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19/01/2014 - 09:18

'Reza' hoje na Fazenda Jaconiba reverencia São Sebastião

Por Jorjnal Oeste

Os turistas que forem visitar hoje, 19, a centenária Fazenda Jacobina a 25 quilômetros de Cáceres, terão a oportunidade de participar de uma das manifestações culturais mais fortes de Mato Grosso. Como ocorre há décadas, a igrejinha da Fazenda será palco da 'reza' em louvor a São Sebastião, que é comemorado amanhã, 20. Este ano, o evento promete ser emocionante, porque mas uma vez, o herdeiro da propriedade, Sebastião de Lara, se agarrou a devoção ao santo para se recuperar de uma grave doença. HISTÓRIA A história de Cáceres confunde-se com a da Fazenda Jacobina. Na opinião do historiador Natalino Ferreira Mendes, Jacobina é a “célula-mater” de Cáceres. O português Leonardo Soares de Souza, que, em 1772, requereu à Coroa as terras conhecidas como Jacobina, foi convocado, em 6 de outubro de 1778, para subscrever a ata de fundação de Vila-Maria de Portugal, hoje Cáceres. Segundo Natalino Ferreira Mendes, Jacobina foi a célula-mãe de todo o vale do rio Paraguai, já que o fundador do Firme (a região conhecida como Nhecolândia, que, hoje, pertence a Mato Grosso do Sul), Joaquim José Gomes da Silva, o Barão de Vila-Maria, era genro de João Pereira Leite que, por sua vez, era genro de Leonardo Soares de Souza. O filho de João Pereira Leite, João Carlos, partindo da Jacobina, transpôs o rio Paraguai, e fundou a fazenda Descalvado “que logo povoou de milhares de cabeças de gado”. Seria preciso um livro para dar a dimensão exata da grandeza da Jacobina no século passado. O melhor testemunho é o do francês Hercules Florence, que integrou a expedição Langsdorff ao interior do Brasil entre 1825 e 1829, e foi hóspede da Jacobina. Em seu livro “Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas”, ele conta que, em 1827, a Jacobina era “a mais rica fazenda da Província, tanto em área como em produção”. Tinha cerca de 60 mil cabeças de gado, 200 escravos e igual número de alforriados. “As roças abrangiam canaviais, plantações de mandioca, feijão, cereais e café para abastecimento dos núcleos adjacentes. Possuía, também engenho movido por força hidráulica”. A produção era tão farta que D. Ana Maria da Silva, mulher de Leonardo, contou ao viajante que mandara “seis grandes canoas cheias de víveres” ao Forte de Coimbra - distante 882 Km, via rio Paraguai - para “sustento gratuito da Guarnição”. O português João Pereira Leite vangloriava-se de possuir “tantas terras quantas o rei de Portugal”. Outro aspecto que não passou despercebido de Hercules Florence foi a força das mulheres que comandaram a fazenda após a morte dos maridos: primeiramente, a de D. Ana Maria e, anos mais tarde, a de sua filha, Maria Josepha de Jesus Leite, conhecida como a “Nhanhá” da Jacobina. Coube ao segundo filho de Maria Josepha, João Carlos Pereira Leite, ocupar o papel do último grande chefe da Jacobina. João Carlos foi o construtor do atual Cemitério São João Batista e impediu que a epidemia de varíola chegasse a Cáceres após a Guerra do Paraguai, barrando a passagem na estrada de qualquer pessoa procedente de Cuiabá. O episódio mais marcante da biografia de João Carlos está ligado ao herói da revolução baiana conhecida como Sabinada. Segundo os historiadores, Sabino Vieira, condenado ao degredo em 1838, adoeceu na vizinhança da Jacobina, e caiu nas graças do major João Carlos. “As autoridades não querendo, ou mesmo não podendo abrir luta com o major João Carlos, de bom ou mau grado fizeram vista grossa sobre o caso e em Jacobina continuou a permanecer o Dr. Sabino, exercendo com muita competência a sua profissão de médico...”, conta o historiador Estevão de Mendonça, citado por Luís-Philippe Pereira Leite no livro “Vila Maria dos meus maiores”. Sabino Vieira morreu na Jacobina em 1846. Inúmeros fatores contribuíram para alterar a trajetória da Jacobina no século XX, entre eles, o fim da escravidão em 1888, a ascensão dos engenhos de cana-de-açúcar no Nordeste e as leis trabalhistas criadas por Vargas na década de 30. Hoje, a fazenda pertence à família Lara e é um dos maiores atrativos históricos de Cáceres. Conhecer e preservar a sua história é resgatar a nossa própria história e construir a nossa identidade. (Martha Baptista)
 
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