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06/09/2009 - 00:00

Qualificação profissional abre caminho para novos mercados para o couro de jacaré de Cáceres

Por Jornal Oeste

A Gazeta A qualificação profissional era o que faltava para que a cadeia produtiva do couro de jacaré-do-Pantanal (Caiman yacare) ficasse completa em Cáceres. O curso de confecção de artefatos de couro, ministrado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-MT) em parceria com o Governo do Estado, dá condições para que uma pequena fábrica seja instalada no município e comece a produzir artigos a base de couro de jacaré. O objetivo das entidades, ao oferecer a qualificação, é atender as necessidades identificadas no setor, fechando desta forma todo o processo produtivo no próprio município. A Cooperativa de Criadores de Jacaré do Pantanal (Coocrijapan), que já administra um criatório e um frigorífico, quer expandir o negócio com a instalação da fábrica e de um curtume especializado em couro de jacaré. Atualmente, o couro é enviado para curtumes em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, onde é tratado, curtido, tingido, pronto para a confecção dos produtos, que são fabricados em Franca. Com o curso essa realidade vai mudar e o dinheiro que é pago para as fábricas e curtumes fora de Mato Grosso irá circular no Estado, para as famílias de Cáceres e região, trazendo uma nova perspectiva econômica ao município. O diretor administrativo da cooperativa, Wilson Girardi, que já fez uma visita aos alunos do curso, acredita que no início a pequena fábrica terá capacidade para produzir peças como chapéus, botas, cintos, carteiras, maletas, sapatos, entre outros produtos. "Era o que faltava para a realização dessa etapa do nosso projeto de expansão dos negócios. A mão-de-obra qualificada é fundamental dentro disso. Pretendemos começar com 10 trabalhadores, podendo aumentar conforme os resultados. Queremos fechar o ciclo produtivo, trabalhando desde o criatório, o abate do animal, até o curtimento do couro e a confecção dos produtos, agregando valor e gerando renda". O mercado consumidor já está garantido, garante Girardi. "A Casa do Jacaré será o local de comercialização dos produtos. Já temos uma funcionando em Bonito, no Mato Grosso do Sul, e em breve iremos inaugurar uma aqui em Cáceres. A linha de produtos inclui peças como botas, chapéus, cintos, carteiras, bolsas, com um preço mais acessível, de olho no turista, nosso principal consumidor". Sustentabilidade - Fundada em 1991, a cooperativa tem o objetivo de disseminar de forma não predatória o consumo da carne, do couro de outros produtos a base de jacaré. Com aproximadamente 60 mil animais no criatório, a Coocrijapan abate em média 2.500 jacarés por mês. A carne é destinada quase que integralmente ao mercado nacional, abastecendo hotéis, restaurantes, pousadas. Todo o processo tem a certificação do Ibama e do Serviço de Inspeção Federal (SIF). "Nossa carne já é reconhecida em todo o país pela qualidade, agora queremos desmistificar o couro de jacaré, mostrando que é um produto versátil. Aproveitamos para explicar que esta é uma atividade ecologicamente correta. Para isso estamos com dois projetos ousados em andamento, um que é a marca "Casa do Jacaré", com preços mais acessíveis, e a outra é uma linha alto luxo. Contratamos inclusive uma designer italiana, conhecida no mundo pela experiência com marcas de luxo, para criar os modelos". A marca já tem nome: Anne & Frank e será lançada na feira de couros exóticos Le Cuir, em Paris, no mês de setembro. Embrião - A cadeia produtiva do couro é um dos grandes motores da economia brasileira. O complexo industrial é formado pelos setores de curtumes, calçados, componentes, máquinas e de artefatos de couro. Em Mato Grosso, a fábrica em Cáceres pode ser um embrião para o desenvolvimento do setor. O Estado produz um dos melhores couros do país e, segundo o Sindicato das Indústrias de Curtimento de Couro, Peles e Afins de Mato Grosso (Sincurt), o Estado tem 13 plantas industriais, sendo que 11 em funcionamento, o abate diário é de aproximadamente 25 mil animais e a maioria do couro, 85%, sai no estágio wet-blue, o restante com algum tipo de acabamento. Expectativa - Os alunos aguardam ansiosos a instalação da fábrica. Enquanto isso, eles se preparam num laboratório equipado com o que há de mais moderno na área de tecnologia do couro. Divididos em duas turmas, 40 trabalhadores aprendem tudo o que uma pessoa precisa para a confecção de artefatos de couro. O curso, com carga horária de 220 horas, conta com aulas sobre empreendedorismo, ética e cidadania, tecnologia do couro, máquinas e ferramentas de corte e confecção, tecnologia dos materiais de montagem e acabamento, modelagem, montagem, corte e costura de artefatos de couro. As aulas são teóricas e práticas. O resultado já pode ser visto em algumas peças confeccionadas durante o curso. São chinelos, sandálias, cintos e outras peças. Para João Ramos Pires, 31 anos, que aprendeu a trabalhar com o couro em fazenda, o curso agrega valor. "Eu aprendi vendo os outros fazerem arreios, laços, celas, agora com a técnica que obtive no treinamento consigo produzir mais peças e de forma eficiente, sem desperdício. Pretendo fazer disso uma fonte de renda com a instalação dessa pequena fábrica de artefatos de couro de jacaré. Depois que acabar esse curso, vou procurar aprimorar o conhecimento nesse tipo de material". Rosângela Machado, 41 anos, trabalha há 20 anos com o marido na tapeçaria da família. Os dois são alunos do curso. "O conhecimento que adquirimos aqui será utilizado no nosso negócio e quem sabe até ampliar nossos serviços, diversificando e aumentando a renda". O professor João Umbelino Filho, 55 anos no ramo, garante que o segrego para quem quer iniciar nessa profissão é acompanhar as mudanças. "É preciso conhecer novas técnicas, aprender a trabalhar com outros materiais, como o couro de jacaré, o de avestruz, por exemplo. Conforme a indústria vai desenvolvendo novos produtos, novas modelagens, o profissional tem que ir se modernizando também", destacou o professor. Formação - Umbelino afirma que os alunos do curso saem com conhecimento necessário para iniciar um negócio. "Quem nunca trabalhou com couro tem condições de sair daqui confeccionando o básico, como chinelos, sandálias e outros produtos. Depois com a prática e o interesse, é só ir se aperfeiçoando. Eu digo pra eles que é simples começar. Quem costura um chinelo, costura um banco de couro, faz um sofá, um cinto, uma bolsa. O que precisa é ter força de vontade". Curso - O curso de confecção de artefatos de couro é ministrado na unidade do Senai em Cáceres. As aulas iniciaram no dia 20 de julho e terminam no dia 07 de outubro. O treinamento integra o programa Qualifica Mato Grosso, desenvolvido pelo Governo do Estado, por intermédio da Secretaria de Trabalho, Emprego, Cidadania e Assistência Social (Setecs-MT), em parceria com o Senai.
 
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