com a benção de Dom Galibert, o Padre Vigário, frei João Luiz Bourdoux assumiu o serviço e continuou as obras.
Acervo NUDHEO/Unemat e Adilson Reis

UMA CATEDRAL DE ALGODÃO

Os 20 primeiros contos de réis oferecidos pelo povo escorregaram rapidamente das mãos do Padre Vigário.

Precisava pensar numa solução que oferecesse um dinheiro que não dependesse das doações do povo. Pensaram numa.
 
- O algodão tem um grande valor e cresce admiravelmente no solo mato-grossense.
 
- Por que não iniciar uma plantação de algodão?
 
- Quantos pés de algodão deveriam ser plantados para produzirem 50 contos?  perguntou o Padre Vigário.
   Feito o cálculo, precisava-se de 10 hectares de algodoeiros para ganhar 50 contos. Compraram dez hectares de mato e começaram os trabalhos para produzir o algodão!
 
   No fim do mês de março, os algodoeiros começaram a florescer, amarelo no primeiro dia, cor de rosa no segundo e logo caindo para aparecerem outras flores.
 
   Após alguns dias, a praga invadiu a plantação, e hectare após hectare, desapareceu a esperança de construir uma catedral de algodão!!! A desolação e a dor de cabeça do Padre Vigário foi grande.

CONTINUAÇÃO DOS TRABALHOS DA CATEDRAL
 
    O Padre Vigário assumiu novamente a direção dos trabalhos, confiando mais na Providência. Nestas tristes circunstâncias, foi decidido diminuir a amplidão da planta e negligenciar por enquanto a parte do santuário que seria construída numa segunda etapa.
 
   O Padre Vigário devia ao mesmo tempo encontrar operários, material e dinheiro... Utilizou as pedras da igreja inacabada da Praça da Jacobina para construir os alicerces. Em seguida, os muros saíram pouco a pouco d terra. Quando, em 1922, o Padre Vigário foi chamado para a França e tornou-se Superior Geral dos Franciscanos, os muros alcançavam seis metros de altura.
 
   A obra passou às mãos do frei Sebastião Reynaud que jogava no chão cada tijolo recebido para medir a sua resistência. Aquele que quebrava, voltava para traz. Mas, logo, ficou preso a um outro trabalho que era o convento dos Frades em Cáceres e a obra da catedral ficou parada até a chegada do frei Ambrósio que, em 1928, voltava da França com o frei Henrique Maynadier.
 
   Frei Ambrósio retomou às obras da catedral. Queixava-se da dificuldade para encontrar operários. Mas continuou os trabalhos e os muros foram subindo. Após o seu falecimento em São Paulo, no ano de 1945, frei Henrique Maynadier foi mandado para Cáceres e trabalhou também na catedral, ajudado pelo engenheiro que tinha construído a grande igreja de Fátima, da propriedade dos franciscanos, no Sumaré, em São Paulo.
 
Acervo NUDHEO/Unemat e Adilson Reis
   Estavam sendo colocadas as telhas para a cobertura da catedral quando, no decorrer duma noite, telhado e colunas desmoronaram. Ninguém estava na obra e não houve vítimas. Frei Severino Rouquette que acabava de ser nomeado Padre Vigário de Cáceres, limpou todos os destroços e fechou o canteiro de obras. 
 
   A construção da catedral teria que aguardar outros tempos e outras pessoas para poder servir ao povo de Cáceres.
 
 
Acervo NUDHEO/Unemat e Adilson Reis
A CATEDRAL DE SÃO LUIZ DE CÁCERES
Fonte: Livro de Dom Máximo Biennés (1993)

"MISSÃO FRANCISCANA NA FRONTEIRA"
Capítulo 4 da Segunda Parte
 
   Após ter resolvido a fundação e o encaminhamento do Instituto Santa Maria, Mons. Máximo atacou o problema da catedral, pois era um verdadeiro problema. Algumas pessoas pretendiam que nada estava seguro nesta construção e que devia também derrubar as paredes laterais e os campanários. Outros inventavam concorrências entre os santos.
 
- Roubaram o material da igreja de São Sebastião que não está em nada satisfeito!
 
   Outros, mais supersticiosos ainda, pretendiam:
-  A caveira de um burro está enterrada dentro da construção!!!?
 
   O importante era não se deixar impressionar e ver, na realidade da construção, o estado do que sobrava, isto é, as paredes laterais com contrafortes imensos para sua altura, as duas capelas do transept (1) e os dois campanários com a fachada quase concluídos. Na inspeção, tudo se mostrou bem construído e solido. Poderia ser utilizado.
 
   Pareceu rapidamente impossível retomar a construção com suas formas góticas. O tempo não estava mais nisso, mas para soluções mais simples e funcionais. O primeiro trabalho foi derrubar umas colunas que não tinham caído, mas que estavam prejudicadas por rupturas e desequilíbrio. Precisava também raspar as paredes internas que guardavam a forma de arcos nos tijolos. As paredes ficaram assim retas e prontas para uma nova solução.
 
Acervo NUDHEO/Unemat e Adilson Reis
TENTATIVAS DE SOLUÇÃO
 
   O arquiteto Benedito Calixto, em São Paulo foi consultado pelo Frei Severino para encontrar uma solução técnica. Idealizou um primeiro plano com arcos góticos de concreto suportando a cobertura e independentes das paredes.

Mas não havia em Cáceres nem pedras para concreto, nem tábuas suficientes para fazer as caixas. Como o calculista atrasava sem fim os cálculos para os arcos de concreto, foi preciso encontrar outra solução.
 
   O Dr. Calixto propôs então uma estrutura de madeira e mandou solicitar um projeto na casa Technos. A solução apareceu interessante e simples. Nesta hora um engenheiro lituano, Arnold M. Williuns que residia em Cáceres e que todos chamavam “Mac” começou a desenhar propostas para uma estrutura de madeira.
 
   Suas plantas foram aceitas e obrigaram a procurar grossas vigas de madeira em todas as serrarias da região de Cáceres. Um carpinteiro, um pedreiro e alguns ajudantes assumiram toda a obra. Um jovem francês, voluntário para a missão, Claudio Vernhes, ajudou muito nos transportes de material com o caminhão comprado por Mons. Máximo, anos antes.
 
Acervo NUDHEO/Unemat e Adilson Reis
   A estrutura dos arcos era imensamente pesada e os meios para levantá-los tão precários que, por ocasião do levantamento do primeiro, Mons. Máximo se amedrontou e foi para São Paulo, deixando o serviço para o frei Elias Mas. O arco foi levantado sem problema e a construção continuou, arco por arco, lentamente mas sem parar.
 
   Na festa de Natal de 1963, foi possível reunir o povo no santuário já coberto. Era uma primeira vitória. A obra foi continuando e semre houve o dinheiro necessário para pagar fornecimentos e operários. A cobertura estava sendo concluída; precisava pensar na inauguração.
 
INAUGURAÇÃO
 
 Akio Kishi (1973)
   Tudo parecia pronto. Numa carta do dia 1º de agosto de 1965, Mons. Máximo anunciava: “A catedral será inaugurada em 25 de agosto. Tudo está concluído, ao menos o eu pensávamos terminar. O portão da entrada está sendo ultimado em Cáceres com grandes pranchões de araputanga e deve ser  colocado tão logo fique pronto. Os detalhes da festa foram fixados. E continuava com detalhes mais pessoais: “Frei Amadeu não para, assim como o frei Paulo. Procuro seguir sem me deixar distanciar muito. As horas de lazer, nestes meses, fazem-se muito raras”.
 
   O arcebispo de Cuiabá, Dom Orlando Chaves foi convidado para a inauguração da catedral de Cáceres. Com ele, vieram os 130 seminaristas menores de Mato Grosso que cantaram na cerimônia.
 
   O povo de Cáceres encheu a sua catedral. No mesmo dia, inaugurava-se o telefone urbano. Uma sessão solene na Prefeitura concluiu com discursos todos os empreendimentos inaugurados neste dia.
 
 
   Vários padres vieram da França acompanhar Mons. Máximo neste grande dia da missão e relembraram todos os padres que já tinham trabalhado nesta obra.
 
A CATEDRAL

Eis as características da Catedral de Cáceres:
Comprimento total da obra 63m
Largura total da nave e do santuário 19m
Largura do transepto 30m
Superfície da nave 850m²
Superfície do santuário 250m²
Superfície da sacristia 100m²
Superfície das outras salas 100m²
Superficie da varanda 100m²
Superfície da obra toda 1.400m²
Altura da nave 15m
Lugares sentados 800 lugares
Altar de madeira de Araputanga de uma peça só 3,00x1,00x0,20m
 
 Convém notar que, graças a uma benção dos céus, durante quatro anos de trabalho em alturas de 15 metros no interior da igreja e de 25 metros nos campanários, nunca houve um acidente sequer. No final dos trabalhos, quando o pedreiro rebocava a varanda exterior, ele caiu duma altura de dois metros. Mons. Máximo o levou para o médico e com dois dias de repouso, ele trabalhava de novo.
 
A Catedral São Luiz de Cáceres é um monumento esplêndido e funcional podendo ser comparado as mais belas igrejas da França. Uma obra que chama a atenção de todos que a conhecem.(com assessoria)

Comentários

inserir comentário
3 comentários

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Jornal Oeste. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Jornal Oeste poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

  • por Elizeu da rocha, em 07.10.2021 às 15:58

    Eu quando lá trabalhei,o sino nos disse D.Máximo,que o sino é presente da sua mãe,a imagem do sr.são Luís ajudei a colocar no seu lugar,os vitrais coloridos formato de uma cruz eu,andre,Olegário,Clemente,maciste,lá colocamos sob orientação do Bispo

  • por Eli xxxxx elizeu da rocha, em 07.10.2021 às 15:22

    Eu trabalhei nessa catedral junto com o mestre de obra SrAndre Rosa,eu sou Elizeu da Rocha,coloquei uma pedra no piso no centro da igreja entre as 2 portas laterais

  • por Conde G.Sparta, em 20.04.2015 às 10:13

    Uma das mais bela!!! CATEDRAIS ou Castelos Medievais, vindo de um arquiteto do séc.XIX projeto arquitetônico numa pequena aldeia, vejo como era Olhando para suas terras, bosques, rios, prados, camponeses, aldeinhas ele pensava: estas são as terras pelas quais meus antepassados deram a vida meu pai e eu mesmo brincamos naquele bosque quando éramos crianças aqueles são meus camponeses e burgueses por cujos antepassados os meus deram a vida e reciprocamente eu devo passar tudo isto inteiro e melhorado para meus filhos, e para os filhos deste povo que é minha família num sentido muito largo, porque a Providência quis unir nossa história.

 
Sitevip Internet