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28/12/2014 - 09:21

Onze dos 156 detentos beneficiados já 'quebraram as regras'. Fidelis defende sistema

Por Max Aguiar

Tony Ribeiro/MidiaNews

 (Crédito: Tony Ribeiro/MidiaNews)
Por falta de colônia penal no sistema penitenciário de Mato Grosso, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) adotou o uso de tornozeleiras para beneficiar detentos que já cumpriram 1/6 da pena.

Porém, na primeira remessa, dos 156 detentos que ganharam a possibilidade de cumprir o restante da pena no regime semiaberto, 11 já quebraram as regras.

Os dados são do juiz da Vara de Execuções Penais de Cuiabá, Geraldo Fidelis Neto, que acrescentou, ainda, que quatro presos voltaram ao mundo do crime e voltaram para o cárcere privado, enquanto outros quatro detentos romperam a tornozeleira e também retornaram para o cumprimento da pena em regime fechado.

Outros dois detentos foram executados e um está foragido, segundo o juiz.
 
Fidelis afirma que a escolha do detento a ser beneficiado para cumprir o restante da pena em casa parte da Justiça, mas que muitos não entendem o quanto pode custar para si a opção de voltar ao mundo do crime.

"Se o preso tem a oportunidade de se ressocializar e voltar ao mercado de trabalho, rever a família e construir uma vida e faz o contrário, é uma escolha dele. A Justiça já fez a sua parte. Agora, se ele for pego 'aprontando' novamente, infelizmente voltará para o regime fechado e ficará por mais tempo do que precisaria no mundo que ninguém deseja, que é o de dentro da cadeia", disse. 

Para Fidelis, a implantação do sistema de tornozeleiras ajuda na volta do detento para o mundo da liberdade, já que dentro de penitenciárias, "a única lição que eles aprendem é voltar a praticar delitos".

"[O uso das tornozeleiras] faz o ser humano viver em algo organizado. Por isso, sustento que parte de dentro da cadeia o mando de 99% dos crimes aqui fora. Um celular é mais mortífero dentro da cadeia que uma arma aqui fora. Dentro do sistema fechado, o detento vai aprender só matar e organizar o que não presta. Nesse ponto, a tornozeleira tira o preso do meio desse círculo e o traz para o mundo da liberdade. A partir daí, a escolha é dele, se quer voltar ou não para a cadeia", afirmou. 

Em Mato Grosso, desde que foi implantado o regime semiaberto com o uso das tornozeleiras, dois presos ganharam destaques.

Um é Marcelo Nascimento, conhecido como o maior golpista do Brasil.

Sua história foi contada em um filme estrelado por Wagner Moura, "Vip's", que foi levado aos cinemas, onde várias mentiras contadas por Marcelo foram contadas, inclusive a maior delas, que foi se passar como filho do dono da Gol Linhas Aéreas. 

Ele inclusive recebeu autorização recente do juiz Geral Fidelis para ser entrevistado no programa "Agora é Tarde", apresentado por Rafinha Bastos.

O segundo "famoso" beneficiado com a progressão de regime foi o ex-deputado federal e ex-secretário de Saúde de Mato Grosso, Pedro Henry (PP).

Ele foi condenado no "Escândalo do Mensalão" a mais de sete anos de prisão e ficou preso, inicialmente, no Presídio da Papuda, em Brasília, sendo depois transferido para Cuiabá, onde permaneceu detido na Polinter até o mês de agosto.

Ele teve, recentemente, um pedido de viagem negado pela Justiça.

Segundo Fidelis, apesar de se tratarem de casos notórios no Estado, ambos os presos são "comuns e tratados da mesma forma que todos os outros, sendo monitorados pela Secretaria de Justiça".

"Eles continuam preso no semiaberto, porque são monitorados por nós. Para sair de Cuiabá, eles pedem autorização e tudo mais. Portanto, são presos comuns. Eles têm as mesmas prerrogativas que outros presos. Não tem regalia para ninguém", afirmou.

Falta de investimento

O juiz criticou a falta de investimento no sistema penitenciário, já que Mato Grosso só possuiu sistema fechado. Segundo Fidelis, caberá ao novo governo, sob o comando de Pedro Taques (PDT), trabalhar na "construção de colônias penais e casa de albergados, para que os detentos deixarem o regime fechado e irem trabalhar sob os olhos da Lei". 

"É necessário investimento, pois dentro de um cubículo 4x2 metros, o preso só vai fomentar o que não presta", disse. 

Segundo estatística levantada pelo juiz, no Brasil apenas 2,4% dos presos que deixam a cadeia voltam ao mercado de trabalho ou estudam. Em Mato Grosso esse número surpreende. 

"Aqui são 40% dos presos que estudam. Aqui temos educação dentro das cadeias, mas precisamos mais. O Carumbé é um exemplo de como eram os presídios antigamente e agora está lá, a maior escola penitenciária [do Estado]. E digo escola do bem. Por isso digo que o investimento em tornozeleiras, criação de colônias penais, casas de albergados e bloqueadores de celulares são as principais coisas a se fazer dentro do sistema penitenciário do Estado", afirmou.

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2 comentários

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  • por joao nunes da silva, em 28.12.2014 às 13:52

    concordo com o juiz geraldo fideles,mas falta acrescentar que sejam tb construidas clinicas de tratamento para dependentes quimicos,que é o que mas tem lotando as cadeias,prendem esses dependentes pelos delitos e colocam junto com criminosos de verdade,aí o dependente já não tem cerebro pois já foi corroido pelas drogas e saem da cadeia bem piores do que entraram , teria sim que prender e colocar em carcere junto de tratamento psquiatrico e psicológico,ai talvez esse indice de reincidencia diminuiriam pois dentro das cadeias eles saem mais noiados que quando foram presos,vamos usar esses dinheiros e bens que policia prende e coloca a disposição da justiça para fazer essas clinicas penais e veremos a reincidencia diminuir gradativamente,é o que penso que tem que ser estudado pelo órgão competente enquanto ainda dá tempo de salvar nossos jovens que se encontram nalfragados nesse mundo de ilusão e destruição que são o mundo das drogas.

  • por CAROLINO, em 28.12.2014 às 10:21

    SERA QUE O TODO PODEROSO PEDRO HENRY ESTA USANDO A TORNOZELEIRA JÁ QUE, E UM PRESO COMUM COMO DISSE O JUIZ. A ISSO EU GOSTARIA DE VER JÁ QUE TEM A MESMA PRERROGATIVA. APROVEITO TAMBÉM PARA PARABENIZAR O SHR JUIZ

 
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