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16/07/2009 - 00:00

Grampos complicam advogadas cacerenses

Por Jornal Oeste

Nadja Vasques Da Redação Conversas telefônicas entre os traficantes gravadas pela Polícia Federal durante a investigação que culminou na Operação Volver revelam o suposto envolvimento das advogadas Kattlen Karitas Oliveira Barbosa Dias e Lucy Rosa Silva com o tráfico de drogas interestadual e outros crimes. Entre as acusações que pesam contra Kattlen estão o fornecimento de chips de telefone celular para presos, exploração de prestígio, extorsão e envolvimento com magistrado buscando favorecimento em sentenças. Contra Lucy as denúncias são de trânsito livre no mundo do crime, corrupção ativa e tráfico de influência. (Ver trechos das transcrições na página). Ambas foram presas por mandados de prisão preventiva durante a operação, dia 10, mas 2 dias depois foram beneficiadas com liminar em pedido de habeas corpus impetrado pela Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Mato Grosso. A decisão foi do desembargador Rubens de Oliveira. Kattlen - Conforme consta na decisão do juiz Alex Nunes de Figueiredo, da 3ª Vara Criminal de Cáceres, a atuação da advogada Kattlen aparentemente extrapolava a assistência jurídica. "Ela dava o suporte necessário, do lado de fora, fazendo contatos, repassando informações sigilosas, auxiliando materialmente a quadrilha, a fim de que o tráfico de substância entorpecente manejada pelo bando pudesse ter sucesso". Em uma gravação, Kattlen recebeu uma ligação de elemento não identificado, que avisou a ela que a Polícia de Porto Estrela havia prendido "Marquinhos". O homem pede a Kattlen para avisar Nelson Ribas Ximenes da Silva, traficante preso em 2006 pela Polícia Federal de Goiânia (GO), sobre a prisão. Kattlen então avisa o traficante Nelson para que troque o chip do telefone celular e que "faça uma limpa", ou seja, para não deixar qualquer vestígio de atividade criminosa. Numa gravação seguinte, Kattlen novamente presta serviço ao tráfico, ao avisar um traficante para fugir em razão de uma ação da Polícia Federal onde provavelmente haveria mandado de prisão contra ele. Também foi descoberto que Kattlen ofereceu sua conta bancária para um boliviano de nome "Oscar" para que o mesmo depositasse nela a quantia da R$ 200 mil. "Em se tratando de boliviano, da região fronteiriça de Cáceres, e da elevada quantia, não é difícil concluir que tal valor seria oriundo do tráfico de substância entorpecente". Para o juiz, Kattlen não tem como desconhecer que a única atividade praticada por Everton Cândido Gomes da Silva, o "Pupunha", líder da organização criminosa que resultou na operação da PF, é o tráfico de entorpecentes. "E, assim mesmo, continuou aderindo à conduta delituosa, assessorando materialmente para que a atividade criminosa pudesse ser levada a efeito". Em certa ocasião, Everton precisou enviar um fax com comprovante de depósito de certa quantia em dinheiro, para compra de cocaína. A quantia foi depositada na conta de um fornecedor. Na hora de enviar o comprovante do fax, "Pupunha" procurou Kattlen, que abriu o seu escritório unicamente para o traficante utilizar o fax e enviar o comprovante de depósito feito ao fornecedor da droga. Na decisão consta que Kattlen é "contumaz" em introduzir dentro dos estabelecimentos prisionais chips para telefones celulares e ainda abastecer os celulares em poder dos presos com créditos, a fim de que eles, dentro da cadeia, pratiquem crimes. Lucy - As investigações apontam que Lucy alcançou grande penetração em determinados órgãos públicos de segurança, como delegacias e presídios, tratando diretamente com servidores públicos e trocando favores. Ela contava com o apoio do escrivão da Polícia Civil Denílson Braz de Souza, que a informava sobre a chegada de clientes em potencial na delegacia. "Ficou demonstrado também indício de crime de corrupção ativa por parte da advogada Lucy, que prometeu vantagem ao escrivão Braz para que ele retardasse ato de ofício". Os autos demonstram que Lucy conversava frequentemente com traficantes da região de Cáceres, além de possuir conhecimento sobre planos de fuga arquitetados e executados na Cadeia Pública Municipal. Na avaliação do juiz, "Lucy é dotada de extrema periculosidade". Ela responde a processo criminal na Comarca de Itumbiara (GO) pela prática dos crimes de tráfico de entorpecentes e associação para o tráfico. Na Comarca de Cáceres responde pelos crimes de calúnia, difamação e apropriação indébita (artigos 138, 139 e 168, respectivamente, do Código Penal). Diálogo gravado entre Lucy e pessoa não identificada revela que a mesma conta que uma pessoa chamada "Mi" (possivelmente um pistoleiro que foi morto há poucos dias) teria ido até a cidade de São José dos Quatro Marcos, na região de Cáceres, buscar uma arma para fazer um serviço (roubo, homicídio?), para pagar a ela (Lucy) o que estava devendo. "Um absurdo, principalmente partindo de uma advogada". Para o juiz, "Lucy mantém relações promíscuas e espúrias com policiais, transitando livremente pelo submundo da delinquência e, solta, além de não cessar com as suas atividades criminosas, principalmente agora com a fase pública do inquérito, não medirá esforços para prejudicar a coleta de provas que ainda serão feitas pela autoridade policial". Organização criminosa - Escutas telefônicas aliadas à quebra de sigilo bancário e fiscal de suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas subsidiaram a Polícia Federal para deflagrar a Operação Volver. Decisão do juiz Alex Nunes de Figueiredo, da 3ª Vara Criminal de Cáceres, revela a participação de cada uma das 38 pessoas que tiveram as prisões decretadas pelo magistrado na organização criminosa liderada por Everton Cândido Gomes da Silva, o "Pupunha". Detalha também a atuação individual para fazer a droga, que sai de Cáceres (225 km a oeste da Capital), chegar até o Espírito Santo, estado que tem se destacado nos últimos anos como receptor. (Ver quadro) Considerado perigoso, "Pupunha" anda armado e é suspeito de ter encomendado a morte de um traficante, que o delatou, e da mulher do seu comparsa, Franthesco Mathias, o "Chico", conhecida como Simone. O traficante, identificado como Sérgio Ricardo Leal Dionisio, contratado por "Pupunha" para transportar um carregamento de cocaína, foi preso e delatou o traficante. Só não foi morto porque se retratou em juízo. Ao sair da prisão, após cumprir pena por tráfico, endividado e com vontade de reaver o patrimônio, "Pupunha" retomou as atividades. Entrou em contato com os receptores do Espírito Santo e organizou um grupo, formado por traficantes, mulas e pessoas que emprestavam a conta corrente para o recebimento do dinheiro do tráfico. A maioria delas havia sido presa por tráfico, daí o nome da operação, que significa "voltar", em espanhol. Outro lado - O presidente da OAB/MT, Francisco Faiad, diz que todas as denúncias contra as advogadas Kattlen e Lucy serão levadas ao Tribunal de Ética da ordem, que vai apurar a responsabilidade delas e, após processo legal, onde elas têm direito à defesa, se for considerado que agiram de forma anti-ética poderão ser punidas administrativamente. Faiad alega que a OAB não está em defesa das advogadas, apenas ingressou com o pedido de HC porque considerou o pedido de prisão preventiva exagerado. A partir de agora, diz Faiad, elas vão responder processo na Justiça "por sua conta e risco".
 
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