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06/04/2009 - 00:00

Doente e abandonada dona Margarida Boss pode estar sendo vítima de maus tratos

Por Jornal Oeste

Sinézio Alcântara Jornal Expressão Aos 95 anos, doente e, praticamente, abandonada em uma casa no bairro Jardim Paraíso, a ex-parteira suíça Margaretha Lina Boss, conhecida por “dona Margarida” pode estar sendo vítima de maus tratos. O Ministério Público intimou a evangélica Maria das Graças da Conceição, que cuida de dona Margarida há 14 anos, para que no prazo de cinco dias compareça a promotoria de Justiça para esclarecer e assinar um termo de responsabilidade. Na intimação não consta maus tratos. Requer, no entanto, que seja feita a “aplicação de medidas de proteção a idosa por não estar sendo respeitados os direitos que lhes são assegurados pela lei federal nº. 10.741/2003 do Estatuto do Idoso”. A evangélica contesta a denúncia, mas terá que se defender em juízo. “É um absurdo. Eu cuido de dona Margarida há 14 anos. Agora terei que contratar um advogado para provar que só fiz o bem”, reage Maria das Graças, negando qualquer acusação. Além de desrespeito ao Direito do Idoso há ainda a suspeita de que os proventos das aposentadorias da ex-parteira, tanto do Brasil como da Suíça, estejam sendo desviados. “Dona Margarida não recebe rio de dinheiro como se comentam. Ela recebe um salário mínimo do Brasil e uma ajuda que vem da Suíça, de cerca de 660 reais que são consumidos para compra de alimentação e medicamentos. Só de remédios são 500 mensal”, explica. A residência de difícil acesso, exala mal cheiro devido a criação de cachorros (quatro). Porém, Maria das Graças, afirma que são de “estimação” de dona Margarida e que ela não pretende desfazer dos animais. O quarto onde ela ex-parteira permanece durante todo o tempo dispõe de pouca luminosidade porque, segundo a evangélica “dona Margarida não gosta de claridade”. Algumas marcas no braço, segundo Maria das Graças, são provenientes da fragilidade da pele que “ficam marcadas só de segurar para tomar banho ou se trocar”. A situação é delicada porque, diante das acusações, Maria das Graças afirma que não quer mais continuar cuidando da ex-parteira. “A minha missão com dona Margarida está cumprida. O município ou as pessoas que me denunciam que dêem um jeito de cuidar dela. Eu não quero mais. Além de tudo eu também tenho problemas, estou doente da coluna. Há dias que não posso nem me levantar”, garante. Apesar de debilitada pela doença – ela tem câncer de pele, problemas cardíacos e com as duas pernas fraturadas, a suíça demonstra lucidez. Lembra por exemplo que realizou mais de três mil partos em Cáceres. A maioria realizada no período noturno. “Foram mais de três mil partos. Eu ia de bicicleta à noite nas casas para fazer os partos. Algumas crianças mijavam na minha cara”, brinca. Na intimação, o MP determina que as secretarias de Saúde e de Ação Social realizem a cada 15 dias, por um período de seis meses, visitas no local onde a ex-parteira está residindo, apresente um relatório sobre o estado de saúde, integridade e condições higiênicas, físicas e mentais da idosa. E, que a Vigilância Sanitária designe uma equipe para que faça visitas e ateste as condições do interior da residência, devendo emitir parecer sobre as condições fito-sanitária do local, bem como opinando a cerca das condições ambientais. Suíça de Berna, dona Margarida Boss, chegou ao Brasil aos 39 anos. Aportou-se, primeiramente, na cidade de Juazeiro (BA); posteriormente mudou para São Paulo, onde cursou Enfermagem. Em Mato Grosso, ela chegou em 1954. Residiu por dois anos em Vila Bela da Santíssima Trindade, onde à época trabalhou no combate a epidemia de verminose. Migrou-se para Cáceres em 1956. No município ela tornou-se conhecida pela habilidade na realização de partos e por uma particularidade: fazia todo trabalho de bicicleta. Um documento afirma que ao todo foram 3.117 trabalhos de parto. O desejo, no entanto, era realizar 4 mil. Foi homenageada por vários órgãos, entre eles a Associação Mato-grossense de Imprensa; Rotary Clube; e a maior delas: recebeu o título de Cidadã Cacerense, pela Câmara Municipal de Cáceres, em 28 de junho de 1982. Um patrimônio estadual e municipal desprezado pela população por quem ela se dedicou grande parte de sua vida.
 
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