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27/12/2010 - 20:25

Presos denunciam maus tratos no Cadeião de Cáceres

Por Da Redação

Um documento assinado por 326 dos 400 detentos da Cadeia Pública de Cáceres foi entregue ontem ao juiz substituto da Vara de Execuções Penais da comarca, Geraldo Fidelis. Nele, os reeducando alegam que estão sendo vítimas de maus tratos e tendo seus direitos violados. Presos que já tinham ganhado o benefício de cela livre, por exemplo, foram novamente trancafiados sem qualquer explicação. Revistas mais violentas, feitas pela Polícia Militar, começaram depois que foi encontrado um quilo de cocaína dentro da unidade prisional. Houve a troca da direção. O ex-diretor Lindomar Lira, que é agente prisional de carreira, foi substituído por Cleyton Norberto Leôncio da Silva, que veio de Cuiabá. Assim que tomou posse, o novo diretor enviou uma lista de presos condenados a serem transferidos para penitenciárias do Estado. O juiz barrou. “Foi um pedido feito às vésperas do Natal, e isso com certeza geraria revolta. Daqui só sai o preso que a Vara de Execuções determinar”. Fidelis fez uma visita à cadeia, percorrendo todas as alas e ouvindo os presos. Alguns, de outras regiões do Estado, disseram que querem mesmo a transferência. Na opinião do juiz, o “bonde”, como é chamada a transferência na linguagem dos presos, tem que obedecer critérios. “Uma das medidas que ajudam na recuperação do preso e sua reinserção na sociedade é justamente o apoio e a atenção recebida dos familiares. Trata-se de vidas humanas”. Eles reclamaram da qualidade da comida e o juiz prometeu que vai tentar melhorar a situação, assim como investigar todas as denúncias. Entre as denúncias, está a agressão sofrida por um detento, Marco Antonio, da Ala C. Bloco 2,que teria tido a perna quebrada por um policial militar, durante uma revista. Os dois, policial e detento, teriam problemas pessoais e durante uma revista, o preso, que se recuperava de uma fratura na perna, foi derrubado pelo policial, que deu uma coronhada de fuzil na perna do detento, provocando nova lesão. Há ainda a denúncia de agressão sofrida por uma agente carcerária que, ao dizer à PM que não havia necessidade de tamanha violência contra os detentos, teve gás de pimenta borrifado em se rosto. O juiz afirma que assim que recebeu o documento instaurou uma investigação. “Se comprovadas, os responsáveis serão responsabilizados criminalmente”. Com capacidade para 200 detentos, a cadeia tem hoje 440 presos. Só não assinaram o abaixo assinado os presos que estão no “castigo” ou no “seguro”. As próprias famílias cuidaram de divulgar os fatos, entregando cópias do documento às autoridades, como Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Direitos Humanos e Conselho da Comunidade. O presidente do Conselho da Comunidade, advogado Clóvis Soares, tentou, em sua fala, apaziguar a situação. “Os presos pedem a retirada do novo diretor e isso não resolve o problema”. Segundo ele, há denúncias que procedem e outras não, “havendo a necessidade de uma investigação mais rigorosa”. Os detentos insistem no pedido da troca de direção. Afirmam que desde 2006 o “cadeião” não vivia um clima tão tenso. O ex-diretor, afirmam, tinha diálogo. “Esse que entrou, fez uma reunião com representantes dos blocos e afirmou que não vê necessidade da direção ter diálogo com presos. Ele disse que a pressão arterial dele é 12 por 8 e nunca altera, ele chegou a dizer que perdeu dois filhos e nem assim sua pressão se alterou. Mostrou frieza e desprezo para conosco”-afirmam. No documento, os presos afirmam que não querem se rebelar. “Isso seria ruim para todos”. Mas afirmam que conhecem seus direitos, que estão sendo desrespeitados. “Somos seres humanos e nossa pena é a privação da liberdade, não ser tratados como animais”. O comandante da Polícia Militar, coronel Jadir Metelo da Costa, e o novo diretor, que está há apenas uma semana no cargo, negam a violência. “Eles estão reclamando porque perderam regalias. Tiramos várias televisões, até aparelhos de Playstation e celulares durante as revistas, além da droga encontrada”. As famílias, ao fazer a distribuição do documento, informaram que a realidade de drogas dentro da cadeia existe em todas as cadeias, “e não são “só” familiares que levam, pelo contrário. Mas não é justo que porque uma minoria trafique dentro da cadeia, a maioria pague o preço. Se vai haver mesmo uma investigação séria, então que se chegue a esses traficantes. Porque tem gente lá tentando ficar em paz, pagar a pena e voltar para a família”.
 
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